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quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Pica Pau - Auto Estrada Fracassada.

Pica Pau: Freeway Fracas (Auto Estrada Fracassada): A história se dá com uma empresa de construções querendo derrubar a árvore onde o pica-pau mora para construir ali uma rodovia. O pica-pau faz de tudo para que sua árvore não seja derrubada. Homero, o personagem operário que irá construir a rodovia, acaba sofrendo atividades desenvolvidas pelo pássaro para que seu lar não seja derrubado. Tudo o que é feito pelo operário é controlado por outro personagem, o engenheiro chefe. Homero tem as características que o capitalismo deseja para os operários: serem apenas pessoas que obedecem ordens sem questiona-las, sendo meros executores destas e que ainda ficam felizes quando recebem elogios/prêmios por seu desempenho. O engenheiro chefe, como na sociedade atual, é aquele quem manda, o estratégico, articulador, dono do poder, das ordens, entretanto, este não possui força física para executar o trabalho. Já Homero, seu empregado, possuí a força de trabalho que é base do capitalismo industrial, porém, sem ter 'poder' suficiente' pra poder comandar as ações de uma indústria. No episódio vemos claramente refletido alguns acontecimentos da sociedade atual, a mão de obra desvalorizada daquele que é essencial para que o trabalho seja concluído e a comodidade daquele que emprega.
Análise por: Náyade Dessiree 

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Televisão & Educação - fruir e pensar a TV.


Olhar e pensar a tevê de maneira diferente do habitual e do cotidiano. Entender a tevê usando métodos das ciências sociais que possibilitem análises contundentes e críticas dos programas voltados para a formação do indivíduo enquanto ser social.
A proposta é viabilizar (e tornar visível) para o leitor que enquanto vemos os programas de televisão também outras pessoas - produtores, jornalistas, atores, roteiristas, diretores, criadores - estão nos olhando e quem sabe até nos analisando para assim reinventar os programas...
 É possível vermos na tevê muito do que somos (ou não) e até nossas crenças (in)verdades. A autora consegue com maestria fazer o leitor/estudioso pensar que de qualquer maneira estamos um pouco presentes no que é mostrado. Destaca a importância social e política, e quiçá ideológica, de se estudar essa temática e não a mídia como um todo, mas enfatiza que a subjetividade construída é o que chama atenção. E se a televisão for retirada do cotidiano da população brasileira? Conseguiremos sobreviver? Afetará nossa cultura?
Enfim é ler com calma, atenção e dedicação para ter os olhos abertos pelo saber do conhecimento e aumentar o grau da visão com os fundamentos filosóficos, ideológicos e até políticos que embasam a obra. 

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Não ouse ousar!

Não tente, não se mova, não comente, não ouse! É exatamente o que querem de você, um ser robotizado, conformado em só existir, mas e se decepcionamos os dominantes, ousando?
Desde a antiguidade quem assume a liderança dificilmente vai permitir ser contrariado, ou criticado, com esse egoísmo humano fomos nos tornando individualistas, e logo queremos cada vez mais e mais poder.
Líderes bons claro que existem, e muitos, esses são os que ousaram inovar, e reinventar o que já havia de bom, mas os ruins, como imperadores e ditadores, são a maioria, a desgraçada maioria.
E quem são as pessoas que ao longo da história tiveram a ousadia de ter uma opinião própria? São os muitos que foram torturados, assassinados, presos e também honrados, vitoriosos, e eles ousaram, pois nem todos são afetados pela alienação que nos impuseram, logo podemos também não nos deixar massificar, basta ir um pouco alem.
Hoje em dia não há opressão, somos muito mais livres! Será mesmo? Em um ou outro lugar pode até ser, mas o mundo é quase todo capitalista, sendo assim existe desigualdade, existe opressão, o mundo ainda vê a ditadura, que esta sendo questionada e derrubada em determinados paises, mas num plano geral, existe mesmo a liberdade de ideias? No Brasil há uma grande disponibilidade de espaço para protestar, e quem o faz? 25.000 mil cidadãos apenas, que foram protestar a corrupção, entre 100.000.000 que estão aptos a sair nas ruas e ousar. Ao menos no Brasil o que falta não é liberdade, é ousadia.
Se não somos capazes de enfrentar algo assim, imagine esse “povo” vivendo a Idade das Trevas? Nem a boca abririam. Não temos mais a Santa (?) Inquisição amedrontando, nem as tropas nazistas, ou mesmo o poder romano, estamos apenas presos a nos mesmos, a mentalidade fraca que nos impuseram.
Onde estão os Luteros para reformar a igreja? Que volta a se perder, onde estão os Lenins para defender igualdade, comunismo? E os Luther king para aclamar às nações menos preconceito? Os Spartacus para guerrear em prol da base da sociedade, os trabalhadores? Onde estão as Joanas D’arc para libertar seu povo?
Eles estão mortos, os sonhos deles estão vivos, em mim, e em quem quer ousar, em uma minoria forte, que é oprimida pela maioria fraca.
Para destruir uma civilização, basta corromper seus jovens, e é isso que estamos vendo, quantos jovens estão se deixando levar pelas futilidades que o mundo apresenta, alguns morrem por isso, e quando surge um diferente, um ousado, é ignorado, e assim foi com Isaac Newton em sua juventude, mas ele não se oprimiu, diferente de muitos.
E a mídia, não poderia deixar de citar esse instrumento de revolução, e massificação, leigos são os que a tem como única fonte de informação, a Rede Globo e suas novelas, a Record com seu jornalismo, o SBT e seus programas de auditório, até que ponto isso é entretenimento, e até que ponto é alienação? Isso vai da consciência de cada um, com a Internet é o mesmo, depende de quem usa.
A mídia, o governo, os ricos, estão conectados para se manter na soberania, quem pode enfrentá-los, quem pode ousar ser ousado?
 Marina Silva defendeu uma causa nobre na ultima eleição, surpreendeu no resultado final, pondo em questão a veracidade das pesquisas, mas perdeu, e tantos outros políticos que tentam melhorar, as vazes se destacam, quase nunca conseguem, temos que apoiar, temos que agir, temos que ousar ter ousadia, e é agora.
Mas por que eu? Não devemos fazer essa pergunta, devemos fazer esse: Por que não eu? Por que eu não posso ser um revolucionário, ao menos posso tentar?
Quem me dera ao pensar em ousar as pessoas ousassem, pois melhorar o mundo é algo muito discutido, e idiotas são os que tentam por algo em pratica, acho que basta, o melhor é: Não ouse ousar! (Ignore a frase, e ouse).

 João Vitor Rubini. (16 anos, aluno do 2º ano do Ensino Médio)

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

A mulher inferior/interior.

Ao longo da história a mulher sempre foi subjugada, isso é uma triste verdade, claro que temos alguns exemplos de que nem sempre foi assim, elas já deram as últimas palavras como na Grécia Antiga e na península itálica, mas esse tempo durou muito pouco.
A opressão da mulher já passou - ainda bem - pelo seu auge e vive em declínio, fato esse a ser comemorado? Talvez, isso depende dos rumos que vamos tomar, de que adianta ter mulheres no poder agindo identicamente aos homens? Ou se elas apenas trocarem de colocação com os homens? É viver para ver.
Toda história sobre a vida das mulheres nos passa uma idéia de pena, devemos ter dó das coitadinhas oprimidas? JAMAIS! Pena não é o sentimento certo, muito menos a raiva dos homens, ou indiferença pela história, o que devemos ter é admiração, isto mesmo, admirar essas mulheres que mesmo com toda essa repreensão que ainda sofrem na atualidade, lutam, estão guerreando pelos seus direitos, elas marcaram a história de um jeito e ainda vão marcar de modo que nenhum homem poderá pôr defeito.
Nem preciso citar as dores delas, pelo menos o básico você leitor deve saber, imagine a vida de um escravo, sofrida não é? Então que tal uma mulher escrava, que além de toda humilhação e exploração, de todas as formas, tinham que ver seu povo destruído.
Esse tempo ainda não passou, hoje em dia existem certos países onde esse tempo é a realidade, o problema é que existem culturas ensinando a subestimar o poder feminino, não dá para acabar com a história de um povo por causa disso, mas ao menos podemos minimizar as dores de algumas culturas, sem perder a essência histórica.
No fim, acabamos percebendo que nem mulheres nem homens são superiores, apenas deveriam coexistir um ajudando o outro, cada um em seu posto, não havendo superiores nem inferiores, bons casais vivendo na tão sonhada e nunca conquistada paz.
E se olharmos, bem no fundo do coração de cada homem, iremos ver que existe uma dose de feminismo, como explica a biologia: As mulheres possuem os cromossomos XX, e o homem os XY, todo homem teria metade de uma mulher, o X.
Finalizando, a mulher está no interior da mente dos homens, nos inspirando, e fazendo-nos amar, também está no interior da sociedade que o homem ainda lidera. Elas não são inferiores, apenas foram (às vezes ainda são) colocadas como tal, e isso é o que as motiva a irem atrás de “igualdade”, quem sabe chegamos lá mais rápido do que imaginamos, para isso basta ação.
Esse não é um sonho fácil, será muito complicado obter uma sociedade justa, pois nascemos com tendências tanto para o bem, como para o mal, mas nada impede que tentemos construir um mundo melhor.

João Vitor Rubini (16 anos, aluno do 2º ano do Ensino Médio)

domingo, 22 de setembro de 2013

E então a Burguesia proclamou: Liberdade, Igualdade e Fraternidade!

Desde a Revolução Francesa (meados de 1789), e até mesmo antes dela, fazer falsas promessas - ou não cumpri-las - para o povo já era algo “comum” e estratégico, com o intuito de erguer-se politicamente ou ter algum poder e controle sobre a sociedade.
A Revolução Francesa foi citada devido o grande destaque que se atribui até hoje à frase burguesa: “Liberdade, igualdade e fraternidade”.
Naquela época, para conseguir tirar a “grande nobreza” de seu poder, era necessário dominar o povo. O clero, subordinado aos nobres, pendia para o lado que mais lhe favorecia. O exército, que tinha de ser fiel àquele que pagasse-os e/ou os obrigasse a trabalhar. Burgueses, poder econômico buscavam seus direitos políticos. Sobrava assim quem ordenada - os nobres -, e quem era subordinado, querendo ou não.
Essa condição permaneceu até a burguesia querer mudanças e exigir deixar de ser só um poder econômico e passar a ser o líder social e influencias nas ordens do país. Assim, a burguesia construiu seu projeto de uma nova França.
A classe nobre não daria o braço a torcer e pedir ajuda aos trabalhadores, que talvez, cegos pela ignorância, se deixariam enganar uma vez mais.
Burgueses ganharam a confiança da população prometendo uma liberdade que não existiria, uma igualdade que obviamente seria impossível acontecer, e uma fraternidade que claramente não seria cumprida.
Depois do esforço revolucionário de dez anos e da confiança conquistada junto ao povo, jogar aquelas promessas no ralo após terem conseguido o poder não era o que a classe trabalhadora esperava, mas obviamente não se preocupar em cumprir com as promessas e controlar o povo confortava a burguesia, que de 1800 em diante era o poder.
Pior mesmo é acreditar que ainda hoje existam burgueses contemporâneos e trabalhadores ignorantes que se deixam enganar por promessas parecidas, proclamadas, e jamais cumpridas.

Texto por: Náyade Dessiree.

sábado, 21 de setembro de 2013

Capitalismo – Mídia e consumismo desenfreado.

Faz um tempo que se vê claramente a influência exercida pela mídia quando o assunto é consumismo. Não é preciso números para se notar que grande parte do movimento econômico (não só a economia brasileira) se através do marketing (“a alma do negócio”) veiculada pelos meios. São comunicações de carros, - que geralmente retratam o imaginário para dar uma impressão do quão fora do comum aquele produto pode ser; de cervejas - com belas mulheres e muitos amigos em um bar a comemorar; de cigarros, de comidas, de brinquedos etc. O ponto principal a ser discutido é a ilusão e felicidade que ali se encontram. Com essa falsa ilusão de que para ser feliz é preciso ter aquilo, muitas vezes o consumidor se vê cego pelo desejo de ter o produto e é preciso ‘ser feliz’ como as pessoas irreais daqueles comerciais.
O consumismo desenfreado não é só coisa de gente grande não. Pesquisas feitas pelo Instituto Alana – instituto que desenvolve atividades que despertam a consciência crítica da sociedade brasileira a respeito das práticas de consumo de produtos e serviços por crianças e adolescentes – aqui e no exterior, afirmam que o consumo exagerado entre as crianças já deixou há muito tempo de ser um problema somente dos norte-americanos. De acordo com a pesquisa – subtítulo “No Brasil” – do Painel Nacional de Televisão do Ibope, as crianças brasileiras de  quatro a onze anos, que em 2004  assistiram a 4 horas, 48 minutos e 54 segundos de tevê por dia, passaram a ver 4 horas, 51 minutos e 19 segundos, em 2005. Passando o Brasil a frente dos Estados Unidos na quantidade de tempo em que as crianças usam a televisão. Outro dado importando que se encontra na pesquisa é sobre o nível de obesidade causada graças à influência da mídia através de comerciais – estes vistos pelas crianças como sedutores – sobre redes de fast food e alimentação pouco saudável. De acordo com a pesquisa feita pelo IBGE no ano de 2011 é capaz de se notar claramente a situação alarmante, cerca de 10% das crianças e adolescentes brasileiros sofrem sobrepeso e 7,3% obesidade, a maioria de classe média / alta, e agora vem à pergunta, por que isso acontece mais em crianças e adolescentes que possuem mais dinheiro? Simples, o acesso que se tem para encontrar alimento não saudável, a facilidade de se ter com o que dinheiro que possui, muitos trocam a “comida da mamãe” porque viram um comercial na televisão sobre um sanduiche gorduroso que vem com ‘brinquedinhos’ e correm atrás desse tipo de comida pelo simples fato de estarem acorrentados pelos comerciais sedutores e suas promessas de felicidade.
Tudo se torna mais fácil quando se tem dinheiro, é assim que se move o sistema capitalista, afinal, uma criança ou adolescente que tem condições mínimas de assistir uma televisão, obviamente ficará encantada e provavelmente vai querer algo que ali viu, entretanto, guardará aquele desejo pra si ou pedirá o objeto aos seus pais, que se não tiverem condições irão dizer que não e apesar da vontade da criança ou adolescente de ter aquilo, ela terá de se conformar com a situação e esquecerá. Entretanto, se a situação se repetir com um jovem de classe média/alta ele claramente fará pressão sobre seus pais até que os mesmos realizem seus desejos.
Hoje em dia a maiorias das pessoas vivem escravas da mídia e das propagandas que a mesma oferece impondo modelos de felicidade. Pode-se até a afirmar que provavelmente aqueles que mexem com propagandas se tornem ‘subordinados’ da mesma.
Alguns se vêem aprisionados, tem consciência e pouco fazem para mudar, outros vivem de forma cega em um mundo de inconsequentes.

Texto por: Náyade Dessiree.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Independência dos Estados Unidos - A falência do regime colonial na América.

O movimento de independência dos Estados Unidos inaugurou a falência do regime colonial na América e influenciou, com seus ideais, o crescimento da maior revolução da história ocidental: a Revolução Francesa.
Para entender o momento histórico que culminou na declaração da independência das 13 colônias inglesas na América, em 4 de julho de 1776, por Thomas Jefferson, é preciso, entretanto, compreender a colonização inglesa.

Colonização inglesa

No século 16, Portugal e Espanha eram as mais importantes potências da Europa, detentoras da descoberta do Novo Mundo. A preocupação mercantilista motivou a exploração do novo continente em busca de produtos tropicais e, principalmente, de metais preciosos. Os territórios considerados menos valiosos aos interesses ibéricos foram relegados, propiciando a investida dos países marginalizados pelo Tratado de Tordesilhas nessas regiões.

Colônia de Povoamento

Coube à Inglaterra, no século 17, a colonização da costa litorânea atlântica do atual território dos Estados Unidos. A formação das 13 colônias inglesas da América processou-se de forma bastante diferente dos interesses ibéricos que visavam, primordialmente, à exploração de riquezas naturais para o abastecimento de seus mercados. A conturbada situação política e religiosa da Inglaterra nesse período, marcada por violentas perseguições, provocou a fuga de dissidentes puritanos que buscavam na América uma nova atmosfera e uma oportunidade de enriquecimento. Assim, fundaram no norte dos EUA a Nova Inglaterra.
Criou-se ali uma cultura de subsistência, baseada na pequena propriedade, usando mão-de-obra livre e assalariada. Já a colonização do sul, propícia para a produção de gêneros tropicais, deu-se em bases mercantilistas, buscando atender às necessidades da metrópole caracterizada. No sul, prevaleceram o latifúndio, a monocultura e o trabalho escravo.
Apesar das diferenças entre as colônias do norte e do sul, as 13 colônias tinham certa dose de autonomia, com governadores eleitos pela população local. As colônias tinham liberdade absoluta umas em relação às outras e apresentavam-se ao poder real da Inglaterra totalmente separadas. O comércio se desenvolveu e ultrapassou as fronteiras. Peixe, madeira, gado eram vendidos nas Antilhas, de onde eram comprados o melaço e o rum. A bebida era posteriormente trocada na África por escravos para as colônias do Sul.

Processo de Independência

Em meados do século 18, a disputa entre Inglaterra e França pelo comércio mundial acabou chegando à América. Assim, em 1756, iniciou-se a Guerra dos Sete Anos, em que a Inglaterra, envolvida com outros palcos do conflito, deixou praticamente aos colonos a defesa de suas possessões na América. A luta contra os franceses e seus aliados indígenas despertou nos colonos um forte sentimento de autoconfiança, bem como a consciência de sua força militar. Pela primeira vez, as 13 colônias uniram-se em torno de um ideal comum. Vários líderes militares surgiram nesta época, entre eles o aristocrata George Washington.
A inglaterra saiu-se vitoriosa do conflito contra a França, surgindo, porém, uma forte crise econômica em virtude dos gastos militares. Para recurerar seu erário (dinheiro público), os ingleses adotaram uma nova política administrativa sobre suas colônias, caracterizada pelo arrocho. A liberdade comercial que os colonos tinham até então restringiu-se às rígidas práticas do pacto colonial.
Com o término da Guerra dos Sete Anos, a Inglaterra proibiu a apropriação de terras situadas a oeste, alegando serem reservas indígenas. O fato causou forte descontentamento entre os colonos, ávidos por novas terras. No ano seguinte, a Inglaterra promulgou a Lei do Açúcar, que estabelecia uma taxa sobre o melaço comercializado pelos colonos em outros países. Logo depois, veio a Lei do Selo, pela qual a metrópole inglesa determinava que vários produtos, como jornais, revistas, baralhos e livros, fossem sobretaxados com um selo. Finalmente, em 1767, o Parlamento britânico aprovou a Lei do Chá, que dava monopólio de comercialização do produto à Cia Inglesa das Índias Orientais.
Os colonos protestaram contra a Lei do Chá e a Inglarerra reagiu com a promulgação das "Leis Intoleráveis". Os colonos reuniram-se em 1775, na cidade da Filadélfia, num congresso que reivindicava a revogação das leis. Ocorreram alguns choques entre colonos e soldados ingleses e a relação entre eles foi se deteriorando. Um ano depois, os colonos realizam o segundo congresso, rompendo com a Inglaterra e aprovando a Declaração da Independência, elaborada por Thomas Jefferson.
A Guerra da Independência durou até 1781, liderada por George Washington. A França, a Espanha e a Holanda apoiaram os colonos e a vitória decisiva contra a Inglaterra aconteceu em Yorktown, na Virgínia. Somente em 1783, entretanto, a Inglaterra reconheceu a independência das 13 colônias da América do Norte. Finalmente, em 1787, ficou pronta a Constituição, que definiu um regime republicano para os EUA.

(Fonte: CAVALCANTI, Erica. Disponível em:http://educacao.uol.com.br/historia/independencia-dos-eua-a-falencia-do-regime-colonial-na-america.jhtm)

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Documentos secretos revelam a verdade por trás do colapso soviético - Christian Neef.

Os comunistas radicais deram um golpe contra Mikhail Gorbachev 20 anos atrás, e a União Soviética caiu pouco depois. Documentos antes desconhecidos, obtidos pelo “Spiegel”, mostram como o último líder soviético estava desesperado enquanto lutava para se manter no poder – e como ele implorou à Alemanha por dinheiro para salvar seu país.
Há um momento determinado – uma única decisão- que algumas pessoas ainda guardam contra Mikhail Gorbachev hoje, 20 anos depois. Gorbachev, o último líder do Partido Comunista Soviético e último presidente da União Soviética, sua mulher e seu círculo de confiança mais próximo sobreviveram à tentativa de golpe da KGB, dos comandantes das forças armadas e do ministro do interior. Eles tiveram permissão para voltar para Moscou da prisão domiciliar imposta na casa de férias de Gorbachev em Foros, na Crimeia. Seu avião pousou na capital às 2h15 da manhã, hora local, no dia 22 de agosto de 1991.Nos três dias anteriores, cerca de 60.000 pessoas tinham acampado na frente da Casa Branca russa, o assento parlamentar da República Soviética, que tinha se tornado o reduto dos defensores de Gorbachev. Quando ouviram no rádio que ele havia sido liberado da prisão domiciliar na península da Crimeia, eles deram vivas, gritaram “presidente, presidente” e esperaram a chegada de Gorbachev, que na época estava com 60 anos.
Contudo, Gorbachev, que só foi liberado por que os líderes do golpe tinham ficado com medo de seu próprio povo e não se aventuraram a invadir a Casa Branca, chocou seus camaradas russos em júbilo. Em vez de pedir para ser levado do aeroporto diretamente para junto de seus partidários, e em vez de saborear o momento de vitória e celebrar a derrota dos conspiradores, ele mandou o motorista levá-lo à sua datcha. Ele passou o resto da noite em casa e foi trabalhar no Kremlin na manhã seguinte.
Pelos padrões de hoje, foi uma gafe de relações públicas sem tamanho. Mas os três dias de prisão domiciliar na península da Crimeia não havia apenas confundido o país, também prejudicado o equilíbrio interno de Gorbachev – e especialmente da mulher dele, Raisa Maximovna Gorbachova.

Passado eliminado

A mulher de Gorbachev foi quem pagou o maior preço pelos três dias. No voo de volta para Moscou, ela precisou se deitar. Tinha hematomas nos olhos, a fala estava prejudicada e sentia um lado do corpo paralisado. Os médicos diagnosticaram um derrame, que depois se concluiu ter sido um ataque severo de hipertensão.
O estresse daqueles dias, quando a União Soviética estava chegando ao fim após quase 69 anos de existência, foi demais para os Gorbachev. Quem agora brilhava como novo astro político em Moscou não era o diretor do Kremlin, mas seu antigo protegido, Boris Yeltsin. Imediatamente após o golpe, Yeltsin proibiu todas as atividades do Partido Comunista Soviético, do qual Gorbachev havia sido secretário-geral até então. E, com o movimento de secessão entre as repúblicas soviéticas não russas, Gorbachev se tornou um presidente sem um Estado. Logo, o que restava do centro da República da União Soviética seria a Rússia, que Gorbachev não mais controlava.
Raisa Gorbachova passou os dias pós-golpe na varanda da datcha do presidente. 
Foi em um desses dias que ela apagou seu passado, queimando 52 cartas que seu marido havia escrito a ela em viagens oficiais. Eram “cartas de nossa juventude”, como Gorbachev disse mais tarde, cartas que a mulher tinha guardado a vida toda. Mas após suas experiências em Foros, ela ficou com medo, inclusive daqueles que assumiriam o poder no futuro. Ela chorou ao jogar no forno as cartas cuidadosamente preservadas, dizendo ao marido que queria impedir que pessoas de fora se metessem em suas vidas.
Gorbachev, que estava igualmente perdido sobre o que ia acontecer com sua família e o país nas próximas semanas, e que respeitava as opiniões da mulher, seguiu seu exemplo e começou a queimar outros documentos.
Ele jogou 25 cadernos nas chamas. Eles incluíam notas que havia feito quando estava no cargo, detalhes do dia-a-dia da vida política, descrições dos políticos e vários projetos. O único que guardou foi seu diário privado. Quase 20 anos se passaram antes dele citar esse incidente, em uma entrevista de fevereiro de 2011 ao jornal que ele publica, “Novaya Gazeta”.

Arquivo contém milhares de documentos

Os documentos oficiais de seus quase seis anos no cargo foram preservados. Gorbachev levou-os quando anunciou sua renúncia como presidente soviético no final do ano e doou-os para a fundação que tem seu nome. Desde então, cerca de 10.000 documentos estão armazenados na sede da fundação em Leningrad Prospect 39, em Moscou. Eles incluem os arquivos de seus assessores de política externa, Vadim Zagladin e Anatoly Chernyaev.
Os papeis ilustram o período final do experimento comunista. Eles incluem as minutas das negociações com líderes estrangeiros, as recomendações dos assessores de Gorbachev escritas à mão, as observações para conversas de telefone e gravações dessas conversas, notas confidenciais de embaixadores e registros estenográficos de debates no politburo.
Nenhuma das questões com as quais o auto-proclamado reformista da União Soviética foi confrontado nesses anos ficou de fora.
Há memorandos nos quais o líder soviético é aconselhado sobre como pôr fim à guerra no Afeganistão ou como lidar com os judeus que emigravam, ou explicar para ele por que deveria se recusar a se reunir com o líder palestino Yasser Arafat (“Nada real pode ser esperado dele”), ou por que deveria evitar levar Mathias Rust, jovem aviador alemão que pousou ilegalmente um pequeno avião perto da praça Vermelha, à justiça e em vez disso recebê-lo no Kremlin (“Há questões sobre seu estado psicológico”).
Há relatos de fontes de dentro do Partido Comunista da Alemanha Oriental, descrevendo como estavam as condições na Alemanha Oriental e detalhando quem ainda era confiável no politburo em Berlim Oriental. E há relatórios igualmente meticulosos sobre o que a revista francesa “Paris Match” escreveu sobre Raisa Gorbachova, ou o que a cantora russa Alla Pugacheva disse a uma revista alemã sobre a política de perestroica de Gorbachev.

Burocracia ineficiente

A leitura dos documentos é uma volta no tempo. De uma só vez, eles revelam os muitos problemas do sistema calcificado, desde a rebelião de agricultores e mineiros até intelectuais exigindo eleições democráticas. O povo dos Estados bálticos, os georgianos e os moldávios estavam se revoltando contra os russos, enquanto o fim da doutrina Brejnev – a política externa da União Soviética que ditava que os países não poderiam deixar o Pacto de Varsóvia- estava surgindo na Europa Oriental.
Gorbachev, que tinha sido autoridade da província de Stavropol, segurava o leme do país, observando-o sufocar como resultado de seu enorme tamanho e a recusa de sua burocracia em mudar de rumo. Os documentos também mostram que, mesmo sob Gorbachev, a burocracia estava ineficiente como sempre.
O assessor de Gorbachev Anatoly Chernyaev, por exemplo, reclama dos líderes incompetentes do movimento comunista global, como o diretor do Partido Comunista francês Georges Marchais (“cavalo morto”) e Gus Hall, do Partido Comunista EUA (“um filisteu com conceitos plebeus”). Ainda assim, Moscou pagava milhões para seus representantes em torno do mundo.
Nessa época, as lojas na União Soviética estavam sem ovos e açúcar, e até a vodca estava em falta. As condições eram tão ruins que, em setembro de 1988, Chernyaev teve que submeter um pedido escrito para que uma conexão telefônica fosse instalada no apartamento de seu motorista Nikolai Nikolayevich Maikov, para que o secretário-geral pudesse alcançá-lo.
O “Spiegel” também é mencionado repetidamente nos documentos internos do arquivo de Gorbachev. Por exemplo, um memorando de junho de 1987 revela que Chernyaev ficou claramente revoltado com as 54 questões que jornalistas do “Spiegel” enviaram ao líder do Kremlin, que ele caracterizou como “bastante insolentes”. Ele suspeitava que o “Spiegel” pretendia conduzir a entrevista que tinha solicitado a Gorbachev como “um interrogatório”. No memorando, Chernyaev escreve que o Kremlin deveria “é claro, não reagir” ao pedido. O pedido está carimbado com “devolução com negativa”. De fato, a entrevista não aconteceu. Hoje, 24 anos depois, está claro o motivo.
Ainda é tabu

Gorbachev mais tarde usou alguns dos documentos em seus livros, para desgosto da atual liderança do Kremlin. Mas muitos dos documentos são tabus até hoje. Em parte porque se relacionam a decisões ou pessoas sobre as quais Gorbachev ainda não deseja discutir. Mas a maior parte porque não se encaixam com a imagem que Gorbachev fez de si mesmo, ou seja, de um reformista avançando com determinação, gradualmente redesenhando seu enorme país de acordo com suas ideias.
Durante uma visita de pesquisa à Fundação Gorbachev, o jovem historiador russo Pavel Stroilov, que atualmente mora em Londres, secretamente copiou cerca de 30.000 páginas do material arquivado e disponibilizou-as ao “Spiegel”.
Os documentos revelam algo que Gorbachev prefere manter em silêncio: que foi movido a agir pela situação do Estado soviético moribundo e que frequentemente perdia as coisas no caos. Eles também mostram que ele tinha duas caras e, contrário às suas declarações, algumas vezes fazia acordos com os radicais do partido e militares.
Em outras palavras, o líder do Kremlin fez o que muitos estadistas aposentados fazem: retocou sua imagem para que transmitisse a de um honesto reformista.

Tradução: Deborah Weinberg

Veja mais:

(Fonte: NEEF, Christian. Documentos secretos revelam a verdade por trás do colapso soviético.  Disponível em:http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/derspiegel/2011/08/12/documentos-secretos-revelam-a-verdade-por-tras-do-colapso-sovietico.jhtm)

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Colonização dos Estados Unidos - Imigrantes fugiam de perseguições religiosas.

No início do século XVII, chegou à América do Norte a primeira grande onda de imigrantes da Inglaterra, embora a ocupação do território pelos europeus tenha começado desde o século 16. Os recém-chegados começaram a se estabelecer ao longo de mais de 2 mil quilômetros, de nordeste a sudeste do que hoje são os Estados Unidos. Razões de ordem política e geográfica deixariam esses imigrantes e seus descendentes limitados à região costeira do Atlântico Norte pelo menos até a segunda metade do século seguinte.
Ao sul desse território já havia florescentes colônias espanholas na Flórida e no México, e na região de Cuba e Antilhas. Ao norte, existiam dispersos domínios franceses, inimigos tradicionais da Grã-Bretanha, e alguns estabelecimentos militares britânicos. Na direção oeste, além de numerosas tribos indígenas dispostas a impedir a invasão de suas terras, os montes Apalaches e as florestas que os cobriam e se estendiam por trás deles eram obstáculos naturais dificilmente transponíveis.
 Ao longo da faixa costeira, portanto, se fixaram as treze colônias britânicas. Ao norte, fundaram-se Massachusetts, Connecticut, Rhode Island e New Hampshire. No centro, estabeleceram-se Nova Jersey, Pensilvânia, Delaware e Nova York, sendo esta um antigo povoado holandês recolonizado pelos ingleses. Ao sul, foram implantadas a Virgínia, Maryland, Carolina do Norte e Carolina do Sul, e a Geórgia.

Perseguições religiosas

O que buscavam os imigrantes e colonizadores no selvagem continente? Em primeiro lugar, o século 17 caracterizou-se, na Grã-Bretanha e em grande parte da Europa, pelas grandes agitações políticas e perseguições religiosas, além de uma grave crise econômica. Para fugir de conflitos e rebeliões, para poder alcançar alguma liberdade religiosa, ou ainda para ter melhores oportunidades econômicas num mundo novo, muita gente se arriscou a deixar o continente europeu.
Não foi, entretanto, o governo inglês quem bancou essa grande aventura. Pelo contrário, os colonizadores receberam o patrocínio de companhias particulares, que visavam ter lucros com a exploração dos novos territórios. Duas colônias, Virgínia e Massachusetts, foram fundadas por empresas organizadas, nas quais investidores equipavam, transportavam e mantinham os colonizadores.
Em Connecticut, por exemplo, os próprios imigrantes financiavam o transporte e equipamento para seus familiares e empregados. Em outras colônias, seus proprietários - membros da nobreza inglesa que haviam recebido terras do Rei - adiantavam fundos para estabelecer arrendatários em seus domínios da América.

Além dos ingleses

Para garantir um número maior de imigrantes e assim a mão-de-obra necessária para desenvolver as colônias, outros recursos foram empregados, incluindo promessas de vida num paraíso terrestre ou o simples sequestro. Para os imigrantes pobres, o mais comum era a troca de despesas de transporte e manutenção por serviços, obrigando-se o imigrante a trabalhar por um certo número de anos para a companhia que o financiara. Uma vez encerrado esse prazo, ele estava livre e recebia um lote de terra.
A partir de 1680, geralmente em virtude das guerras ou da pobreza, imigrantes de outros países começaram a chegar. Vinham da Alemanha, Irlanda, Escócia, Suíça e França, aumentando a população norte-americana que, nessa década e na seguinte, chegava a 250 mil pessoas. Esse número dobrou a cada 25 anos. Assim, em 1775, a população das colônias chegava a 2,5 milhões de pessoas.


(Fonte: OLIVIEIRI, Antonio Carlos. Colonização dos Estados Unidos. Disponível em: http://educacao.uol.com.br/historia/colonizacao-dos-eua-1-imigrantes-fugiam-de-perseguicoes-religiosas.jhtm) 

terça-feira, 17 de setembro de 2013

A conquista da Ásia.

O comércio entre a Ásia e a Europa remontava ao império romano. A primeira era uma tradicional fornecedora de artigos de luxo ao continente europeu.
Após a Revolução Industrial, essa relação se alterou. A expansão da indústria têxtil inglesa provocou a estagnação do artesanato do artesanato asiático. Depois disto a Ásia passou de vendedora a compradora dos produtos europeus, especialmente os britânicos. Esse foi o primeiro passo para a conquista colonialista europeia.

A conquista da Índia
Já na segunda metade do século XVIII, a Inglaterra iniciou a colonização dessa região. Após conquistar o litoral, o governo inglês, auxiliado pelas Companhias das Índias Orientais, iniciou a investida para o interior. Valendo-se das rivalidades que dividiam os principais estados da Índia, a Inglaterra, ora aliando-se, ora dominando pela força, impôs sua autoridade sobre todos os reinos.
Em 1857 estourou a Revolta dos Cipaios, última tentativa de resistência a conquista britânica, duramente reprimida pelo exército colonialista. Em 1876 a rainha Vitória, da Inglaterra, foi coroada imperatriz da Índia. O domínio britânico na Índia permaneceu inabalável até 1919.

A China
Até a primeira metade do século XIX, o comércio da China com o Ocidente era realizado quase que exclusivamente no porto de Hong-Kong. Os europeus nada tinha vender aos chineses em troca de imensas quantidades de chá, seda e outras mercadorias chinesas.
A situação começou a se modificar quando a Companhias das Índias Orientais passou a contrabandear ópio para a China. O ópio era produzido na Índia e na Birmânia, em grandes plantações exploradas pelos europeus, e seu tráfico para a China gerava enormes lucros.
O governo chinês apelou ao governo inglês, na tentativa de evitar o contrabando. Como não obtivesse resultados, tomou medidas mais enérgicas: em 1839, na cidade de Cantão, foram queimadas 20.000 caixas de ópio. A Inglaterra reagiu prontamente, declarando guerra à China.
Vencido pelo poderio naval inglês, o governo chinês assinou o Tratado de Nanquim, em 1842. A Inglaterra anexou Hong Kong ao seu império; 5 portos chineses foram abertos ao comércio inglês; e os cidadãos ingleses tornaram-se imunes às leis e à justiça chinesa.
Depois dessa derrota, a China se transformou em alvos de outras potências imperialistas. Em fins do século XIX, Inglaterra, Alemanha, Japão, Estados Unidos, França e Itália dividiam entre si os lucros vindos da exploração chinesa.
Em 1851 estourava na China uma grande revolta popular, liderada pelo movimento Taiping, “a grande paz”. Essa revolta só foi debelada em 1864. Mas sua herança não se perdeu e, em 1901, outro movimento estourava na China: era a “Revolta dos Boxers”, assim conhecida porque seus integrantes utilizavam-se das artes marciais chinesas para atacar os europeus. Também foi duramente reprimida.
    
As outras regiões da Ásia
Na segunda metade do século XIX o Sudeste asiático foi reduzido à condição de colônia francesa. Em 1859, após 57 anos de luta, a França conseguiu dominar as cidades de Saigon e Tourane. Pouco tempo depois, valendo-se da rivalidade entre os governos do Camboja e do Sião, o império colonialista francês converteu o Camboja em seu protetorado (1863).
Com o avanço das fronteiras coloniais franceses para o oeste, a Inglaterra impôs sua autoridade à Birmânia (1886).
Para garantir a supremacia britânica sobre a Índia, a Inglaterra fomentou a formação de “estados intermediários”, independentes mas sob a proteção britânica, isolando as fronteiras do império colonial inglês das regiões disputadas por outras potências. Foi o caso do Nepal (1816), do Butão (1865) e do principado de Sikkin (1890).

(Fonte: PEDRO, Antonio. História Geral. São Paulo: Editora Atual, 1995.)

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Terrorismo dos EUA ameaça a humanidade.

A humanidade enfrenta a mais grave crise de civilização da sua
história. Ela difere de outras, anteriores, por ser global, afetando a totalidade do planeta. É uma crise política, social, militar, financeira, econômica energética, ambiental, cultural.O homem realizou nos últimos dois séculos conquistas prodigiosas. Se fossem colocadas a serviço da humanidade, permitiriam erradicar da Terra a fome, o analfabetismo, as guerras, abrindo portas a uma era de paz e prosperidade.
Mas não é o que acontece. Uma minoria insignificante controla e consome os recursos naturais existentes e a esmagadora maioria vive na pobreza ou na miséria.
 O fim da bipolar idade, após a desagregação da URSS, permitiu aos Estados Unidos adquirir uma superioridade militar, politica e econômica enorme que passou a usar como instrumento de um projeto de dominação universal. As principais potências da União Europeia, nomeadamente o Reino Unido, a Alemanha e a França tornaram-se cúmplices dessa perigosa politica. O sistema de poder que tem o seu pólo em Washington, incapaz de encontrar solução para a crise do seu modelo, inseparável da desigualdade social, da sobre-exploraçao do trabalho e do esgotamento gradual dos mecanismos de acumulação, concebeu e aplica uma estratégia imperial de agressão a povos do chamado Terceiro Mundo.
Em guerras ditas de baixa intensidade, promovidas pelos EUA e seus aliados, morreram nos últimos sessenta anos mais de trinta milhões de pessoas. Algumas particularmente brutais, definidas como "preventivas", visaram o saque dos recursos naturais dos povos agredidos.
Reagan criou a expressão "o império do mal" para designar a URSS no final da guerra-fria. George Bush pai vulgarizou o conceito de "estados canalhas" para satanizar países cujos governos não se submetiam às exigências imperiais. Entre eles incluiu o Irã, a Coréia Popular, a Líbia e Cuba.
Em setembro de 2001, após ao atentados que destruíram o World Trade Center e demoliram uma ala do Pentágono, George W. Bush (o filho) utilizou o choque emocional provocado por esse trágico acontecimento para desenvolver uma estratégia que fez da "luta contra o terrorismo" a primeira prioridade da politica estadounidense. Uma gigantesca campanha midiática foi desencadeada, com o apoio do Congresso, para criar condições favoráveis à implantação da política defendida pela extrema-direita. Segundo Bush e os neocon, "a segurança dos EUA" exigia medidas excepcionais na política internacional e na interna.
Os grandes jornais, as cadeias de televisão, as rádios, explorando a indignação popular e o medo, apoiaram iniciativas como o Patriot Act que suspendeu direitos e garantias constitucionais, legalizando a prática de crimes e arbitrariedades. A irracionalidade contaminou o mundo intelectual e até em universidades tradicionais professores progressistas foram despedidos e houve proibição de livros de autores celebres. A campanha adquiriu rapidamente um carácter de caça às bruxas, com perseguições maciças a muçulmanos. Uma vaga de anti-islamismo varreu os EUA, com a cumplicidade da grande mídia. O Congresso legalizou a tortura.
No terreno internacional, o povo do Afeganistão foi a primeira vítima da "cruzada contra o terrorismo". Os EUA, a pretexto de que o governo do mullah Omar não lhe entregava Bin Laden - declarado inimigo número um de Washington - invadiu, bombardeou e ocupou aquele país. Seguiu-se o Iraque após uma campanha de desinformação de âmbito mundial. O Governo de Bagdá foi acusado de acumular armas de extermínio massivo e de ameaçar portanto a segurança dos EUA e da Humanidade. A acusação era falsa, como se provou mais tarde, e os EUA não conseguiram obter o apoio do Conselho de Segurança. Mas, ignorando a posição da ONU, invadiram, vandalizaram e ocuparam o país. Inicialmente contaram somente com o apoio do Reino Unido.
Crimes monstruosos foram cometidos no Afeganistão e no Iraque pelas forças de ocupação. A tortura de prisioneiros no presídio de Abu Ghrabi assumiu proporções de escândalo mundial. Ficou provado que o alto comando do exército e o próprio secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, tinham autorizado esses atos de barbárie. Mas a Justiça norte-americana limitou-se a punir com penas leves meia dúzia de torcionários.
Simultaneamente, milhares de civis, acusados de "terroristas" - muitos nunca tinham sequer pegado numa arma - foram levados para a base de Guantánamo, em Cuba, e para cárceres da CIA instalados em países da Europa do Leste.
As Nações Unidas não somente ignoraram essas atrocidades como acabaram dando o seu aval à instalação de governos títeres em Kabul e Bagdá e ao envio para ali de tropas de muitos países. No caso do Afeganistão, a NATO, violando o seu próprio estatuto, participa ativamente, com 40.000 soldados, da agressão às populações. Dezenas de milhares de mercenários estão envolvidas nessas guerras.
Em ambos os casos, Washington sustenta que essas guerras preventivas representam uma contribuição dos EUA para a defesa da liberdade, da democracia, dos direitos humanos e da paz e foram inspiradas por princípios e valores éticos universais. O presidente Barack Obama, ao receber o Premio Nobel da Paz em Oslo, defendeu ambas, num discurso farisaico, como serviço prestado à humanidade. Isso no momento em que decidira enviar mais 30.000 soldados para a fogueira afegã.
Os fatos são esses. Apresentando-se como líder da luta mundial contra o terrorismo, o sistema de Poder dos EUA faz hoje do terrorismo de Estado um pilar da sua estratégia de dominação.
A criação de um exército permanente em África - o Africom –, os bombardeamentos da Somália e do Iémen, a participação na agressão ao povo da Líbia inserem-se nessa politica criminosa de desrespeito pela Carta da ONU.
Mas a ambição de poder absoluto de Washington é insaciável. O Irã, por não capitular perante as exigências do sistema de Poder hegemonizado pelos EUA, é há anos alvo permanente da hostilidade dos EUA. Washington tem saudades do governo vassalo do Xá Pahlevi e cobiça as enormes reservas de gás e petróleo iranianas.
A campanha de calúnias, apoiada pela mídia, repete incansavelmente que o Irã enriquece urânio para produzir armas atômicas. A acusação é gratuita. A Agência Internacional de Segurança Atômica não conseguiu encontrar qualquer indício de que o país esteja a utilizar as suas instalações nucleares com fins militares. O presidente Ahmanidejah, alias, de acordo com o Brasil e a Turquia, numa demonstração de boa fé, propôs-se a enriquecer o urânio no exterior. Mas essa proposta logo foi recusada por Washington e pelos aliados europeus.
Sobre as armas nucleares de Israel, obviamente, nem uma palavra. Para os EUA, o Estado sionista e neo fascista, responsável por monstruosos crimes contra os povos do Líbano e da Palestina, é uma democracia exemplar e o seu melhor aliado no Médio Oriente. O agravamento das sanções que visam estrangular economicamente o Irã é acompanhado de declarações provocatórias do presidente Obama e da secretaria de Estado Clinton, segundo as quais "todas as opções continuam em aberto", incluindo a militar. Periodicamente jornais influentes divulgam planos de hipotéticos bombardeamentos do Irão, ou pelos EUA ou por Israel, sem excluir o recurso a armas nucleares táticas. O objectivo é manter a tensão na guerra não declarada contra um país soberano.
 Lamentavelmente, uma parcela importante do povo dos EUA assimila as calunia anti iranianas como verdades. A maioria dos estadunidenses desconhece a gravidade e complexidade da crise interna. A recente elevação do teto da dívida pública de mais de 14 trilhões de dólares para 16 trilhões - total superior ao PIB do pais – é, porém, reveladora da fragilidade do gigante que impõe ao mundo uma política de terrorismo de estado.
 Entretanto, o discurso oficial, invocando os "pais da Pátria", insiste em apresentar os EUA como o grande defensor da democracia e das liberdades, vocacionado para salvar a humanidade. Sem o controle pelo grande capital da esmagadora maioria dos meios de comunicação social e dos áudio visuais pelo sistema de poder imperial, a manipulação da informação e a falsificação da História não seriam possíveis. Um instrumento importante nessa politica é a exportação da contra-cultura dos EUA, país - registe-se - onde coexiste com a cultura autêntica.
A televisão, o cinema, a imprensa escrita e, hoje, sobretudo a Internet cumprem um papel fundamental como difusores dessa contra cultura que nos países industrializados do Ocidente alterou profundamente nos últimos anos a vida cotidiana dos povos e a sua atitude perante a existência.
A construção do homem formatado principia na infância e exige uma ruptura com a utilização tradicional dos tempos livres. O convívio familiar e com os amigos é substituído por ocupações lúdicas frente à TV e ao computador, com prioridade para jogos violentos e filmes que difundem a contra cultura com prioridade para os que fazem a apologia das Forças Armadas dos EUA.
A contra cultura atua intensamente no terreno da música, da canção, das artes plásticas, da sexualidade. A contra música que empolga hoje multidões juvenis é a de estranhas personagens que gritam e gesticulam, exibindo roupas exóticas, berrantes em gigantescos palcos luminosos, numa atmosfera ensurdecedora, em rebeldia abstrata contra o vácuo.
O jornalismo degradou-se. Transmite a imagem de uma falsa objetividade para ocultar que a mídia a serviço da engrenagem do poder insiste, com poucas excepções, em justificar as guerras americanas como "cruzada anti-terrorista" em defesa da humanidade porque os EUA, nação predestinada, batalhariam por um mundo de justiça e paz.
É de justiça assinalar que um número crescente de cidadãos americanos denunciam essa estratégia de Poder, exigem o fim das guerras na Ásia e lutam em condições muito difíceis contra a estratégia criminosa do sistema de poder. Nestes dias em que se multiplicam as ameaças ao Irã, é minha convicção de que a solidariedade atuante com o seu povo se tornou um dever humanista para os intelectuais progressistas.
Visitei o Irã há cinco anos. Percorri o pais de Chiraz ao Mar Cáspio. Escrevi sobre o que vi e senti. Tive a oportunidade de verificar que é falsa e caluniosa a imagem que os governos ocidentais difundem do país e da sua gente. Independentemente da minha discordância de aspectos da politica interna iraniana - nomeadamente os referentes à situação da mulher - encontrei um povo educado, hospitaleiro, generoso, amante da paz, orgulhoso de uma cultura e uma civilização milenares que contribuíram decisivamente para o progresso da humanidade.
Para mim o Irã encarna muito mais valores eternos da condição humana do que a sociedade norte- americana, cada vez mais robotizada.
Porto, Portugal, 10 de Agosto de 2011.

* Escritor e jornalista português. Foi docente de Historia Contemporânea, deputado à Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa e membro do Parlamento Português.

domingo, 15 de setembro de 2013

Apartheid na África do Sul - processo e a África hoje.


 O fim do Apartheid há 20 anos.

  (De Klerk e Mandela se cumprimentam, no Fórum Econômico Mundial, em janeiro de 1992, dois meses antes do referendo | Foto: World Economic Forum.)

 Felipe Prestes e Samir Oliveira
“Você apoia o processo de reformas que o presidente começou no dia 2 de fevereiro de 1990, cujo objetivo é uma nova Constituição por meio de negociação?”. No dia 17 de março de 1992 – há exatos 20 anos, portanto — 2,8 milhões de sul-africanos brancos foram às urnas para responder a questão acima. Mais de 68% marcaram “sim” e referendaram as ações do presidente Frederik De Klerk rumo a uma nova Constituição, negociada com lideranças negras, que poria fim ao regime racista do Apartheid.
Entre os primeiros passos dados por De Klerk em 1990 estavam o fim da clandestinidade de partidos como o Congresso Nacional Africano e a liberdade de seu principal líder, Nelson Mandela. O presidente também revogou várias leis do arcabouço jurídico que sustentava o regime de segregação racial. Mas a decisão dos brancos no referendo de 1992 não partiu de uma tomada de consciência, mas falta de opção. Apenas uma minoria branca apoiava nas ruas a liberdade aos negros, e o próprio De Klerk antes de se tornar presidente não defendia o fim do Apartheid.
“Não foi uma mera concessão dos brancos aos negros. Os brancos ficaram encurralados”, conta Analúcia Danilivicz, professora de Relações Internacionais da UFRGS e pesquisadora do Cebrafrica – Centro Brasileiro de Estudos Africanos da universidade. Danilivcz, que vai publicar em breve o livro “A Revolução Sul-Africana: Revolução Social ou Libertação nacional?”, explica que a tensão na África do Sul beirava a guerra civil. “Passou a ser impossível controlar as leis de contenção dos negros. Na medida em que a crise ia aumentando, os negros levavam o caos às cidades e como resultado disto vem a repressão. Ou os brancos davam os direitos a essa maioria para que a instabilidade fosse contida, ou acabariam sucumbindo”.

 (Danilevicz: "O governo do Apartheid tinha o papel de bastião anti-comunista na região. Quando a União Soviética deixa de existir, não tem a menor relevância ter aquele grupo no poder na África do Sul" | Foto: Cristiano Estrela/Sindibancários)

O regime criado em 1948 se tornou insustentável com o aumento da tensão interna, mas também por fatores econômicos e de relações internacionais. A crise econômica que atingiu o mundo inteiro na década de 1980 não poupou a África do Sul. A instabilidade se agravou porque o país passou a sentir cada vez mais as sanções impostas pela comunidade internacional. Durante a Guerra Fria, ter um regime branco e capitalista encravado no sul da África fora estratégico para as potências ocidentais, na medida em que grupos de esquerda apoiados pela União Soviética tomavam o poder em países vizinhos, como Angola e Moçambique. O regime racista era fortemente militarizado, com apoio velado de potências bélicas da Europa, Estados Unidos e Israel. Assim, o regime conseguia sufocar, inclusive, grupos guerrilheiros que existiam desde os anos 1960.
Quando De Klerk assumiu o poder, em 1989, mesmo ano da queda do Muro de Berlim, a situação já era diferente. “O governo do Apartheid tinha o papel de bastião anti-comunista na região. Quando a União Soviética deixa de existir, não tem a menor relevância ter aquele grupo no poder na África do Sul. Se torna melhor para o Ocidente um governo de maioria que abra a economia do país, se adequando ao neoliberalismo. Aí o discurso dos direitos humanos vem à tona como crítica internacional ao regime”, explica Danilevcz.

(Massacre de Shaperville, quando policiais mataram 69 pessoas, ajudou a empurrar os negros para a guerrilha.)

   “Sabedoria política levou a uma transição negociada”, diz professor da UnB.
O pensamento da pesquisadora da UFRGS converge com o de Pio Penna Filho, professor de Relações Internacionais da UnB. “Quando houve o referendo, os brancos sabiam que o regime já tinha acabado”, afirma o especialista em África contemporânea. Entre os antecedentes que levaram à derrocada do Apartheid, Penna cita também a conjuntura internacional com o fim da Guerra Fria e a crise econômica dos anos 1980. Ele também relata que as manifestações dos negros eram cada vez mais radicais a partir do final dos anos 1970 e durante os 80. “Os jovens negros perderam a paciência com líderes que tentavam uma conciliação”, afirma.
De fato, durante a década de 1980, atentados à bomba, por exemplo, se tornavam comuns. Ainda assim, o fim do Apartheid deu lugar à conciliação. De um lado, o Partido Nacional se deu conta de que era preciso abrir o regime para não ser engolido. De outro, líderes como Mandela aceitaram negociar. “Conta aí a sabedoria política de um grupo do Partido Nacional, liderado por De Klerk, de fazer uma transição negociada. Do outro lado, havia um grupo disposto a negociar, o CNA, e Mandela foi o fiel da balança, ele era adorado pelos negros e respeitado pelos brancos”, afirma Penna.
Para o professor da UnB, a presença de Mandela foi determinante para que o fim do regime de exclusão racial não terminasse de maneira sangrenta. “Foi um golpe de sorte terem mantido este homem vivo, um homem de sua altivez. Se não, acho que o Apartheid terminaria de outra maneira”, diz.
Analúcia Danilivicz explica que o CNA é uma organização com uma história bastante peculiar. O partido completa cem anos em 2012 e surgiu tentando negociar com os brancos. A partir de 1960, há uma inflexão rumo a guerrilha, motivada pelo Massacre de Shaperville, em que a polícia reprimiu 20 mil negros que protestavam contra a Lei do Passe, que os obrigava a portar cartões de identificação, onde estavam escritos os locais de Johanesburgo onde poderiam transitar. Sessenta e nove pessoas foram mortas a tiros e 186 ficaram feridas, entre elas mulheres e crianças. “Ali o CNA se deu conta que não ia adiantar tentar estabelecer um diálogo com o Partido Nacional”, conta a professora da UFRGS.
 Ainda assim, quando seu principal líder é solto em 1990, o partido volta às origens, capitaneando a negociação para um governo em que a maioria negra fosse livre. Em 1993, enquanto tratavam da nova Constituição, Mandela e De Klerk ganharam conjuntamente o Nobel da Paz “por seu trabalho pelo fim pacífico do Apartheid e por criarem as bases de uma nova e democrática África do Sul”.


  África do Sul ainda não se libertou completamente do Apartheid
 Em 1994, ocorre a primeira eleição com participação dos negros. O CNA vence com 62% dos votos, mas governa junto com o Partido Nacional, que teve 20%, em um governo de “unidade nacional”, conforme já fora estabelecido pela Constituição “interina”, de 1993 – em 1996, entra em vigor a Constituição definitiva da África do Sul pós-Apartheid. Mandela foi alçado presidente e, desde aquela eleição, o CNA sempre foi o partido mais votado, tendo atualmente Jacob Zuma à frente do governo sul-africano.
Apesar da primazia do partido que lutou pela liberdade dos negros, a exclusão social permanece, bem como o racismo. Na questão social, pesa o fato de que tudo o que era dos brancos continuou com eles. “As propriedades foram mantidas na mão dos brancos. Comenta-se que isto fez parte do acordo entre as altas lideranças”, conta Pio Penna Filho. “Foi uma conversão de eixos que levou o Partido Nacional a procurar o principais lideres do CNA e negociar uma transição para que os negros chegassem ao poder, mas os brancos não perderam sua inserção na economia. Hoje, 80% da economia está nas mãos dos brancos. A minoria branca influencia na capacidade de gestão nos três governos negros que tivemos pós-Apartheid”, afirma Analúcia Danilivicz.
“O Apartheid deixa um legado terrível de racismo e de exclusão social. Enquanto havia este regime, a renda só era distribuída entre os brancos”, explica Penna Filho. O professor da UnB pondera que, embora a desigualdade persista, muitos negros conseguiram ascender socialmente após o fim do regime racista. “Houve mudanças com a promoção de políticas públicas. Hoje já há classe média negra e negros ricos”, diz.

(Estátuas de Albert Luthuli, Desmond Tutu, Frederik de Klerk e Nelson Mandela. Três líderes negros e um branco, todos agraciados com Prêmio Nobel da Paz | Foto: flowcomm/Flick)

“Durante 350 anos o sistema econômico sul-africano foi dominado pelos brancos. Temos 17 anos de governo de maioria negra. Em apenas duas décadas é impossível transformar totalmente um sistema fundado na exploração, na segregação e na discriminação que vigorou esse tempo todo”, opina Analúcia Danilivcz.
As relações entre brancos e negros também permanecem sendo problemáticas. Em 1995, foi estabelecida a Comissão da Verdade e da Reconciliação, que estabeleceu anistia para todos os que confessassem crimes relacionados ao Apartheid e aceitassem depor. A comissão é tida como um dos exemplos internacionais de justiça de transição, mas não há ainda uma real reconciliação no país.
“Resta um racismo em grandes proporções, entre as gerações que viveram o Apartheid. A África do Sul deve superar isto em dez, vinte anos. De 1994 para cá é que crianças negras e brancas passaram a brincar juntas”, afirma Penna. “Esse regime, que vigorou durante praticamente toda a segunda metade do século XX, pode ter sido aniquilado juridicamente, mas não foi aniquilado no entendimento e nos valores das pessoas”, diz Danilivcz.
                                           
  Entenda o Apartheid
A África do Sul possui uma peculiaridade em relação aos demais países africanos. O país foi colonizado durante desde o século XVII por europeus de diversas nacionalidades, como alemães, holandeses e franceses. “Durante os processos de descolonização, as elites brancas na África regressaram a seus países de origem, Na África do Sul eles ficaram e constituíram uma comunidade branca permanente. Logo, eles vão se entender como brancos africanos”, explica Analúcia Danilivcz.
Arraigados ao continente africano, estes colonos, conhecidos como afrikâners ou bôeres, chegam a entrar em conflito com os ingleses pela posse da região, no final do século XIX. Ainda assim, os europeus sempre foram franca minoria populacional na África do Sul, por isto a preocupação em ter um controle estrito sobre a população negra. “Essa minoria branca, para que pudesse se manter no poder, tinha que ter um controle absoluto sobre a maioria negra e o controle chegou ao extremo quando o Apartheid foi constituído e sendo aprimorado”, relata a professora de Relações Internacionais da UFRGS.
As primeiras leis racistas são criadas no século XIX nos territórios bôeres no interior da África do Sul, onde estes sul-africanos de origem europeia se refugiaram da Coroa inglesa. A legislação dispõe que negros só têm direito a, no máximo, 7,5% das terras, e os bôeres a 92,5%.
 Entre 1910 e 1961, a África do Sul possui autonomia, apesar de ainda ser subjugada aos britânicos.
Já durante este período, em 1948, é criado o regime do Apartheid pelo Partido Nacional, que dá um contorno definitivo a uma série de leis de segregação que àquela altura já existiam. Os cidadãos são classificados em quatro categorias “brancos”, “nativos”, “mestiços” e “asiáticos”. Os negros (“nativos”) são obrigados a viver nos “bantustões”, territórios onde moram e só saem para trabalhar para os brancos. Os bantustões são considerados países independentes. Uma farsa para que os sul-africanos negros não tivessem qualquer direito nas leis da África do Sul branca, uma vez que não eram nem considerados cidadãos do país.
“As leis de segregação racial vêm do final do século XIX, de controle sobre a terra, sobre o trabalho.
O que acontece em 1948 é uma sofisticação dessa legislação e o controle expresso sobre a população. Vêm como decorrência disso a impossibilidade do negro ser proprietário de bens, de ele transitar no país livremente. São criados os bantustões. As antigas reservas negras são transformadas em áreas independentes, isso tudo muito relativizado, claro, porque, na verdade, eles foram jogados nessas áreas. Os negros perdem a cidadania sul-africana, que na verdade nunca tiveram”, conta Analúcia Danilivcz.
Segundo a pesquisadora do Cebrafrica, o objetivo de tudo isto era, mesmo em minoria, conseguir ter o controle sobre o trabalho dos negros. “Os brancos precisavam controlar exclusivamente a força de trabalho. Os negros necessários ao trabalho iam ser incorporados aos setores de produção sem nenhum direito, tinham um salário inferior aos dos brancos que tinham a mesma atividade. E quando terminasse a jornada tinham que ir para as áreas exclusivas dos negros”

   (Fonte: http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-fim-do-apartheid-ha-20-anos/19/03/2012. Acesso em: 30 de maio de 2012)

sábado, 14 de setembro de 2013

A Grande Arte da Luz e da Sombra - Arqueologia do Cinema.



O livro A grande arte da luz e da sombra – arqueologia do cinema, de Laurent Mannoni é indicado a todos os que tem interesse em aprofundar sobre a história do cinema muito além do glamour que a indústria cultural divulga e ampliar, além das fronteiras e ideologias, as verdadeiras contribuições para a gestação, nascimento e crescimento da sétima arte. 
(MANNONI, Laurent. A grande arte da luz e da sombra – arqueologia do cinema. São Paulo: SENAC  São Paulo: UNESP, 2003.)

Essa obra nos mostra que foi no século XIX que as tentativas (e sonhos) de congelar momentos presentes de alguma situação/fato puderam se concretizar (inicialmente) a partir da criação/desenvolvimento técnico e evolução da fotografia, que serviu para registrar movimentos dos animais e ações da natureza e identificar (e distinguir) as características únicas do indivíduo. Mas essa técnica que vinha sendo buscada e pretendida a muitos anos/séculos pelos pesquisadores e estudiosos de séculos anteriores  - desde o XVI com Christian Huyigens, Athanasius Kircher, Jacques Charles, Étienne-Gaspar ‘Robertson’, Joseph Plateau, Pierre Séguin, Henry-Désiré Du Mont, Edward James Muybridge, Étienne-Jules Marey, -Emile Reynaud, Thomas Edison, Max Skaladanovsky entre tantos outros – não foi o único marco da modernidade que ocorreu/transmutou-se na virada do século XIX para o XX, mas veio reforçada simbolizadas/exemplificadas na mudança da paisagem visual e na velocidade/rapidez no cotidiano. 
É possível percebermos ainda que numa leitura em outro autor (GUNNING, 2004) que  é justamente no contexto novo, e de mudanças amplas, nos modos de trabalhar e produzir  com predomínio (e pressão) do relógio; nos modos de viver com a concentração de pessoas em boulevares para conhecer e buscar o moderno/novo/diferente; e o desenvolvimento de novas idéias no modo de produção capitalista com influência da ciência administrativa de F. Taylor e a linha de montagem de H. Ford, que  “O cinema instalou-se nessa rede de circulação como tecnologia e indústria e também como nova forma de experiência. Como indústria de entretenimento produzida em massa, com um sistema nacional de distribuição em 1909, o comércio cinematográfico explorou as redes de estrada de ferro antes percorridas pelos circuitos de vaudeville e trens de circos. Os primeiros gêneros do cinema, em especial aquelas formas aparentemente diversas como documentários de viagens e filmes de truques, visualizaram uma experiência moderna de alteração rápida, pela apresentação de visões estrangeiras, de locações remotas, ou pela criação, por meio da fotografia trucada, de uma sucessão de transformações que deslocavam a identidade estável de objetos e atores”. (GUNNING, 2004, p.34)
“Mas os registros feitos desses momentos através dos desenhos em placas ou papéis e principalmente pela fotografia compõem o novo panorama da segunda modernidade do capital e encaixa/classifica cada aspecto em seu lugar e importância pois passa a ser um olhar único dentro de um todo interrelacionado. E esse lugar importante e essencial que o cinema ocupou na virada do século XIX para o XX e ainda ocupa atualmente foi antecipado pela “comercialização das fotografias fixas, em especial o cartão-postal e o estereoscópio” (GUNNING, 2004, p.34) 

Esse cinema de nada seria como tal sem os avanços e ‘loucuras’ de abnegados nessa tentativa de parar um tempo ou registrá-lo para a eternidade e gerações futuras, e assim a utilidade da fotografia fixa foi além do uso policial para identificação e registro criminal de representar ficções de situações cotidianas em estúdios criados com esse propósito de moving pictures. É aqui que os estudos de Edward James Muybridge (1830-1904) e Ètienne-Jules Marey (1830-1904) para análise de movimentos corporais tornaram-se importantes e somaram para o avanço da fotografia no caminho do cinematógrafo e sua apresentação pública paga no final do século XIX. 
Foram vários os estudiosos (abnegados) que dedicaram suas vidas – desde a câmera escura e lanterna mágica até antes do cinematógrafo -  a  pesquisa com o intuito de manipular as imagens representativas da natureza em toda a sua imensidão e criar instrumentos ou aperfeiçoar técnicas que possibilitassem isso. Dentre esses está Emily Reynaud (Charles-Emily Reynaud-1844-1918) que é conhecido e citado, na maioria das vezes, como o inventor do praxinoscópio ou o pai da animação fez muito mais pelo aparecimento e pela evolução dessa sétima arte do que os sempre citados ‘inventores’ ou comerciantes das imagens em movimento. Foi devido a sua dedicação e autodidatismo que passou pelas lições e aprendizagens em montagem de instrumentos óticos e científicos, desenho industrial, aprendeu a fazer placas de projeção animadas e pinturas em vidro – além de estudar ciência e latim – e a promoção de cursos de fotografia e de ciência física que conquistou os fundamentos necessários para investir e fazer avançar as pesquisas sobre moving pictures.
Importante citar que o livro destaca ainda que uma das grandes contribuições de Reynaud foi a invenção do praxinoscópio -  cujo funcionamento é tão bem descrito no livro - (1876-1877) e com este o aperfeiçoamento das técnicas de projeção  das imagens que avançou para o teatro óptico – ampliação do primeiro aparelho – que representou um avanço enorme nas projeções animadas. O pesquisador Mannonni (2003, p. 374-378) afirma com clareza e defesa  que “Reynaud ultrapassou todos os seus antecessores em qualidade técnica e artística. Como Robertson antes dele, mas ainda melhor, oferecia longas sessões de projeção em cores, animadas e sonoras.[...] Reynaud não é, portanto, um “precursor”; o que ele fez foi cinema de verdade, tanto como espetáculo como “escritura do movimento.” Mas Reynaud não foi o único personagem/estudioso de destaque e nem a Europa  o único continente que corria atrás dessa busca de controle dos movimentos em imagens. 
É no contexto do século XIX que as  pesquisas anteriores foram coroadas e confluíram para a invenção do cinema, mas não sem ter ocorrido uma ‘corrida’ (final) entre os empresários-inventores e estudiosos para ver quem conseguia se consolidar (com sua invenção) na efetivação de uma série de representações públicas pagas (as PPPP). Nesse contexto apareceram os aperfeiçoadores ou ‘artesãos de última hora’ (MANNONNI, 2003) dos inventos conhecidos e comercializados e das técnicas já existentes, como Georges Demenÿ, os irmãos Otway e Gray Lathan (diretores da KiKinetoscope Exhibition Company – uma das empresas que explorou a invenção de Thomas A. Edison), Léon Gaumont, George Willian  de Bedts, os irmãos Pathé com a fundação da indústria/império cinematográfico com o nome Pathé Frères e os irmãos Auguste e Louis Lumiére (como industriais de fotografia). 
Para encerrar é importante destacar ainda que para muitos estudiosos do cinema como Araújo (1995), Bergan (2007), Sabadin (2009), Sadoul (1963) entre outros a data de  28 de dezembro de 1895 é o grande marco do início do cinema com a apresentação de 20 minutos de imagens em movimento feita pelos irmãos Lumiére no Salão Indiano Grand Café do Boulevard dês Capucines, em Paris considerada a primeira projeção pública paga (PPPP). Enfim é ler para aprender, compreender, para se deleitar e enxergar além da tela. 
Mannonni (2003, p. 57) conta que “A lanterna “mágica” representa a mais duradoura, a mais inventiva, a mais artística das idéias-mestras que antecederam o nascimento do cinema”.