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sábado, 14 de setembro de 2013

A Grande Arte da Luz e da Sombra - Arqueologia do Cinema.



O livro A grande arte da luz e da sombra – arqueologia do cinema, de Laurent Mannoni é indicado a todos os que tem interesse em aprofundar sobre a história do cinema muito além do glamour que a indústria cultural divulga e ampliar, além das fronteiras e ideologias, as verdadeiras contribuições para a gestação, nascimento e crescimento da sétima arte. 
(MANNONI, Laurent. A grande arte da luz e da sombra – arqueologia do cinema. São Paulo: SENAC  São Paulo: UNESP, 2003.)

Essa obra nos mostra que foi no século XIX que as tentativas (e sonhos) de congelar momentos presentes de alguma situação/fato puderam se concretizar (inicialmente) a partir da criação/desenvolvimento técnico e evolução da fotografia, que serviu para registrar movimentos dos animais e ações da natureza e identificar (e distinguir) as características únicas do indivíduo. Mas essa técnica que vinha sendo buscada e pretendida a muitos anos/séculos pelos pesquisadores e estudiosos de séculos anteriores  - desde o XVI com Christian Huyigens, Athanasius Kircher, Jacques Charles, Étienne-Gaspar ‘Robertson’, Joseph Plateau, Pierre Séguin, Henry-Désiré Du Mont, Edward James Muybridge, Étienne-Jules Marey, -Emile Reynaud, Thomas Edison, Max Skaladanovsky entre tantos outros – não foi o único marco da modernidade que ocorreu/transmutou-se na virada do século XIX para o XX, mas veio reforçada simbolizadas/exemplificadas na mudança da paisagem visual e na velocidade/rapidez no cotidiano. 
É possível percebermos ainda que numa leitura em outro autor (GUNNING, 2004) que  é justamente no contexto novo, e de mudanças amplas, nos modos de trabalhar e produzir  com predomínio (e pressão) do relógio; nos modos de viver com a concentração de pessoas em boulevares para conhecer e buscar o moderno/novo/diferente; e o desenvolvimento de novas idéias no modo de produção capitalista com influência da ciência administrativa de F. Taylor e a linha de montagem de H. Ford, que  “O cinema instalou-se nessa rede de circulação como tecnologia e indústria e também como nova forma de experiência. Como indústria de entretenimento produzida em massa, com um sistema nacional de distribuição em 1909, o comércio cinematográfico explorou as redes de estrada de ferro antes percorridas pelos circuitos de vaudeville e trens de circos. Os primeiros gêneros do cinema, em especial aquelas formas aparentemente diversas como documentários de viagens e filmes de truques, visualizaram uma experiência moderna de alteração rápida, pela apresentação de visões estrangeiras, de locações remotas, ou pela criação, por meio da fotografia trucada, de uma sucessão de transformações que deslocavam a identidade estável de objetos e atores”. (GUNNING, 2004, p.34)
“Mas os registros feitos desses momentos através dos desenhos em placas ou papéis e principalmente pela fotografia compõem o novo panorama da segunda modernidade do capital e encaixa/classifica cada aspecto em seu lugar e importância pois passa a ser um olhar único dentro de um todo interrelacionado. E esse lugar importante e essencial que o cinema ocupou na virada do século XIX para o XX e ainda ocupa atualmente foi antecipado pela “comercialização das fotografias fixas, em especial o cartão-postal e o estereoscópio” (GUNNING, 2004, p.34) 

Esse cinema de nada seria como tal sem os avanços e ‘loucuras’ de abnegados nessa tentativa de parar um tempo ou registrá-lo para a eternidade e gerações futuras, e assim a utilidade da fotografia fixa foi além do uso policial para identificação e registro criminal de representar ficções de situações cotidianas em estúdios criados com esse propósito de moving pictures. É aqui que os estudos de Edward James Muybridge (1830-1904) e Ètienne-Jules Marey (1830-1904) para análise de movimentos corporais tornaram-se importantes e somaram para o avanço da fotografia no caminho do cinematógrafo e sua apresentação pública paga no final do século XIX. 
Foram vários os estudiosos (abnegados) que dedicaram suas vidas – desde a câmera escura e lanterna mágica até antes do cinematógrafo -  a  pesquisa com o intuito de manipular as imagens representativas da natureza em toda a sua imensidão e criar instrumentos ou aperfeiçoar técnicas que possibilitassem isso. Dentre esses está Emily Reynaud (Charles-Emily Reynaud-1844-1918) que é conhecido e citado, na maioria das vezes, como o inventor do praxinoscópio ou o pai da animação fez muito mais pelo aparecimento e pela evolução dessa sétima arte do que os sempre citados ‘inventores’ ou comerciantes das imagens em movimento. Foi devido a sua dedicação e autodidatismo que passou pelas lições e aprendizagens em montagem de instrumentos óticos e científicos, desenho industrial, aprendeu a fazer placas de projeção animadas e pinturas em vidro – além de estudar ciência e latim – e a promoção de cursos de fotografia e de ciência física que conquistou os fundamentos necessários para investir e fazer avançar as pesquisas sobre moving pictures.
Importante citar que o livro destaca ainda que uma das grandes contribuições de Reynaud foi a invenção do praxinoscópio -  cujo funcionamento é tão bem descrito no livro - (1876-1877) e com este o aperfeiçoamento das técnicas de projeção  das imagens que avançou para o teatro óptico – ampliação do primeiro aparelho – que representou um avanço enorme nas projeções animadas. O pesquisador Mannonni (2003, p. 374-378) afirma com clareza e defesa  que “Reynaud ultrapassou todos os seus antecessores em qualidade técnica e artística. Como Robertson antes dele, mas ainda melhor, oferecia longas sessões de projeção em cores, animadas e sonoras.[...] Reynaud não é, portanto, um “precursor”; o que ele fez foi cinema de verdade, tanto como espetáculo como “escritura do movimento.” Mas Reynaud não foi o único personagem/estudioso de destaque e nem a Europa  o único continente que corria atrás dessa busca de controle dos movimentos em imagens. 
É no contexto do século XIX que as  pesquisas anteriores foram coroadas e confluíram para a invenção do cinema, mas não sem ter ocorrido uma ‘corrida’ (final) entre os empresários-inventores e estudiosos para ver quem conseguia se consolidar (com sua invenção) na efetivação de uma série de representações públicas pagas (as PPPP). Nesse contexto apareceram os aperfeiçoadores ou ‘artesãos de última hora’ (MANNONNI, 2003) dos inventos conhecidos e comercializados e das técnicas já existentes, como Georges Demenÿ, os irmãos Otway e Gray Lathan (diretores da KiKinetoscope Exhibition Company – uma das empresas que explorou a invenção de Thomas A. Edison), Léon Gaumont, George Willian  de Bedts, os irmãos Pathé com a fundação da indústria/império cinematográfico com o nome Pathé Frères e os irmãos Auguste e Louis Lumiére (como industriais de fotografia). 
Para encerrar é importante destacar ainda que para muitos estudiosos do cinema como Araújo (1995), Bergan (2007), Sabadin (2009), Sadoul (1963) entre outros a data de  28 de dezembro de 1895 é o grande marco do início do cinema com a apresentação de 20 minutos de imagens em movimento feita pelos irmãos Lumiére no Salão Indiano Grand Café do Boulevard dês Capucines, em Paris considerada a primeira projeção pública paga (PPPP). Enfim é ler para aprender, compreender, para se deleitar e enxergar além da tela. 
Mannonni (2003, p. 57) conta que “A lanterna “mágica” representa a mais duradoura, a mais inventiva, a mais artística das idéias-mestras que antecederam o nascimento do cinema”.

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