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quarta-feira, 7 de junho de 2023

Reflexão como presente aos seguidores: TV, escola e cinema juntos...?

 Olá pessoal!!!! Mais um presente aos seguidores do blog: "TV, escola e cinema - uma integração possível e necessária". 

(Fonte: Canal 6 Editora)


(...) O texto apresenta informações, reflexões e fontes bibliográficas amplas que permitem um aprofundamento na compreensão da relação possível e intricada, até, entre as três ferramentas de comunicação ainda muito usada na atualidade. Veja esse trecho: 
Se consideramos a criança  um sujeito-receptor, então ela estará se formando a partir dessas informações, e “adotando modos de vida – ser e estar – em sociedade” (FOULCAULT apud FISCHER, 2005, p. 3). 

Acessem parte do texto:

(...) Outro elemento importante nessa análise é a televisão que na maioria das vezes exerce uma influência (como o cinema) sobre o telespectador  em seus hábitos, comportamentos, ações e pensamentos. 

Até a expansão da televisão, o cotidiano de fim de tarde e noite ou dos finais de semana ou feriados eram de conversas em família, com visitas e com vizinhos, fossem dentro de casa ou nas calçadas. Com a televisão sendo popularizada (seu consumo) e entrando nas casas, as conversas foram sendo substituídas por ouvir e ver os programas e mesmo pelo silêncio total; e na acelerada vida moderna (ou pós-moderna) após 1970 e de 1980 em diante, esta veio a substituir, como faz até hoje na maioria dos lares, a ausência dos pais e outros familiares na educação e “cuidados” com as crianças e jovens. Foi a dita chegada da “babá-eletrônica”, que entretia e entretém nos vários momentos em casa e cria formas de comportamento baseados em estereótipos que o veículo transmite para a formação do espectador, passando (mostrando) estilos de vida, valores e atividades intelectuais segundo um padrão muitas vezes fora da realidade brasileira mas muito próximos dos EUA.

Pesquisas, estudos e artigos[1] alertam que é preciso ter cuidado com o uso da televisão em casa, mas também afirmam que ela não tem o poder completo de hipnotizar as crianças robotizando-as desde sua tenra idade até sua fase adulta, mas pode criar condições que culminam com atos violentos, como roubos, agressões físicas ou verbais.

A televisão é um instrumento que serve, em grande parte, para representar e divulgar a ideologia dominante, lançar modelos de comportamento, de relações e de ações em grupo ou individuais que interessam e são necessários a essa estrutura. Os que temem, não concordam ou não aceitam os conteúdos veiculados podem ver (conhecer) alguns elementos importantes, como o conhecimento das leis que orientam sobre os direitos das crianças e adolescentes, a existência de um mediador e, até, um controle externo sobre essa mídia.

Um fator que nos interessa aqui é o papel da escola diante da situação descrita acima, ou seja, o papel da televisão e, principalmente, de identificação dos elementos predominantes nos programas de televisão, em especial, os desenhos animados. Embora possam parecer ingênuos e meramente de entretenimento, carregam e apresentam o que é chamado de fundo moral, e coisas (conceitos) além da moralidade dentro da abordagem de um tema ou foco apresentado. A escola pode agir como mediador além da família? Como?

As pesquisadoras Mendonça, Mendes e Souza (2005) após levantamentos realizados, defendem que o desenho animado pode ser usado como recurso pedagógico dentro de um contexto para contribuir na formação da criança e dos adolescentes (acréscimo do autor). Essa criança enquanto ser, é a mesma que – considerando datas e períodos diferentes –, em outros tempos, como dissemos anteriormente, podia se reunir com os colegas para brincadeiras enquanto seus pais e vizinhos conversavam, mas que foi assaltada pelos encantos da televisão. Em casa, as crianças recebem informações e, na maioria das vezes, as repetem ou “[...] recriam de acordo com o seu mundo, mas incorporam o que vêem e ouvem” (apud MENDONÇA; MENDES; SOUZA, 2005, online, p. 2). 
(Fonte: TV, escola e cinema - uma integração possível e necessária, Cláudio Pinto)


[1] Citamos alguns dos estudos sobre o tema mas temos consciência da existência de vários outros com visões diferentes: “Entre quatro paredes”(COSTA,2002), “Televisão, Criança e Imaginário e Educação: Dilemas e Diálogos” (PACHECO,1999);  “Crianças e televisão: uma abordagem semiótica”( HODGE &TRIPP, 1986); “A tevê e a criança que te vê “ (REZENDE & REZENDE,1993); “Televisão & Educação- fruir e pensar TV” (FISCHER, 2001).


sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Presente para os SEGUIDORES do BLOG

 Olá pessoal!!!

Demoramos para nova postagem apesar das LIVES,  dos ENCONTROS,  das PALESTRAS  e alguns CURSOS GRATUITOS que rolaram nas redes sociais. E depois desse tempo todo não dava pra ser qualquer postagem, concordam? 

Não trouxemos uma animação mas algumas visões sobre algumas animações e uma dica de como o contexto histórico delas podem ser encontradas quando nos utilizamos das Ciencias Humanas e suas tecnologias, como falam os especialistas em educação escolar.  

Mas essa postagem é todo (a) qualquer cinéfilo por desenhos animados. Então, brindem sua leitura com duas ideias e aproveitem o texto. 

(Fonte: https://www.oficinadanet.com.br/disney-plus/36158-disney-ordem-correta-para-assistir-os-filmes-da-pixar. Acesso em: 23, set, 2021)

O capítulo 3 do livro O mundo do trabalho através do cinema de animação – volume 1

CINEMA DE ANIMAÇÃO: ENTRETENIMENTO E IDEOLOGIA DO CAPITAL NA FORMAÇÃO INFANTO-JUVENIL[1]


A intenção desse capítulo é propor reflexões iniciais sobre as obras de animação, particularmente as produzidas nos Estados Unidos da América (EUA) e suas mensagens a certo tipo de público: infanto-juvenil, na virada do século XX para o XXI.

Quando pensamos em cinema de animação ou no consumo dessa forma de produção é comum imaginar que este é um dos poucos momentos que a família - todos em qualquer idade – possa aproveitar instantes de lazer e, às vezes, cultura com censura livre e sem preocupações. Mas podemos mesmo ter consentimento inanimado diante do animado?  Como e o que as produções cinematográficas, em particular as de animação, têm apresentado sobre o mundo do trabalho e suas relações para as crianças? É possível desvelar nos conceitos abordados e apresentados nessas obras os interesses e objetivos na formação de um tipo de cidadão? Que papel e importância devem ser dadas ao cinema de animação dentro da História do Cinema? Esse tipo de produção está voltado ao lazer ingênuo e despretensioso ou pode ser visto dentro de um contexto histórico com influência social, política, ideológica e cultural?

São inúmeros os questionamentos que podemos fazer na busca de compreender a dialética do entretenimento e a mensagem explícita e, sobretudo, implícita que invade as relações sociais na sua dimensão afetiva e particular, mais, especificamente, nos lares e, no caso do cinema de animação, na formação infanto-juvenil, já que este atua como um importante substrato cultural e até mesmo em modelos. É comum observar os comportamentos de crianças e adolescentes embasados em algum modelo de “herói”, construído a partir da interiorização de caricatura de determinados personagens.

Assim quando o espectador - que preferimos usar o termo sujeito-receptor – pretende de forma consistente e embasada realizar uma análise critica persuasiva desse tipo de obra deve ampliar seu conhecimento e olhar sobre cinema (incluindo o de animação)  envolvendo sua história, produções, época, custos, gêneros, etc. para que se instrumentalize dos elementos que possibilitem a análise e síntese, e dessa forma se afaste do perigo da manipulação.

Quando falamos ou pensamos em cinema, em geral, a primeira imagem que vem a mente da maioria é o tapete vermelho, holofotes, paparazzos, fotógrafos de revistas e jornais, fãs e, entre outros, o glamour do mundo da fama. E é isso mesmo que ocorre/existe numa indústria liderada por Hollywood que além de monopolizar o mercado de entretenimento e produção cultural e fílmica, procura padronizar vidas e sonhos. 

Mas o cinema é muito mais que lucro, deslocalização/relocalização nas produções, vendas de réplicas de produções, informática (internet), DVDs... e sua utilidade social é dispare e discutível.

O filme tem se tornado um importante mecanismo tanto para a internalização de determinada ideologia quanto para o seu questionamento ou desvendamento. Interessa destacar o seu uso como interpelação, explicação ou contra-posição a determinada realidade. Nesse sentido, autentica experiência brasileira vem sendo desenvolvida pelo Professor Giovanni Alves, da UNESP de Marília, que por meio da análise crítica de filmes, tem dissecado os dramas que dissertam acerca do mundo do trabalho e mostrado como é possível fazer o uso do cinema no processo de formação acadêmica e também de lideranças sociais e políticas.  Dessa maneira, a partir da participação no projeto Tela Crítica[1], desenvolvido por Alves, temos trabalhado em sala-de-aula, especificamente, com alunos do Ensino Médio, as análises de filme, que versam sobre os temas pertinentes ao mundo do trabalho capitalista na formação e preparo para o mercado de trabalho. Buscamos identificar e discutir -numa perspectiva crítica - os conceitos ideológicos apresentados (e impostos) pelos filmes, que apesar de voltados ao público infanto-juvenil, são carregados da ideologia da organização e gestão do trabalho e, portanto, corroboram para a hegemonia capitalista. Sendo assim, compreender este mecanismo midiático e propor uma ação pedagógica crítica além dos programas curriculares adotados pela maioria das instituições escolares voltados para o mundo do trabalho capitalista pode colaborar para a necessária emancipação do indivíduo frente ao sistema atual.

Deriva dessa experiência o interesse em pesquisar e discutir o papel do cinema de animação frente o publico infanto-juvenil, repensar o sentido conceitual moral e ético das obras de animação no nosso cotidiano, que chegam a nós de várias formas. Assim, propomos  olhar os conceitos do mundo do trabalho muito além da adaptação e da acomodação para o mercado de trabalho, antes trata de identificarmos a mensagem fílmica como estratégia utilizada para interiorização dos mecanismos usados pela nova gestão e organização do trabalho como o trabalho em equipe e o empreendedorismo.

Sendo assim repensar o sentido conceitual moral e ético das obras de animação no nosso cotidiano, que chegam a nós de várias formas, tem como proposta olhar os conceitos do mundo do trabalho muito além da adaptação e da acomodação para o mercado de trabalho... com outro ponto de vista além da resiliência e da resignação profissional e existencial.  

(ATENÇÃO PESSOAL: não postamos na íntegra por ser extenso para um blog, mas que tiver interesse pode deixar seu email nos comentários ou entrar em contato com clauvieira8@yahoo.com.br)



[1] Nota: Fizemos um breve comentário explicativo sobre esse projeto na Introdução e aqui retomamos e aprofundamos o Projeto Tela Crítica organizado pelo professor da UNESP.  



[1] Este capítulo já foi publicado (versão original de Ensaio) na Revista de Sociologia e Cinema disponível no site www.telacritica.org.br .







sexta-feira, 4 de julho de 2014

Trinta metros do Muro de Berlim removidos para acesso a condomínio de luxo.

Mesmo depois dos protestos, uma empresa alemã decidiu continuar com a remoção de parte da histórica estrutura na capital alemã.
Uma empresa de construção civil alemã enfrentou diversos protestos no início deste mês por querer transferir parte do Muro de Berlim para um jardim. A deslocação de perto de 30 metros da histórica estrutura foi justificada com a construção de uma estrada de acesso a um futuro condomínio de luxo. Esta quinta-feira, ainda de madrugada, foi feita a remoção dos últimos cinco metros.
Esta não foi a primeira vez que uma decisão semelhante foi tomada, mas deixou os berlinenses indignados por ter como único fim a construção de um acesso a um complexo de edifícios de luxo junto ao rio Spree.
No início do mês, a empresa de construção civil tinha já conseguido retirar 23 metros do muro, mas os protestos dos habitantes fizeram com que o presidente da câmara pedisse para negociar uma alternativa com a empresa responsável pelas obras. Depois de quatro semanas de negociações sem resultados, o responsável pelo projeto decidiu avançar. E avançou “às escondidas”, como disse o líder de um grupo de artistas da East Side Gallery, nome dado à porção de muro de onde foi retirada a secção. “Não acredito que vieram aqui à noite às escondidas. Só vêem dinheiro. Não entendem a relevância histórica e a arte deste sítio”, acrescentou Kani Alavi, citado pelo The Guardian.
A remoção de quase cinco metros do muro foi feita na madrugada de quinta-feira, pelas 5h locais (4h em Lisboa), com a proteção de cerca de 250 polícias alemães. “Se tiram daqui o muro, estão a tirar a alma da cidade”, disse um dos moradores da zona.
O Muro de Berlim começou a ser demolido a 9 de Novembro de 1989. O que restou foi pintado por cerca de 120 artistas. A East Side Gallery é o pedaço de muro mais comprido do que resta do original, com 1,3 quilômetros de comprimento, e é considerada uma obra de arte. Hoje, é o segundo monumento alemão mais visitado em Berlim.

(Fonte: RODRIGUES, Pedro Nunes. Disponível aqui)

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Ministro japonês diz que idosos doentes devem “morrer rapidamente” para o bem da economia.


Os custos dos tratamentos que prolongam a vida a pessoas com doenças sem recuperação são desnecessários para a economia japonesa, defende Taro Aso.

O ministro já veio admitir que as suas declarações foram desapropriadas KIM KYUNG-HOON/REUTERS (Fonte da imagem: Público)

O ministro japonês das Finanças, em funções há cerca de um mês, defende que os cuidados de saúde para doentes mais idosos significam um custo desnecessário para o país e que a estes pacientes deveria ser permitido morrer rapidamente para aliviar a pesada carga financeira que representa o seu tratamento na economia japonesa.
 “Que Deus não permita que sejam forçados a viver quando querem morrer. Eu iria acordar sentindo-me incrivelmente mal por saber que o tratamento era totalmente pago pelo Governo”. A frase de Taro Aso, citada pelo Guardian, foi proferida durante uma reunião do conselho nacional dedicada às reformas da segurança social e ao orçamento para a saúde. As declarações tornam-se ainda mais polêmicas quando o ministro defendeu que “o problema só será resolvido” se deixar os idosos “morrer rapidamente”.
Num país com quase um quarto de uma população de 128 milhões de pessoas com mais de 60 anos, Taro Aso, de 72 anos, acrescenta que vai recusar qualquer assistência médica se ficar gravemente doente. “Não preciso desse tipo de cuidados”, disse, citado pela comunicação social japonesa, segundo a qual o ministro terá dado indicações à família para que não receba qualquer tratamento que lhe prolongue a vida.
Após tornadas públicas as declarações, Taro Aso terá tentado explicar-se aos jornalistas. O ministro das Finanças admitiu que utilizou uma linguagem “desapropriada”, mas sublinhou que apenas se referia às suas opções pessoais. “Disse o que pessoalmente acredito e não o que deveria ser o sistema nacional de saúde”
 Esta não é a primeira vez que o responsável japonês se vê envolvido em polêmica. No passado, fez piadas sobre doentes de Alzheimer e disse que gostaria que o Japão fosse um país tão bem-sucedido que “os judeus mais ricos ali quisessem viver”. (Fonte: Público)

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Animação do Muro de Berlim - Entre Muros - A Fronteira Interna da Alemanha.

Durante 28 anos, de 1961 a 1989, a população de Berlim, ex-capital do Reich alemão, com mais de três milhões de pessoas, padeceu uma experiência ímpar na história moderna: viu a cidade ser dividida por um imenso muro. Situação de verdadeira esquizofrenia geopolítica que cortou-a em duas partes, cada uma delas governada por regimes políticos ideologicamente inimigos. Abominação provocada pela guerra fria, a grosseira parede foi durante aqueles anos todos o símbolo da rivalidade entre Leste e Oeste, e, símbolo da disputa entre as potências EUA e URSS.
Berlim fora conquistada pelo Exército Vermelho (URSS) em maio de 1945. De comum acordo, acertado pelo tratado de Yalta e confirmado pelo de Potsdam, entre 1944-45, não importando quem colocasse a bota ou a lagarta do tanque por primeiro na capital do III Reich, comprometia-se a dividi-la com os demais aliados. Desta maneira, apesar dos soviéticos tomarem antes a cidade, e também um expressivo território ao seu redor, tiveram que ceder o lado ocidental dela para os três outros membros da Grande Aliança, vitoriosa em 1945. Assim Berlim viu-se administrada, a partir de 8 de maio de 1945, em quatro setores: o russo, majoritário, o americano, o inglês e o francês. Com o azedar da relação entre os vencedores, em 1948 as quatro zonas reduziram-se a duas: a soviética e a ocidental.
Na manhã bem cedo do dia 13 de agosto de 1961, a população de Berlim, próxima à linha que separava a cidade em duas partes, foi despertada por barulhos estranhos, exagerados. Ao abrirem suas janelas, depararam-se com um inusitado movimento nas ruas a sua frente. Vários Vopos, os milicianos da RDA (República Democrática da Alemanha), a Alemanha comunista, com seus uniformes verde-ruço, acompanhados por patrulhas armadas, estendiam de um poste a outro um interminável arame farpado que alongou-se, nos meses seguintes, por 37 quilômetros adentro da zona residencial da cidade. Enquanto isso, atrás deles, trabalhadores desembarcavam dos caminhões descarregando tijolos, blocos de concreto e sacos de cimento.

Ao tempo em que algum deles feriam o duro solo com picaretas e britadeiras, outros começavam a preparar a argamassa. Assim, do nada, começou a brotar um muro, o pavoroso Mauer, como o chamavam os alemães. 
(Fonte: EducaTerra)

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Relembrando Chernobyl.

Até hoje é impossível saber precisamente o número de mortes causado pelo acidente nuclear.
O acidente no reator nuclear de Chernobyl, ocorrido em 26 de abril 1986, foi o mais severo da indústria de geração elétrica nuclear. O reator foi destruído no acidente e uma quantidade considerável de material radioativo foi liberada para o meio ambiente. O acidente causou a morte, dentro de algumas semanas, de 30 trabalhadores e ferimentos de radiação a mais de uma centena de outros.
Em resposta, as autoridades evacuaram, em 1986, cerca de 115.000 pessoas de áreas em torno do reator e, posteriormente, cerca de 220 mil pessoas de Belarus, da Rússia e da Ucrânia foram reassentadas.
O acidente provocou rupturas sociais e psicológicas graves nas vidas dessas pessoas afetadas e grandes perdas econômicas em toda a região. Grandes áreas dos três países foram contaminadas com materiais radioativos e pequenas quantidades de radionuclídeos foram detectadas em todos os países do hemisfério norte.
À época do acidente, especialistas previram até 40.000 mortes por cânceres decorrentes da radiação liberada para as regiões afetadas. Recentemente o 27 º aniversário do desastre foi lembrado, cabendo a questão: quantas pessoas realmente morreram devido à radiação de Chernobyl até agora?
Nós provavelmente nunca saberemos exatamente. Isso se deve, em parte, ao fato que 40.000 mortes por câncer são menos de 1% da mortalidade por câncer esperada na população afetada, independentemente do acidente. Essas mortes são indetectáveis por estudos epidemiológicos. Mesmo que não fossem, a ciência não poderia dizer se um tipo específico de câncer foi induzido pela radiação ou por qualquer outra causa.
Uma exceção é o câncer de tireoide, doença muito rara em crianças, cujo número de casos disparou para quase 7.000 na Belarus, Rússia e Ucrânia desde o acidente até 2005. Não há dúvida de que a radioatividade de Chernobyl foi causa desses casos de câncer, que levaram a cerca de uma dezena de mortes. Também sabemos que duas pessoas morreram no momento da explosão do reator e mais de 100 pessoas, a maioria bombeiros que desconheciam os perigos a que estavam expostos, receberam doses altas o suficiente para causar a síndrome de radiação aguda. Destes, 29 morreram dentro de poucos meses após o acidente, seguidos de mais 18 mortes ao longo dos anos, quase todos por leucemia.
Para além desses tristes casos, exacerbadas controvérsias sobre o número de mortes de Chernobyl persistem. O fato concreto é que para a grande maioria das populações mais afetadas, o desastre causou doses de radiação equivalentes a algumas tomografias computadorizadas. A níveis tão baixos, os efeitos da radiação sobre a saúde, se ocorrerem, são em longo prazo e essencialmente aleatórios.
Como o decaimento atômico que gera a radiação é impossível de ser previsto para um átomo individual, os efeitos da radiação sobre a saúde são também aleatórios. Uma determinada pessoa que viveu na zona de afetada pode ou não possuir, por exemplo, um átomo de césio-137 que está em silêncio imitando o potássio em alguma célula do corpo. O átomo pode ou não liberar radiação que venha atingir o DNA e transforma-lo de tal forma que possa levar ao câncer.
As previsões de mortalidade por câncer de Chernobyl são baseadas em fórmulas derivadas de estudos de populações japonesas sobreviventes das bombas de Hiroshima e Nagazaki, submetidas a doses muito mais elevadas. As fórmulas tomam a quantidade total de radiação liberada pelo desastre de Chernobyl, distribuem-na como dose por toda a população afetada, e multiplicam esse valor por um fator de risco, extrapolado desses estudos, para chegar a um número de mortes.
Os especialistas divergem nos fatores de risco utilizados, mas todas as fórmulas assumem que os efeitos para a saúde em longo prazo, principalmente ocorrência de leucemia, que é o câncer mais comumente causado pela radiação, são diretamente proporcionais à dose. Os especialistas também divergem quanto à existência ou não de um limiar de dose mínima abaixo da qual não ocorrem mais efeitos e, em existindo, qual seria seu valor.
Os verdadeiros efeitos sobre a saúde da radiação a baixo nível de dose não podem ser exatamente conhecidos, porque qualquer estudo para identificá-los teria que incluir um número incrivelmente grande de pessoas. Além disso, não é claro que os efeitos da intensa exposição à radiação imediatamente após as explosões de armas nucleares representem os mesmos perigos das baixas, mas crônicas, doses decorrentes de Chernobyl.
Existem inúmeras evidências científicas de que os mecanismos de reparação celular podem compensar as doses mais baixas de exposição. Isso explica porque não foi detectado o aumento previsto para casos de leucemia nas populações expostas à nuvem radioativa de Chernobyl.
Dada todas as incertezas, as estimativas atuais do número de mortes causadas por Chernobyl são muito diferentes das 40.000 inicialmente previstas. Em 2005, o Comitê Científico sobre Efeitos da Radiação Atômica da Organização das Nações Unidas (UNSCEAR) estimou a ocorrência de 4.000 mortes, ainda considerando a hipótese linear sem limiar para a relação dose-efeito, mas atualizando os fatores de risco de acordo com os avanços científicos na área.
Três anos mais tarde, no seu relatório de 2008, o Comitê passou a adotar como limite mínimo a dose equivalente a quatro tomografias computadorizadas abdominais, devido a incertezas inaceitáveis para essa faixa de doses tão baixa. Isso fez com que a previsão de número de mortes fosse ainda mais reduzida. Os críticos, tais como Greenpeace, responderam com novas previsões de 93 mil mortes por câncer causadas por Chernobyl.
Na realidade, as diferenças nos números decorrem das hipóteses de cálculo adotadas para a relação dose-efeito: o Comitê da ONU passou a adotar a hipótese linear com limite mínimo, pois após décadas de estudos, nunca se conseguiu encontrar evidências científicas de que existam realmente efeitos para doses muito baixas.
Os militantes antinucleares rejeitam esse fato e continuam fazendo cálculos com a hipótese de inexistência de limite e fatores de risco superdimensionados, em que pesem as inúmeras evidências contrárias, demostradas pela medicina nuclear e pelos estudos epidemiológicos, particularmente em regiões com altos níveis de radiação natural, como é o caso brasileiro das praias de areias monazíticas ao sul do Espírito Santo.
Na verdade, trata-se da discussão de princípios epistemológicos: a partir de que ponto a ausência de evidência pode ser assumida na prática como evidência de ausência? Em outras palavras, pode-se provar cientificamente que algo existe, mas é praticamente impossível provar que algo não existe. Enquanto isso, a discussão continua a se prestar aos mais variados vieses da subjetividade e dos interesses humanos.
Leonam dos Santos Guimarães é doutor em engenharia e membro do Grupo Permanente de Assessoria em Energia Nuclear do Diretor-Geral da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica).
(Fonte: Opera Mundi)

terça-feira, 3 de junho de 2014

O Direito ao Delírio. - Eduardo Galeano.

Está a nascer o novo milênio  Não dá para levar o assunto demasiado a sério: ao fim e ao cabo o ano 2001 dos cristãos é também o ano 1379 dos muçulmanos, o 5114 dos maias e o 5762 dos judeus. Além disso, o novo milênio nasce no primeiro de Janeiro por obra e graça de um capricho dos senadores romanos, que em determinada altura decidiram romper com a tradição que mandava celebrar o ano novo no começo de cada primavera.
A contagem dos anos da era cristã provém ainda de outro capricho: um belo dia o papa de Roma decidiu datar o nascimento de Jesus, mesmo que ninguém pudesse precisar então em que data tinha ele nascido. O tempo ri-se dos limites que inventamos para construirmos a ficção de que ele nos obedece, mas o mundo inteiro celebra e teme essa espécie de fronteira. Milênio vai, milênio vem, a ocasião é, assim, propícia para que oradores de inflamada verve possam perorar acerca do destino da humanidade, e para que os arautos da ira de Deus possam anunciar o fim do mundo. O tempo, esse, lá continua sossegado a sua caminhada ao longo da eternidade e do mistério. Verdade seja dita, porém, a uma data assim, por mais arbitrária que ela seja, não há quem resista, e ninguém escapa afinal à tentação de tentar saber como será o tempo que será.
Vá-se lá saber porém como será. Possuímos uma única certeza: no século vinte e um, ainda que possamos estar aqui, seremos todos gente do século passado e, pior ainda, seremos gente do passado milênio  Não podemos todavia tentar adivinhar o tempo que será sem que tenhamos, pelo menos, o direito de imaginar aquele que queremos que seja. Em 1948 e em 1976, as Nações Unidas proclamaram extensas listas de direitos humanos, mas a imensa maioria da humanidade não tem senão o direito de ver, de ouvir e de calar. Que tal se começássemos a exercer o nunca proclamado direito de sonhar? Que tal se delirássemos por um pouco? Vamos então lançar o olhar para lá da infâmia, tentando adivinhar outro mundo possível.
No próximo milênio o ar estará limpo de todo veneno que não venha dos medos humanos e das humanas paixões. Nas ruas, os automóveis serão esmagados pelos cães. As pessoas não serão programadas por computador, nem compradas no supermercado, nem espiadas por televisor. O televisor deixará de ser o membro mais importante da família e será tratado como o ferro de engomar ou a máquina de lavar a roupa. As pessoas trabalharão para viver, em vez de viverem para trabalhar. Será incorporado nos códigos penais o delito de estupidez, que cometem todos aqueles que vivem para ter ou para ganhar, em vez de viverem apenas para viver, como canta o pássaro sem saber que canta e como brinca a criança sem saber que brinca. Em nenhum país serão presos os jovens que se recusem a cumprir o serviço militar. Os economistas não chamarão nível de vida ao nível de consumo, nem chamarão qualidade de vida à quantidade de coisas. Os cozinheiros deixarão de considerar que as lagostas gostam de ser cosidas vivas. Os historiadores deixarão de crer que existiram países que gostaram de ser invadidos. Os políticos não acreditarão mais que os pobres adoram comer promessas. A solenidade deixará de se julgar uma virtude e ninguém tomará a sério nada que não seja capaz de assumir. A morte e o dinheiro perderão os seus poderes mágicos, e nem por disfunção ou por acaso será possível transformar o canalha em cavalheiro virtuoso. Ninguém será considerado herói ou louco só porque faz aquilo que acredita ser justo, em vez de fazer aquilo que mais lhe convém. O mundo já não se encontrará em guerra contra os pobres, mas sim contra a pobreza, e a indústria militar não terá outro caminho senão declarar a falência. A comida não será uma mercadoria, nem a comunicação um negócio, porque a comida e a comunicação são direitos humanos. Ninguém morrerá de fome porque ninguém morrerá de indigestão. As crianças de rua não serão tratadas como se fossem lixo, porque não haverá crianças de rua. Os meninos ricos não serão tratadas como se fossem dinheiro porque não existirão meninos ricos. A educação não será um privilégio apenas de quem possa pagá-la. A polícia não será a maldição daqueles que não podem comprá-la. A justiça e a liberdade, irmãs siamesas condenadas a viverem separadas, voltarão a juntar-se, bem unidas ombro com ombro. Uma mulher, negra, será presidente do Brasil e outra mulher, negra também, será presidente dos Estados Unidos da América; uma mulher índia governará a Guatemala, e outra o Peru. Na Argentina, as loucas da Praça de Maio serão um exemplo de saúde mental, porque se negaram a esquecer em tempos de amnésia obrigatória. A Santa Madre Igreja corrigirá os erros das tábuas de Moisés, e o sexto mandamento mandará festejar o corpo. A Igreja ditará também outro mandamento que havia sido esquecido: "Amarás a natureza, da qual fazes parte". E serão reflorestados os desertos do mundo e os desertos da alma.
Os desesperados serão esperados e os perdidos serão encontrados, porque eles são aqueles que desesperaram de tanto esperar e os que se perderam de tanto procurar. Seremos compatriotas e contemporâneos de todos os que tenham desejo de justiça e desejo de beleza, tenham nascido onde tenham nascido e tenham vivido quando tenham vivido, sem que importem as fronteiras do mapa e do tempo. A perfeição continuará a ser o aborrecido privilégio dos deuses, mas, neste mundo imperfeito e exaltante, cada noite será vivida como se fosse a última e cada dia como se fosse o primeiro. - Dez. 1999.

(Fonte: Dh Net)

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Annie Leonard me conta “A História das Coisas”.

Consumo excessivo. Esse é um dos principais dilemas da atualidade. Com A História das Coisas, vídeo caseiro baseado em desenhos, Annie Leornad conquistou o mundo ao mostrar os efeitos de uma economia que valoriza o acúmulo de riquezas e de “coisas”. No vídeo de 20 minutos, Annie apresenta os resultados de mais de dez anos de pesquisas sobre o sistema de produção, distribuição, consumo e descarte de produtos no mundo.


Nesta entrevista, a ativista fala sobre suas experiências, aventuras e como devemos focar na qualidade de vida ao invés do consumo exacerbado. Ela conta sobre suas inspirações para o vídeo e o que a levou a escrever um livro contendo detalhes dessas experiências, sobre educação ambiental, sustentabilidade e sobre o papel da sociedade na instituição de uma nova cultura econômica e de consumo.
O filme, que deu origem ao livro, foi visto por mais de 15 milhões de pessoas, sendo o Brasil um dos países com maior número de telespectadores. Annie, que vive com a filha em uma comunidade em Berkley, na Califórnia, ainda destaca a importância de temos um superávit de coisas que realmente importam: o tempo para o lazer, qualidade de vida e a necessidade da sociedade reconsiderar suas prioridades, aprendendo a viver melhor e com menos.
Confira a entrevista:
• Efraim Neto - Como surgiu a ideia de escrever o livro "A História das Coisas"?
• Annie Leonard – Em uma inversão da ordem habitual. Primeiramente eu fiz o filme e, em seguida, escrevi o livro. O filme resumiu o que aprendi em 20 anos de viagens e estudos. Visitei fábricas e depósitos em todo o mundo e pude mostrar, em primeira mão, tudo sobre os impactos que a nossa forma de produzir e descartar “coisas” provocam em nossa saúde, no meio ambiente e na sociedade. A História das Coisas conta essas experiências de forma engraçada. Depois que o filme saiu, recebi dezenas de milhares de emails pedindo mais informações sobre as histórias que ali contei. Fiquei tão feliz que as pessoas queriam falar sobre essas questões – geralmente mantidas fora da discussão pública -, que tentei responder a cada email. Mas isso não funcionou. Em vez disso, decidi escrever um livro que incluísse mais detalhes sobre as histórias apresentadas no filme, algo que pudesse também falar das minhas viagens.
• EN – Em seu livro, você traz diversos questionamentos a respeito do estilo de vida humano. Qual a principal mensagem que você pretende transmitir com a História das Coisas?
• AL – Minha mensagem principal é que podemos produzir coisas melhores e com menos. A mudança é possível. O nosso meio ambiente e corpos estão repletos de produtos químicos tóxicos. A nossa economia, por meio do consumo excessivo, gera quantidades enormes de resíduos e trata as pessoas pobres como descartáveis. Não precisa ser dessa maneira. Pode ser diferente. Com melhores tecnologias, políticas e mudanças na cultura, podemos ter uma sociedade que seja saudável, sustentável e justa.
• EN – Relatórios recentes do UNEP têm apontando que necessitamos modificar os nossos meios de produção e consumo. O que você pensa a respeito disso?
• AL – Isso está correto. Muitos acadêmicos e cientistas estão dizendo a mesma coisa. A humanidade está usando, a cada ano, mais recursos e gerando mais lixo do que o planeta pode suportar. A Global Footprint Network calcula que globalmente estamos usando 1,5 planetas. Os limites da Terra nos obrigam a aprender a usar os recursos de forma mais sensata, desperdiçar menos e compartilhar mais.
Isto significa que para melhorar nossas práticas precisamos tornar a produção industrial mais eficiente, mais saudável e sustentável. Há muito espaço para melhorar. Muitas empresas – grandes, médias e pequenas -, em todo mundo, estão demonstrando, através da redução do uso de água, energia e resíduos, compromisso com a sustentabilidade. A mudança é possível, mas requer redesenhar tudo: os produtos, as fábricas e o sistema energético, em especial. Precisamos cultivar os valores culturais em torno da qualidade de vida, da saúde, da felicidade e da comunidade.
• EN – Em sua opinião, quais são os maiores gargalos do nosso modelo econômico?


• AL – Há uma série de problemas fundamentais com o nosso atual modelo econômico. Um dos principais problemas é o foco no crescimento econômico e o PIB como o único instrumento para mensurar como a nossa sociedade faz isso. O crescimento econômico deveria ser um instrumento para avançarmos em direção aos objetivos sociais: comunidades mais saudáveis, pessoas mais felizes, ambientes mais limpos e boas escolas. Enquanto isso não mudar, viveremos uma situação ambígua, onde acidentes automobilísticos, derramamento de resíduos perigosos, construção de prisões e problemas de saúde parecem ser considerados positivos, uma vez que auxiliam o crescimento econômico.
Se eu pudesse mudar alguma coisa, criaria uma ferramenta pela qual pudéssemos avaliar o que estamos fazendo como sociedade. Não contaríamos apenas quanto dinheiro temos, mas sim se os nossos filhos estão saudáveis, se temos oportunidades de trabalho decente e educação de qualidade, se os membros da comunidade sentem-se seguros e felizes, se nosso ar está limpo.
• EN – Será que estamos diante de uma mudança de paradigma na nossa realidade material?
• AL – Há muitos lugares onde as atitudes estão mudando. Há, ainda, milhões de pessoas no mundo que vivem na pobreza, que vão dormir com fome e que precisam de ferramentas para chegar até um nível básico de saúde e dignidade. Na outra extremidade, há outros milhões que acreditam que o caminho da felicidade e segurança é no acumulo de riquezas materiais.
Mas essa atitude está mudando. Depois de décadas de longas horas gastas para que se consumissem mais coisas, estamos nos sentido sobrecarregados. Nossas casas estão cheias, nossas garagens estão cheias. Mesmo com o crescimento explosivo do “mini-armazenamento”, a indústria não pode manter-se com todas as coisas que as pessoas têm acumulado. Passamos os finais de semana comprando mais coisas. Por isso, temos menos amigos; estamos mais isolados socialmente, sem perceber que as coisas mais importantes na vida não são as “coisas” que acumulamos.
• EF – Que mudanças estão ocorrendo na economia tradicional após a ampliação do debate sobre a sustentabilidade?
• AL – É impossível ignorar a gravidade da crise ecológica. Em todo o mundo, muitos líderes já compreendem que o modelo de produção atual, cheio de resíduos, não terá futuro, por isso querem traçar um novo caminho. As empresas estão aprendendo a eliminar produtos tóxicos dos seus processos de produção, a reclicar a água e materiais, e, maciçamente, a reduzir o uso de energia. Claro, ainda existem empresas que estão resistindo às mudanças. Mas elas ainda serão obrigadas a aplicarem iniciativas de sustentabilidade. É possível, dentro de todos os setores produtivos, ter um negócio próspero com princípios da sustentabilidade.
• EN – No livro, você relata histórias que mudaram sua percepção sobre as “coisas” e a economia. Qual dessas histórias mais chamou a sua atenção?
• AL – A primeira vez que fiquei interessada em como as “coisas” influenciavam a economia foi quando eu ainda era apenas uma estudante da Universidade de Nova Iorque. Todos os dias no caminho para a aula, eu me perguntava sobre a quantidade grande de lixo nas ruas, algo esperando apenas para ser coletado. Me perguntava o que havia nas sacolas e para onde elas eram enviadas. Certa vez, ainda estudante, fui até o aterro municipal. Foi uma experiência impressionante ver para onde todas as “coisas” iam: eletrodomésticos, roupas, livros, alimentos, calçados, embalagens. Isso me fez pensar que deve haver alguma forma de melhor atender as nossas necessidades sem desperdiçarmos tantos materiais. Então decidi passar os últimos 20 anos estudando isso: para onde as nossas “coisas” vão, o que há nelas e o que podemos fazer de melhor. Se você ainda não foi ao aterro de sua cidade, recomento veementemente que vá. Ele lhe dará uma perspectiva fascinante sobre a sociedade do consumo que os anunciantes promovem tão fortemente.
• EN – Qual o nosso maior desafio? Mudar a economia ou mudar as nossas atitudes?
• AL – Precisamos fazer as duas coisas. A crise ecológica e social que enfrentamos é tão grande e tão interligada que todos nós estamos envolvidos. Precisamos mudar nossas políticas econômicas e industriais de modo a promover ambientes saudáveis, sustentáveis e meios justos de produção, assim como nos libertamos dessa obsessão pelo consumo. Basicamente, precisamos apertar o “reset” em nossa sociedade. Precisamos de diferentes tipos de edificações e de um novo planejamento urbano que incentive o transporte público e a congregação entre as comunidades. Precisamos redesenhar produtos para que eles possam estar livres de produtos químicos tóxicos e terem maior durabilidade. Precisamos de um sistema de gestão dos resíduos que incida sobre a reutilização e não apenas na queima ou soterramento das “coisas”. Com a mudança nas sociedades, os líderes e os empresários serão obrigados a pôr a sustentabilidade em prática. As leis precisam mudar junto com as atitudes. Está tudo interligado.
• EN – Ao descrever as suas experiências, você fala de ética, direitos e deveres. Podemos afirmar que a crise no modelo econômico é uma crise ética?
• AL – Essa é uma crise ética, física, biológica e social. O nosso atual modelo econômico está destruindo nossos ecossistemas e os recursosque o planeta dispõe, promove o aprofundamento das desigualdades e nega oportunidades para milhões de pessoas. É um sistema que premia alguns enquanto exclui outros, eliminando oportunidades para as gerações futuras. Para superar essas crises, podemos e devemos fazer melhor do que estamos fazendo.
• EN – O que você pensa sobre economia verde?
• AL – Infelizmente não há uma definição comum para a economia verde. Algumas empresas estão tentando lucrar com um “pacote verde”, mas continuam fazendo o velho: lixos e produtos tóxicos e descartáveis. Elas não estão indo para o caminho da sustentabilidade, mas sim se utilizando de “greenwashing”. No entanto, há uma economia verde que pode significar um sistema que funcione dentro dos limites do planeta, sendo compatível com os sistemas ecológicos que sustentam a vida e que é saudável para as pessoas.
Na verdade, dado que temos de aprender a viver dentro dos limites do planeta, uma economia que pode promover mudanças não deve ser vista como uma opção entre muitas, mas sim como a única opção. E todos nós podemos ajudar a instituir esse modelo econômico. Para isso, precisamos exigir oredesenho e uma revisão completa de nossa economia, e não nos contentarmos com as pequenas e aparentes mudanças que temos visto até o momento.

(Fonte: Mercado Ético)

domingo, 4 de maio de 2014

Crise provoca corrida aos psicanalistas na Espanha.

População recorre à terapia para lidar com queda no padrão de vida.

MADRI — Sem trabalho, com uma ordem de despejo, dois filhos para manter, as consequências de uma separação para administrar e o temor de que o ex-marido tente, novamente, o suicídio, Marta procurou uma psicanalista e pediu socorro. Como não tinha dinheiro para as sessões, contou seu drama e ofereceu, em troca do tratamento, seu serviços de contadora, cuidando, entre outras coisas, da declaração do Imposto de Renda da terapeuta. Marta, assim como o ex-marido, arquiteto, que vem sendo atendido pelos serviços de saúde pública, nunca tinha pensado na possibilidade de, um dia, entrar no consultório de um psicólogo, que, até pouco tempo, era chamado pelos espanhóis de loquero (“que trata loucos”). Se consideravam, conta Marta, “gente com as ideias claras e com a vida resolvida”. Mas o caso dela não é isolado. A mudança de perspectiva é geral. Nestes cinco anos de crise econômica, os consultórios encheram.
— Eu tinha tudo. Sempre fui de classe média. Carro, hipoteca, viagem de férias, família feliz. De um dia para o outro nossa vida começou a desabar como um castelo de areia. Como não consigo achar uma solução, procurei ajuda para, pelo menos, saber lidar com a catástrofe em que se transformou a minha vida. Hoje não tenho nada e, se não fosse por meus pais e por minha irmã, não teria nem como dar de comer às crianças — conta Marta (nome falso), que exige anonimato.
Sentimento de culpa e vergonha
Um denominador comum entre as pessoas que foram empurradas pela crise econômica a bater à porta de consultórios psiquiátricos é a sensação de que perderam o controle sobre suas vidas. Por mais esforço que façam para encontrar trabalho ou não perder suas casas, nada muda o curso dos acontecimentos. A magnitude do problema é tal, afirma o psicanalista e psiquiatra Josep Moya Ollé, coordenador do Observatório de Saúde Mental da Catalunha, que o modelo de intervenção deve mudar urgentemente. Moya avalia que os atendimentos individualizados não estão dando resultado, e os profissionais devem organizar reuniões de ajuda mútua e terapias em grupo no seio da própria sociedade, dentro de centros cívicos, porque se está criando na Espanha uma perigosa situação de isolamento social.
— Há pacientes que dizem que não saem na rua para evitar cruzar com pessoas conhecidas, que se negam a cumprimentá-los, porque estão em uma situação muito precária e deixaram de ter o que tinham. Neste aspecto não podemos culpar Bruxelas ou Wall Street. Este é um problema nosso. A própria sociedade gera este estigma — explica Moya.
O panorama é desolador por onde quer que se olhe: 6,2 milhões de desempregados (uma assustadora taxa de 27%); 10% das residências com todos os seus membros sem trabalho; 513 despejos por dia; mais de 11 milhões de espanhóis (dos 47 milhões) abaixo da linha de pobreza; 26,5% dos menores de 16 anos em risco de exclusão social. Cifras alarmantes que se traduzem em dramas pessoais, marcados por uma culpa irracional.
— Muitos pacientes se perguntam “O que fiz de mal?”, “Onde foi que eu errei?”, “Por que meus filhos vão ter condições de vida piores do que as minhas?”. Uma pessoa pode errar mais ou errar menos, mas há algo que está claro: nenhuma delas provocou esta crise, embora sofram com ela — afirma Moya.
Ao sentimento de culpa se une a vergonha, que torna silencioso o empobrecimento da classe média. As pessoas não falam sobre o naufrágio de suas vidas, e tentam justificar suas atitudes inventando desculpas que ocultam a verdadeira razão, que é a falta de dinheiro. Mudam o filho do colégio particular para o público porque não estavam de acordo com os métodos de ensino; negam-se a pagar taxas extras de condomínio porque as acham absurdas; deixam o carro indefinidamente na oficina mecânica porque andam muito ocupados. Uma luta interna (e externa) vivida por uma boa fatia da população para enfrentar o paradoxo de não ter como consumir em uma sociedade de consumo: algumas estatísticas apontam que cerca de 13 milhões de pessoas que eram parte da classe média espanhola, já não podem se considerar como tal.
— Entre nossos pacientes há pessoas que nunca usaram os serviços públicos, mas, de repente, caíram em uma situação de precariedade tão absoluta que se viram obrigados a comer em “sopões”. Empresários, inclusive. Há gente que se sente tão envergonhada de fazer fila na rua para conseguir um prato de comida que acaba enfrentando sérias dificuldades para se alimentar. Sentem-se observados e preocupados com a imagem diante das outras pessoas — conta Ernolando Parra, coordenador do programa de atendimento gratuito “Tempos de crise”, oferecido pela ONG Psicólogos Sem Fronteiras.
Apoio gratuito aos despejados
 O projeto “Tempos de crise” nasceu para dar apoio aos despejados, um dos maiores dramas atualmente no país: famílias que perdem suas casas por não pagar a hipoteca. Como a entrega do imóvel ao banco não se traduz na quitação da dívida, e a inadimplência gera multas superiores a 20%, espanhóis se veem sem dinheiro, sem ter onde morar, com o nome sujo e com a ameaça de embargo de salário caso consigam, finalmente, um emprego.
— Atendemos pessoas extremamente angustiadas, em casa e com dívidas gigantescas que, com as sessões, acabam vendo que o valor é tão alto que não tem sentido gastar energia pensando em como pagá-lo. Passam a direcionar suas forças a tentar sobreviver, a encontrar uma solução imediata de alojamento, e a cuidar de seus filhos da melhor maneira possível. Sabem que terão que viver da economia informal e que mesmo sendo empreendedores, jamais poderão montar um negócio — diz Parra. — O custo da dívida não é só econômico. É social.
(Fonte: O Globo)

sábado, 3 de maio de 2014

Desemprego na Grécia chega a 27% e a 64,2% entre jovens em fevereiro.

Atenas – O desemprego alcançou em fevereiro 27% da população ativa da Grécia e, no caso dos jovens, 64,2%, informou nesta quinta-feira o escritório de estatística Elstat. Em janeiro, foi anunciado que o desemprego chegaria a 27,2%, mas o Elstat revisou o dado e o fixou em 26,7%.
O desemprego de fevereiro representa um aumento de pouco mais de 5% em relação ao mesmo mês do ano passado, quando foi de 21,9%. Quanto ao desemprego juvenil entre os menores de 25 anos, o novo número representa umrecorde histórico, cinco pontos percentuais acima da taxa de desemprego de janeiro (59,3%) e dez acima da de fevereiro de 2012 (54,1%). Na faixa de idade de 25 a 34 anos o desemprego chega a 36,2%.
Outro dado relevante é que a falta de trabalho afeta mais as mulheres (31%) que os homens (24,1%). O Ministério do Trabalho da Grécia informou ontem que o número de novos contratos superou em quase 30% de postos de trabalho perdidos em abril.
No entanto, o principal partido da oposição, o esquerdista Syriza, acusou o Ministério de maquiar as estatísticas pois, segundo disse, computa como novos contratos os que se renovam aos empregados temporários.
 Além disso, segundo dados do próprio Ministério do Trabalho, dos 3,6 milhões de pessoas que atualmente trabalham na Grécia, cerca de 400 mil não cobraram nos últimos meses pelos problemas financeiros de suas empresas. Cerca de 450 mil famílias em todo o país estão com todos os membros desempregados.
 (Fonte: Rede Brasil Atual)

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Toyotismo - prisão para mente.

Caros colegas que nos acompanham no blog e pacientemente leem nossas postagens que tal olhar uma estratégia (e conceito) da administração do sistema econômico atual num ponto de vista diferente? Muito se fala sobre Toyotismo mas pouco se sabe de fato o que ele é, como funciona e quais suas reais e verdadeiras intenções (e estratégias) com o trabalhador . A leitura do texto "Toyotismo - prisão para mente", nos dá essa dimensão e com segurança e profundidade teórica esclarece o conceito, como funciona e os objetivos. Disponibilizamos assim mais uma oportunidade do leitor enxergar parte do mundo do trabalho com profundidade, clareza e criticidade. 

Para ler acesse: Estudo do trabalho.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Vida para consumo - A transformação das pessoas em mercadoria.

Vida para Consumo - A transformação das pessoas em mercadoria (Zygmunt Bauman) é um texto que revela para o leitor as principais contradições entre a sociedade de consumo e as necessidades primordiais para os indivíduos, bem como, os efeitos que o consumismo provoca na vida das pessoas.
O artigo é provocativo e chama o leitor a encarar e refletir sobre o amor, as relações profissionais, as relações afetivas, o sentido de coletividade, o sentido de conforto para nós humanos e, principalmente, de nossa própria existência.
Prepara-se para entrar numa das mentes mais prodigiosas e polêmicas atualidade quando o assunto é: sistema do capital e sociedade de consumo.

Para ler ou fazer download acesse: Zahar.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Gaza: assassinatos e desinformação.

Para se compreender a escalda em Gaza é sempre preciso recordar alguns dados sobre este território ocupado, desde 1967, por Israel: 360 quilômetros quadrados e mais de 1,5 milhões de habitantes, ou seja, mais de 4500 pessoas por quilometro quadrado, o que faz com que seja um dos locais do planeta com maior densidade populacional. Os acessos ao mundo continuam a ser ali controlados por Israel, apesar de o exército deste país se ter retirado; a circulação dentro desta estreita faixa de terra é, ela própria, limitada e perdura um bloqueio implantado há anos. Para as Nações Unidas, Gaza continua a ser um território ocupado.
Os dados que se seguem foram disponibilizados pelo Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação dos Assuntos Humanitários nos Territórios Palestinianos (UNOCHA), num documento de Junho de 2012 intitulado Five Years of Blockade: The Humanitarian Situation in the Gaza Strip:
— Foi em Junho de 2007 que o governo israelita decidiu intensificar o bloqueio deste território, que já era severamente controlado. 
— 34% da população (e metade dos jovens) está desempregada.
— 80% da população dependente da ajuda alimentar.
— Em 2011, o produto nacional bruto (PNB) por habitante estava 17% abaixo do de 2005 (em termos constantes).
— Também em 2011, saía de Gaza um camião por dia com produtos para a exportação, ou seja, menos 3% do total verificado em 2005.
— Na sequência das restrições israelitas, estão parcial ou totalmente inacessíveis aos habitantes de Gaza 35% das terras cultiváveis e 85% das águas.
 — Devido à sobrepopulação, 85% das escolas têm de funcionar em «serviço duplo», um de manhã e outro de tarde.
Todas as guerras são acompanhadas por intensa propaganda e o governo israelita é mestre nesta arte. Durante a ofensiva de Dezembro de 2008-Janeiro de 2009 assistira-se já a uma explosão mediática (cf. Marie Benilde, Gaza: du plomb durci dans les têtes). Intelectuais franceses, entre os quais o inenarrávelBernard-Henri Lévy, contribuíram nessa altura para a desinformação.
O homem assassinado por Israel, Ahmed Jabari, era o chefe do ramo militar do Hamas (sobre esta organização, ler Qu’est-ce que le Hamas?). Muitos órgãos de comunicação social apresentaram-no como um terrorista responsável por todos os ataques contra Israel. A realidade tem pouco a ver com este retrato, para já não falar do próprio uso do termo terrorismo, que é no mínimo ambíguo. Mais uma vez, é um jornalista israelita, Aluf Benn, que assinala o seguinte (Israel Killed its Subcontractor in Gaza, Haaretz, 15 de Novembro): 
"Ahmed Jabari era um subcontratado, tendo sido encarregado da manutenção da segurança de Israel na Faixa de Gaza. Esta qualificação parecerá certamente absurda a todos os que, ao longo das últimas horas, viram Jabari ser descrito como um “super-terrorista”, “o chefe do pessoal do terror” ou “o nosso Bin Laden”. No entanto, foi isto o que aconteceu durante estes cinco anos e meio. Israel exigiu que o Hamas respeitasse as tréguas no Sul e fizesse com que elas fossem cumpridas por várias organizações armadas na Faixa de Gaza. O homem a quem esta tarefa foi confiada foi Ahmed Jabari." 
Basta olhar para os gráficos publicados pelo próprio Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita sobre os disparos de mísseis (Palestinian Ceasefire Violations Since the End of Operation Cast Lead, 14 de Novembro de 2012) para se perceber que, de modo geral, as tréguas foram realmente respeitadas. Foram rompidas pelas incursões do exército israelita a 7 e 8 de Outubro de 2012, e depois a 13 e 14 de Outubro, provocando uma escalada que desde então prosseguiu sem descontinuidades. 
Nas vésperas do assassinato de Jabari tinham sido alcançadas tréguas pelo Egipto, o que confirma o testemunho do ativista pela paz Gershon Baskin, divulgado pelo Haaretz, Israeli Peace Activist: Hamas Leader Jabari Killed Amid Talks on Long-term Truce, 15 de Novembro).
Cada escalada surge na sequência de assassinatos com alvos pré-determinados de ativistas palestinianos em Gaza. Estas execuções extra-judiciárias são uma prática antiga do governo israelita (à qual os Estados Unidos se associaram há muito tempo). Trata-se de terrorismo? (ler De Gaza a Madrid, o assassinato programado de Salah Shehadeh, por Sharon Weill, Le Monde diplomatique — edição portuguesa, Setembro de 2009).
Em 2008 o cenário foi exatamente igual. Apesar de as tréguas estarem a ser respeitadas pelo lado palestiniano desde Junho de 2008 (List of Palestinian Rocket Attacks on Israel, 2008, Wikipedia), é o assassinato, em Novembro, de sete militantes palestinianos que dá origem a uma escalada e à operaçãoChumbo Endurecido.
Sobre as violações por Israel do cessar-fogo nos últimos anos, poderá ler-se Adam Horowitz, Two New Resources: Timeline of Israeli Escalation in Gaza and Israel’s History of Breaking Ceasefires (Mondoweiss, 14 de Novembro de 2012).
Por outro lado, é difícil falar de um confronto entre duas partes: os F-16 israelitas e os mísseis palestinianos não são armas equivalentes. O balanço humano, desde as tréguas de Janeiro de 2009 que se seguiram à operação Chumbo Endurecido, confirma isso mesmo.
A organização israelita de defesa dos direitos humanos B’Tselem faz o balanço do número de palestinianos e israelitas mortos em Gaza desde 19 de Janeiro de 2009 até 30 de Setembro de 2012 (Fatalities After Operation “Cast Lead”): 271 palestinianos (30 dos quais menores) e 4 israelitas.
Os números falam por si mesmos.

(Fonte: GRESH, Alain. Disponível em: http://pt.mondediplo.com/spip.php?article893/18/11/2012)

domingo, 5 de janeiro de 2014

Um capitalismo mais humano?

As tentativas de “humanizar” o modo de produção capitalista não são novas. Desde os socialistas utópicos que, diante do aumento do desemprego e da miséria gerado com o avanço da Revolução Industrial no século XIX, foram muitos os pensadores e ativistas sociais que imaginavam uma possibilidade de sensibilizar os capitalistas com relação aos problemas sociais causados pelo capitalismo. Na Alemanha atual, com o aumento da taxa de lucros contrastando com o aumento do desemprego e da pobreza, vários políticos estão indo para a ofensiva apelando para uma “responsabilidade social e moral” das empresas. O apelo vai no sentido de que empresas que apresentam um extraordinário crescimento na taxa de lucros devam investir na geração de novos empregos. Mas, por que os capitalistas teriam interesse em gerar empregos e até que ponto é possível exigir uma face “mais humana” do capitalismo? 
O caso mais polêmico de concentração de capital na Alemanha é o da Deutsche Bank. A instituição financeira aumentou seus lucros em 2004 na ordem de 50%, atingindo 4,1 bilhões de euros e, mesmo assim, está disposta a demitir 6.400 trabalhadores, dos quais 1.900 estão na Alemanha, para criar 1.200 novos empregos em países com salários mais baixos. Também a Siemens, uma das empresas que mais emprega na Alemanha, aumentou seus lucros de 3,4 bilhões de euros em 2003 para 4,2 bilhões de euros em 2004 e ameaça demitir trabalhadores. O aumento na taxa de lucro do conjunto das empresas alemãs em 2004 foi na ordem de 10,7%, havendo casos extremos onde o crescimento atingiu 70%, enquanto os salários brutos dos trabalhadores alemães atingiram um crescimento de 0,1% no mesmo período. As exportações - elemento historicamente central para medir a competitividade da economia do país - cresceram extraordinariamente no último período, mas, mesmo assim, a economia não cresce e o Estado se apresenta como “falido”. É evidente que essa é uma situação que gera uma massiva indignação social e mesmo os mais fiéis defensores da economia de “livre mercado” são obrigados a se pronunciar criticamente.
Entretanto, nos termos da lógica capitalista, não há nada de errado nessa acumulação, pois, enfim, as altas taxas de lucro são vistas como pilares do crescimento econômico e, por conseqüência, do progresso e da riqueza das nações. Segundo os “mandamentos” do liberalismo, o próprio mercado regula a economia, de tal forma que os preços se mantêm equilibrados e o montante acumulado pelas empresas é destinado ao aprimoramento tecnológico, um fenômeno forçado pela concorrência entre as empresas. Através do investimento em tecnologia, gerando as suas condições de sobrevivência no “mercado competitivo”, as empresas “asseguram” seus trabalhadores e geram novos empregos. Ao Estado cabe a função de estimular esse processo, seja de forma indireta com infra-estrutura, pesquisa e qualificação de trabalhadores ou, diretamente, através de isenções de impostos e crédito facilitado. Mais importante ainda é que o Estado crie as condições ideais para que não haja interferências no processo de “livre acumulação de capital” através de leis e de um aparato repressivo que garantam a ordem e o funcionamento da exploração do trabalho, isentando-se, no entanto, de qualquer mecanismo regulativo inerente ao próprio mercado e às relações entre capital e trabalho. Não cabe ao Estado uma intervenção na economia que seja contrária à lógica acumulativa do capital. A privatização é vista como estimuladora da concorrência e a geração de empregos resultante compensaria ao Estado o custo de uma abdicação na arrecadação de impostos das empresas, já que os novos empregados passariam a contribuir com impostos e deixariam de receber auxílio social. 
A política acima descrita foi colocada em curso na Alemanha e as principais alternativas apresentadas pelos maiores partidos, tanto no governo como na oposição, colocam-se no mesmo sentido. A diferença fundamental entre o governo e a oposição é que a oposição pretende aprofundar ainda mais esse rumo e se apresenta insatisfeita com os “resquícios sociais” ainda presentes no interior da social democracia e do Partido Verde. Diante da política econômica implementada, pela qual as grandes empresas ao invés de pagar impostos estão recebendo auxílio financeiro do Estado e os trabalhadores são os principais responsáveis pela arrecadação pública, o crescente desemprego de ordem estrutural vem gerando preocupações de ambos os lados. Mas, porque tanta surpresa e indignação com empresas que simplesmente se adaptam à lógica capitalista em curso? E porque tanta expectativa numa tomada de posição do Estado (para a maioria dos alemães, o responsável pelo desemprego) se a sua função é se retirar da economia, ficando no papel de “mero estimulador”? 
Para entender o referido dilema é importante situá-lo num contexto histórico. A Alemanha, assim como muitos outros países europeus, manteve um Estado de bem-estar social no período da guerra fria, onde havia uma necessidade ideológica de provar que o capitalismo é mais eficiente que o socialismo, seja na sua dimensão econômica como social. A ameaça do socialismo no leste europeu exigia a implementação de uma política social democrata e, por vezes, keynesiana, de taxação de impostos sobre o lucro das empresas capitalistas, visando uma redistribuição social na forma de políticas públicas. Com o desmoronamento da União Soviética e o fim da guerra fria, o socialismo deixou de ser uma ameaça e os capitalistas começaram a reagir prontamente contrários à taxação de impostos com vistas à manutenção de um Estado de bem-estar social, iniciando uma ofensiva do capital contra o trabalho e inviabilizando a continuidade das políticas públicas da social democracia. Mas, como toda ideologia, a social democracia deixou marcas e uma das suas principais heranças é a crença de que seria possível implementar uma “soziale Marktwirtschaft” (economia social de mercado). É essa idéia que continua animando políticos e instituições que, ao negarem a possibilidade de uma planificação da economia, apostam numa responsabilidade social dos capitalistas ou, então, o que é mais absurdo, num espírito de “patriotismo dos empresários alemães”. E isso num contexto de mundialização do capital, num país que lidera esse processo na Europa e onde qualquer menção ao nacionalismo ou à pátria é rapidamente caracterizada de nazista. O problema é que o capital não tem pátria, na lógica do mercado não vingam valores como justiça e solidariedade e, se há capitalistas que, por vezes, fazem generosas doações sociais, estas estão, em sua maioria, prioritariamente vinculadas a fins publicitários e de conservação de imagem de si e de suas empresas. A geração de empregos, na lógica do mercado capitalista, significa integrar uma quantidade estritamente necessária de força de trabalho no processo produtivo que produza mais valor do que custa para se reproduzir e nisso não há nenhuma generosidade ou responsabilidade social: ela constitui a base da exploração capitalista. 
 Mas, as manifestações de políticos alemães - incluindo o próprio chanceler Gerhard Schröder - que reagiu duramente com relação aos planos da Deutsche Bank - aparentemente indignados com a lógica dos empresários no país, parecem surtir um certo efeito, qual seja, o de manter a governabilidade (a paz social que permite o normal funcionamento dos negócios capitalistas). Afinal, no imaginário social da população de países líderes do capitalismo mundial, a lógica capitalista não poderia ser vista como negativa até porque, para a maioria, ela é vista praticamente como “o ar que se respira” ou como “a água do aquário, fora do qual nada existe”. Propostas de boicote de empresas, discursos com forte apelo moralista e denúncias de incompetência e corrupção passam a ser dirigidas contra os precursores do progresso na lógica liberal. Enquanto isso, o desemprego no país atinge a cifra recorde de 5,2 milhões e desta vez aumenta, inclusive, em regiões industriais como o Ruhr; a proporção de pessoas que vivem abaixo da linha de pobreza chega a 13,5%; a pobreza infantil, segundo o último relatório da Unicef, atinge 1,5 milhões de crianças (10%) e a distância entre ricos e pobres vem se acentuando progressivamente nos últimos anos: os 50% mais pobres possuem menos de 4% da renda enquanto os 10% mais ricos possuem 49% do total da riqueza. As principais propostas de enfrentamento dessa situação social apresentadas até o momento, no entanto, seguem na direção de um aprofundamento da política neoliberal: desmonte social do Estado (especialmente na assistência social e no seguro desemprego), diminuição de impostos, aumento da jornada de trabalho e fim da estabilidade no emprego. Os excluídos são responsabilizados pela exclusão social e mesmo as políticas baseadas na inclusão, como a educação, acenam para a possibilidade de uma concorrência por espaço social, ou seja, a responsabilidade novamente recai sobre o indivíduo, já que não há espaço para todos. Em torno de 7,5 milhões de alemães procuram emprego e as empresas apresentaram a existência de apenas 275 mil novas vagas. O discurso oficial e do senso comum, no entanto, continua baseado na idéia de que os desempregados preferem deixar de trabalhar.
Para os empresários e acionistas, que faturam no atual contexto, o problema do desemprego estaria na conjuntura da economia, na burocracia do Estado e na falta de competitividade dos salários alemães em relação aos de outros países. A conjuntura para uma minoria de empresas, entretanto, é uma das melhores, as exportações cresceram, o Estado foi diminuído e os trabalhadores estão se submetendo a trabalhar mais tempo sem receber uma proporcional remuneração para isso. O desemprego, afinal de contas, sequer é um problema para estes capitalistas, pois, havendo maior oferta de trabalhadores, maior será a pressão para baixar salários. O inconveniente somente surge se a situação gerar um ambiente de agitação social, com possibilidade de colocar em risco os interesses capiatlistas. Mas, antes que isso aconteça, os capitalistas contam com um forte instrumento ideológico a seu favor: eles são vistos como os que geram empregos (Arbeitsgeber) e, portanto, com sua “responsabilidade social” podem incluir pessoas no mercado de trabalho. Vistos como empreendedores dispostos a correr riscos e dinamizadores da economia, sua ânsia por lucro sequer é caracterizada como algo negativo, mas, pelo contrário, como satisfação de uma “necessidade” que todos, de uma forma ou outra, ambicionariam: o crescimento econômico. 
A pretensa moralização dos empresários, exigindo uma responsabilidade social, fomenta a ilusão de que estes poderiam ser diferentes se assim o quisessem, como se já não estivessem perfeitamente integrados à lógica de acumulação do capital, na qual só há espaço para a concorrência e a razão instrumental, com vistas a uma acumulação ainda maior. O maior problema do discurso moralista contra o capitalismo é que ele não gera consciência social e mistifica o próprio processo de dominação. Para tornar os capitalistas mais “humanos” é necessário desapropriá-los do mecanismo que os torna desumanos: a propriedade privada do capital acumulado pelo trabalho humano de outros.

(Fonte: ANDRIOLI, Antonio Inácio Candido. Doutorando em Ciências Sociais na Universidade de Osnabrück – Alemanha)

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

O ABC do Conflito Palestino.

Os grupos, cidades, siglas, termos e fatos históricos, listados em ordem alfabética.

'Muro da Vergonha': crianças palestinas caminham ao lado da barreira . Imagem: Veja.

Al-Fatah - Movimento pela Libertação da Palestina. Sob a liderança de Yasser Arafat, o Al-Fatah se tornou a mais forte e mais organizada facção palestina. As autoridades israelenses têm acusado o movimento de ataques terroristas contra Israel desde o início da nova Intifada. As Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa, responsáveis por vários atentados nos últimos meses em Israel, são os mais radicais membros da organização.

ANP - A Autoridade Nacional Palestina, ou Autoridade Palestina, hoje presidida por Mahmoud Abbas, é a organização oficial que administra a Cisjordânia - a Faixa de Gaza está sob o controle do Hamas desde junho de 2007. Foi criada a partir de um acordo firmado em 1993 entre a OLP (Organização pela Libertação da Palestina) e Israel. Na primeira eleição para o legislativo e executivo da ANP, realizada em janeiro de 1996, Yasser Arafat foi eleito presidente. O acordo previa um mandato de cinco anos, que expiraria em 1999, quando então Israel e palestinos voltariam a negociar o status das áreas palestinas - o que não aconteceu, com a deterioração das relações entre os dois lados.

Belém - Cidade localizada na Cisjordânia, é importante na história de três religiões: a cristã, a judaica e a islâmica. Em Belém, foi erguida a igreja da Natividade, templo cristão que marca o suposto local de nascimento de Jesus Cristo.

Brigada de Mártires Al-Aqsa - Ala do Al-Fatah responsável por 70% dos atentados terroristas contra israelenses em 2006. Foi criada depois do fracasso das negociações de paz, tendo como líder Marwan Barghouti.

Cisjordânia - Área de 5.860 quilômetros quadrados a oeste do Rio Jordão e do Mar Morto, que esteve sob controle da Jordânia entre 1948 e 1967. Atualmente, está sob a administração da Autoridade Nacional Palestina. As cidades mais populosas são Jerusalém, Ramallah, Hebron, Nablus e Belém. Há duas universidades: Bir Zeit, em Jerusalém, e An-Najah, em Hebron.

Faixa de Gaza - É um estreito território com largura que varia de 6 quilômetros a 10 quilômetros às margens do Mar Mediterrâneo. Seus cerca de 360 quilômetros quadrados de área são limitados ao sul pelo Egito e ao norte por Israel. O grupo radical islâmico Hamas controla a região desde junho de 2007, quando tomou o poder à força. A principal cidade do território é Gaza.

Hamas - Grupo fundamentalista palestino que possui um braço político e outro militar. A sigla significa Movimento de Resistência Islâmica, mas também é a palavra que pode ser traduzida como “devoção” em árabe. O movimento nasceu junto com a Intifada. Seu braço político faz trabalhos sociais em campos de refugiados. O braço armado foi o primeiro a usar atentados com homens-bomba na região, em 1992. O braço político venceu as eleições legislativas palestinas em 2006 e tomou o poder à força, na Faixa de Gaza, em junho de 2007, após romper com Mahmoud Abbas, que preside a Autoridade Nacional Palestina (ANP), na Cisjordânia.

Hezbollah - Organização armada terrorista formada em 1982 por xiitas libaneses. Inspirada e orientada pelo Irã e apoiada pela Síria, tem base no Sul do Líbano. Seu objetivo é criar um Estado islâmico no Líbano, destruir Israel e transformar Jerusalém em uma cidade muçulmana.

Igreja da Natividade - Construída em Belém, no suposto local de nascimento de Jesus Cristo.

Intifada - Nome do levante nos territórios palestinos contra a política e ocupação israelense, caracterizado por protestos, tumultos, greves e violência, tanto na Faixa de Gaza quanto na Cisjordânia. A primeira intifada estendeu-se de 1987 a 1993, estimulada principalmente por três grupos: Hamas, OLP e Jihad. Ficou marcada pelo apedrejamento de soldados israelenses por jovens palestinos desarmados. Em setembro de 2000, quando recomeçou a violência entre palestinos e israelenses, depois de uma visita de Ariel Sharon a um local santo para os muçulmanos, o conflito violento recomeçou, sendo chamado de segunda intifada. O estopim foi uma provocação deliberada do então candidato a primeiro-ministro Ariel Sharon, líder da oposição ao governo de Ehud Barak e porta-voz da linha dura israelense. Cercado de guarda-costas, ele visitou a Esplanada das Mesquitas, na parte murada de Jerusalém, onde ficam as mesquitas de Al-Aksa e de Omar, um conjunto que é o terceiro entre os lugares santos do Islã.

Israel - Estado criado em 1948 na região histórica da Palestina, é um dos menores países do Oriente Médio e tem 60% de seu território coberto por deserto. O fato de ser o único país judeu em um área predominantemente islâmica marcou cada aspecto de suas relações diplomáticas, econômicas, políticas e demográficas. Nos últimos anos, tornou-se um grande pólo de tecnologia e informática. Tem um presidente, com poder mais simbólico que efetivo, e um poderoso primeiro-ministro, que passou a ser escolhido por eleições diretas a partir de 1996. As origens dos atuais conflitos são anteriores à criação do país. Já no início do século XX , a Palestina, por ser considerada o berço do povo judeu, estimulou a imigração de judeus, inspirados por um movimento conhecido como sionismo, que entraram em disputa com os povos árabes da região. Nos anos que se seguiram à II Guerra Mundial (1939-1945), a Organização das Nações Unidas (ONU) desenvolveu um plano para dividir a Palestina entre árabes e judeus. Os árabes rejeitaram o plano, que foi aceito pelos judeus, criando-se então um Estado independente em 1948. Imediatamente, cinco nações árabes atacaram Israel. No fim da guerra, em 1949, e nos anos seguintes, Israel ampliou seu território e anexou Golã. Também ocupou a Cisjordânia e a Faixa de Gaza. Mesmo Jerusalém, que os judeus consideram capital do país, continua sendo alvo de disputa.

Jihad Islâmica - Grupo terrorista palestino de orientação fundamentalista. Tradicionalmente, ela tenta realizar ações terroristas contra alvos israelenses no aniversário da morte de seu líder, Fathi Shaqaqi, assassinado em Malta, em outubro de 1995. Financiada pelo Irã, é a mais independente das facções extremistas e conta com apoio restrito da população. Seu líder é Ramadan Shallah, ex-professor da Universidade da Flórida. Seu objetivo é destruir Israel e criar um Estado islâmico na região, sob controle de palestinos.

Jerusalém - Local de peregrinação para três religiões: a católica, a judaica e a islâmica. Para os católicos, é o local onde Jesus Cristo foi crucificado e ressuscitou. Para os judeus, é a cidade que o rei Davi transformou em capital do reino unificado de Israel e Judá. Para os muçulmanos, é a cidade dos profetas que precederam Maomé.

Likud - Partido político conservador de Israel formado em 1973 em torno da proposta de anexar ao Estado de Israel os territórios ocupados durante a Guerra dos Seis Dias: Sinai, Faixa de Gaza, Cisjordânia e Colinas de Golã. Menachim Begin foi seu primeiro líder. A partir de 1999, o partido passou a ser liderado por Ariel Sharon, ex-primeiro-ministro de Israel que está em estado vegetativo permanente. Likud é a palavra em hebreu para unidade.

Muro da Vergonha - forma como é conhecida, entre os palestinos e parte da comunidade internacional, a barreira que Israel construiu para separar suas próprias cidades da Cisjordânia. Os israelenses alegavam que a medida era legítima, já que o muro tornaria muito difícil a entrada de palestinos em seu território - assim, o número de atentados terroristas cairia de forma drástica. Os críticos, contudo, disseram que a construção da barreira tiraria território palestino, acentuaria as diferenças econômicas entre os povos e não contribuiria para a paz.

Nablus - Localizada no norte da Cisjordânia, entre as montanhas de Gerizim e Ebal, é a maior cidade palestina. Região bíblica, onde Abraão e Jacó teriam vivido e onde estariam enterrados, é também um importante centro comercial da região produtor de azeite e vinho.

OLP - A Organização pela Libertação da Palestina, grupo político criado em 1964 com o objetivo de formar um Estado palestino independente. Em 1994, a Autoridade Nacional Palestina assumiu muitas das funções administrativas e diplomáticas relativas aos territórios palestinos que antes eram desempenhadas pela OLP. Esta passou a ser uma espécie de guarda-chuva político e militar, abrigando facções como Al Fatah, As-Saiga e a Frente de Libertação da Palestina. A OLP tem três corpos: o Comitê Executivo, com 15 membros, que inclui representantes dos principais grupos armados; o Comitê Central, com 60 conselheiros e o Conselho Nacional Palestino, com 599 membros, que historicamente tem sido uma assembléia dos palestinos. A OLP também tem serviços de saúde, informação, saúde, finanças, mas desde 1994 passou estas responsabilidades para a ANP.

Palestina - É uma região histórica situada na costa leste do Mar Mediterrâneo, no cruzamento entre três continentes, que foi habitada por diversos povos e é considerado local santo para cristãos, judeus e muçulmanos. Sua extensão tem variado muito desde a Antigüidade. Atualmente, as áreas palestinas são a Cisjordânia e a Faixa de Gaza.

Ramallah - Cidade palestina com cerca de 180.000 habitantes, é dividida em dois setores, de tamanhos semelhantes: Ramallah, que é predominantemente cristão, e Al Birah, de maioria islâmica. Fica a 872 metros acima do nível do mar e 1.267 metros acima do Mar Morto, distante 15 quilômetros ao norte de Jerusalém. É a sede da Autoridade Nacional Palestina e abriga a principal universidade palestina, Bir Zeit.

Sionismo - movimento político e religioso pela criação de um Estado judeu que surgiu no século XIX e culminou na criação do Estado de Israel em 1948. O nome vem de Zion, a montanha onde foi construído o Templo de Jerusalém . O termo sionismo foi usado pela primeira vez para nomear um movimento em 1890, pelo filósofo austríaco judeu Nathan Birbaum.

(Revista Veja. Em profundidade a Questão Palestina. Disponível em: Veja - Abril).