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sexta-feira, 4 de outubro de 2013

“Tá Chovendo Hamburger”: muita comida, fome demais.

(Animação da dupla estadunidense Phil Lord/Chris Miller discute as consequências do mau uso da ciência e a ganância dos poderosos em filme sobre o consumismo e o descontrole da produção de alimentos.) 

Tá chovendo Hambúrguer - Imagem: Blogs Pop.

Ninguém pode negar que os desenhos animados encantam. Não apenas pelas engenhosas histórias, mas, principalmente, pelos personagens que se metem em todo tipo de trapalhada. Muitas delas fantásticas, já que o gênero permite as mais variadas licenças dramatúrgicas. Em “Tá Chovendo Hamburger”, experiência em 3D da dupla de roteiristas e diretores Phil Lord e Chris Miller, essa liberdade mistura ação, aventura e ficção científica, para contar a história do aparvalhado jovem cientista Flint Lockwood (voz de Bill Hader), interessado em fantásticas invenções para justificar suas ambições. Como nas tramas dos cientistas malucos, nada que ele inventa dá certo, e termina por torná-lo motivo de chacota na pequena ilha Boca Grande, perdida no Atlântico Norte. Até que consegue transformar água em comida, usando alta concentração de energia. 
Mas, ao contrário do que se imagina, o filme não discute a fome que acomete a população dos países pobres. É mais uma observação sobre o desmesurado consumismo das sociedades afluentes. Boca Grande, a Chewandswallow, criada pelos escritores Judi e Ron Barrett, vive da pesca de sardinha. Todas suas atividades, brinquedos, cartões, pratos típicos e roteiros turísticos giram em torno dela. O invento de Flint gera nova fonte de renda, atraindo milhares de turistas para o desfrute do prefeito Shelbourn (Bruce Campbell). E assume tal dimensão que a TV envia a repórter estagiária Sam Sparks (Anna Farris) à ilha, para transmissões ao vivo sobre ele e sua criação. Mas também provoca mudanças substanciais em suas relações com o pai Tim Lockwood (James Caan), ganha o carinho do policial negro Earl (Mr.T), que vivia advertindo-o sobre suas trapalhadas, e a atenção amorosa da própria Sparks.

Invento muda perfil econômico da ilha

Se fizer chover sopa e nevar purê de batata já era feito extraordinário, que dirá mudar o perfil econômico da ilha, em si decadente. Ao fazê-lo, gera em Shelbourn ambições incontroláveis. Ele quer sempre mais, pois Boca Grande, com suas sardinhas, já não lhe rende o sucesso esperado. Exige de Flint o “estado de chuva de hambúrguer permanente”, para que possa expandir seus projetos e alçar planos mais altos. Aqui começam as interessantes mutações desta animação, cuja atração maior para o espectador-infantil, em princípio, é sua técnica de projeção em Terceira Dimensão, o conhecido 3D. O que lhe permite vivenciar a trama como estivesse dentro dela. Pode desvendar, assim, a ambição desmedida do vilão Shelbourn, que tudo faz para manter o estado de coisas surgido da inesperada invenção de Flint, o bruxoalquimista.0
Shelbourn introduz na tela o vilão que não quer controlar o mundo para se tornar invencível, quer somente aumentar seu poder político. Se puder alcança o barco que o levará com tudo que obteve para manter sua posição, enquanto a ilha naufraga numa tempestade de torta. É o contraponto perfeito do “herói” Flint, sem ambição alguma, inclusive a de não ter idéia da validade de sua invenção para tirar a humanidade da fome. Ele queria apenas fazer sua máquina funcionar, como se fosse o videogame que se joga e o resultado é o deleite de se alcançar pontos. O inventor, enfim, que Shelbourn queria para levar adiante seus planos políticos. Ao lado deles está a aprendiz de “foca” (repórter principiante), Sparks, que não tem a menor noção do que se passa, transmitindo o que vê sem buscar o conteúdo. Seu intento é conseguir entrevistar Flint, para torná-lo uma celebridade. Está completo o quadro moderno das “inocentes desambições” deste Milênio Iniciante.

Criação de Flint lhe dá muitos problemas

A cobertura do milagroso invento de Flint lhe cria mais problemas que o torna um criador consciente de seu poder transformador Todos veem nele uma maneira de resolver seus dilemas. Earl para satisfazer a fome de seu filho Cal (Bobb´e J. Thompson), o grandalhão Brent (Andy Samberg) uma maneira de se livrar das fraldas de bebê das quais é garotopropaganda e o pai a possibilidade de fracasso do filho, para voltar ao seu negócio de sardinha. Sem contar o já citado Shelbourn que vê sua gestão revigorada, a economia da ilha aquecida, as filas de turistas se multiplicarem incessantemente. Cada um deles, como se vê, tem motivos diferentes para lutar pela perenidade do invento de Flint, mantido em funcionamento graças ao improvisado laboratório montado por ele nos fundos de sua casa. É como se descobrissem uma mina de ouro e todos lutassem para tirar dele seu quinhão. 
Nenhum deles imagina que ele poderia, dado a seu sucesso em todo o mundo, saciar a fome de milhões de trabalhadores. A dupla Lord/Miller não os impulsiona para este dilema. Pelo contrário, envereda por outro caminho: o do consumo incessante de alimentos pelos habitantes da ilha, a ponto de não diferenciarem a necessidade natural, gerada pela fome, da gula e do desperdício. E, devido a isto, chegam ao perigoso hábito de consumir calorias em demasia. Earl ao implorar a Flint por comida para o filho, o exemplifica. O garoto começa por saciar a fome, depois come por ser atraído pelo hambúrguer, até querer engolir tudo ao seu redor. Vai crescendo, engordando, a ponto de quase explodir. O mesmo acontece ao seu redor. Comer para eles não representa mais a necessidade básica é uma ação de simples consumo, o girar da máquina que alimenta a economia pela qual tanto luta Shelborn. Transforma-se, assim, numa droga geradora de divisas, cujo controle é quase impossível.

Tá chovendo Hambúrguer - Imagem: Sonhos de uma garota.

Consumidores não dão conta de tanto alimento

Alguma semelhança com as sociedades centradas no consumo absoluto, etiquetado como consumismo, não é mera coincidência. Com o tempo, a tempestade de pratos variados, dentre eles, pizza, se torna constante. Habitantes de Boca Grande e os turistas já não dão conta da quantidade de iguarias que se abate sobre eles. Flint tem agora o dilema de sua vida: pôr termo a seu invento. E a trama leva-o a uma batalha no céu ao estilo “Guerra nas Estrelas”, pilotando uma máquina com Brent, Sparks e o macaquinho Manny (Benjamim Bratt). Há um combate entre ele e os que procuram manter o caos. Numa ironia entre a abundância, restrita ao consumo de poucos (os habitantes da ilha e os turistas), e a cruel realidade da fome de milhões, ele tem de deter a produção em massa de pratos sofisticados.
“Tá Chovendo Hambúrguer”, uma aparente brincadeira para a criançada que adora hambúrguer e outras iguarias como pizza, não deixa de ter suas sutilezas. Sem discutir a fome que grassa no planeta discute o caos que se estabelece quando a criação não tem objetivo. Assim como surgiu, o invento de Flint não deixa muitas consequências, salvo pelo fato de destacar que se vive numa época de consumo pelo consumo, em que tudo é produto, sem considerar as necessidades básicas do ser humano. Flint, embora conquiste Sparks, não tem mais sucesso que Shelbourn, largado num barco em pleno mar. De um modo ou outro, eles se equivalem: um por querer a invenção a qualquer custo, sem pensar em sua utilização (o velho dilema: ciência x capital), o outro por ver nela utilidade, mas apenas para seus interesses pessoais. 

Centro do filme são hamburguers e pizzas

 São personagens típicos de antigas epopéias em situações modernas. Flint não é o herói positivo que reverte uma situação desfavorável, pondo-se a serviço da justiça e da esperança. Sua luta não segue em linha reta, de fácil identificação. Cria, no entanto, uma empatia com o espectador-mirim devido ao tratamento distante que o pai lhe dedica, o desdém constante sofrido por parte dos que o acham um fracasso e os atropelos que seu invento lhe cria. Porém, como Flint, não se investe contra o vilão Shelbourn, cujas trapaças são comuns ao seu universo, porquanto notícias sobre falcatruas são frequentes em sua TV. Talvez se projete mais na atrapalhada mocinha Sam Sparks, de nome masculino, que morre de amores pelo anti-herói Flint e supere com ele os perigos criados pelo vilão Shelbourn. O centro da ação, porém, são o hamburger, a pizza e a torta gigante desejo de consumo da garotada mundo afora, aqui tão abundante que não provoca fome. 

Tá chovendo Hambúrguer - Imagem: Cinema Uol.

(Fonte: Cloves Geraldo - Jornalista e cineasta, dirigiu os documentários "TerraMãe", "O Mestre do Cidadão" e "Paulão, lider popular". Escreveu novelas infantis, "Os Grilos" e "Também os Galos não Cantam".)

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Toy Story 1 - Pixar.

Na produção do primeiro filme de Toy Story (Pixar - 1995) é possível enxergar várias situações que são um tanto que “naturais” em nosso cotidiano – o que, para deixar claro, não faz delas algo a ser observado com bons olhos, muito pelo contrário –.
Para analisarmos, comecemos por uma situação-exemplo básica, você provavelmente já deve ter visto ao ir a uma loja, alguma criança de “birra” exigindo um brinquedo (ou comida) ao pai ou mãe, usando uma metralhadora de argumentos pelos quais “merece” ou “precisa” ter esse ou aquele objeto... Quem tem filhos deve saber como é isso, quem não tem, vá a um supermercado – por exemplo – e espere a cena acontecer diante de seus olhos. O fato é, você sabe qual é um dos motivos que leva uma criança a uma atitude dessas? Por que existe desde pequeno a necessidade de se obter algo novo? É aí que chegamos a onde queremos chegar, nos filmes. Antes que qualquer um venha falar sobre esta “imposição” de colocar as animações como os vilões da história, já me adianto em dizer que não existe somente um vilão, e sim vários, que unidos moldam um ideal de sistema no qual existe essa necessidade de se obter bens materiais, divulgados principalmente, pela mídia. Como já citei, alguns filmes fazem parte disso, de forma que divulgam e espalham pelo mundo ideais capitalistas pregados em telas de cinema ou de televisões. Então por que não começar a criar aos poucos um senso crítico desde crianças? Afinal, é quando crianças que aprendemos boa parte das coisas que podemos carregar pelo resto de nossas vidas, como falar, certo? Sabemos é que isso se inicia quando ouvimos e codificamos o que nos é passado e após um tempo, aprendemos a falar. Então, obviamente, não é errado afirmar que crianças podem absorver sim algumas mensagens que são passadas em filmes.
Agora que entendemos um pouco sobre o assunto, vamos tentar responder às perguntas feitas no início do texto de forma a relacionar com o filme analisado. É importante citar que é necessário assistir ao vídeo que aparece no final do texto antes de ler os parágrafos seguintes, pois assim é possível contextualizar.    
No primeiro trecho separado, os brinquedos de Andy abrem a porta ansiosos por saber qual é o novo presente de aniversário de seu dono, porém, se surpreendem ao encontrarem Woody no chão, e não na cama, local onde geralmente fica por ser o “brinquedo favorito”. Logo, o Dinossauro se apronta em perguntar assustado “Você foi substituído?”, deixando clara a situação:“brinquedos novos sempre substituem brinquedos velhos”. 
No segundo trecho, quando os outros vão conhecer Buzz (presente de Andy), ficam impressionados com a tamanha tecnologia que ele carrega e o comparam com Woody, que faz coisas que o novo também faz, porém, utilizando de menos modernidade. Uma fala interessante a se citar é uma do Dinossauro, que ao explicar sobre o lugar de onde veio, afirma que sua origem é do Paraguai, mas não tem certeza se todas suas peças vieram do mesmo país, mostrando (em termos simples) a globalização. Mais adiante Buzz demonstra suas habilidades, surpreendendo os brinquedos antigos, que ficam admirados por ele saber voar, ter “lasers” e ser um “patrulheiro do espaço”. 
Toda essa situação foi gerada a partir de outra: em certa parte do filme (não citada no vídeo), aparece na TV um comercial do Patrulheiro, que expõe a situação de que este era primeiramente um desenho animado e após isto virou um brinquedo, neste trecho existe a relação comercial com o uso da televisão mais o consumo de brinquedos por crianças, ou seja, logo após o lançamento deste desenho, usa-se a criança como um objeto para venda de seu produto (no caso personagem) da animação lançada, sabendo que isso geraria lucros para a empresa que os fizesse. 
E é com isso que voltamos em nossa primeira situação, aquela, da criança na loja, se lembra? No filme, é clara a concepção de que o novo substitui o velho e que a mídia emprega um ideal de consumismo. 
Importante deixar claro que não há somente isso a ser analisado, ainda em Toy Story 1 podemos abordar sobre obesidade, redes de fast food, trabalho em grupo etc. Mas isso deixamos para outra postagem.
Veja abaixo trechos do filme que separamos:


Não esqueça de deixar sua opinião... Comente!
(obs: análise ainda sujeita a alterações)

Análise por: Náyade Dessiree.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

A censura nos quadrinhos.

Adesivo que comprovava a autenticidade do quadrinho, 
comprovando que este não continha cenas aceitáveis pela censura.

A censura nos quadrinhos.

Rotular histórias em quadrinhos como coisa de criança nos dias de hoje não afeta em nada o orgulho do leitor, pois ele sabe que isso pertence ao passado. No entanto, a falsa imagem negativa das HQs quase custou sua extinção nas décadas de 40 e 50 nos EUA, em pleno “reinado” de Harry Truman. A derrota dos nacionalistas na China e o início de testes nucleares na URSS propiciou o nascimento de uma psicose anticomunista que gerou consequências desastrosas, como a abertura de processos contra intelectuais esquerdistas (Alger Hiss) e estrangeiros suspeitos de espionagem (o casal Julius e Ethel Rosenberg).
Neste caos idealista, o senador Joseph McCarthy criou, em 23 de setembro de 1950, o Comitê contra as Atividades Antiamericanas: o período tristemente conhecido como “macartismo” (1950/1958). Essa caça às bruxas ocasionou denúncias e perseguições a todos aqueles considerados suspeitos de alguma coisa. Exatamente nessa era, surgiu o monstro que, até hoje, assola a liberdade de criação nos quadrinhos: o COMICS CODE (o Código de Ética).

A Era negra dos Quadrinhos

No início dos anos 50, as revistas em quadrinhos de horror, crime ou qualquer outro tipo, sofriam ataques de educadores, imprensa, grupos de pais, legisladores, igreja, polícia e psiquiatras. Segundo eles, os comics glorificavam violência, crime e sexo. O número de delinquência juvenil estava aumentando e suspeitavam de que as HQs eram, de alguma forma, responsáveis pelo rápido declínio moral da juventude.
O pós-guerra nos EUA deu início a um fanatismo em massa encoberto pelo ultranacionalismo ianque. Entre os muitos inimigos das revistas estava o Dr. Fredric Wertham, um psiquiatra de jovens problemáticos. Seus vários artigos publicados a partir de 1948 começavam a chamar atenção por mostrarem facetas das outrora inofensivas histórias em quadrinhos que ninguém tinha a malícia de enxergar.
Naquela épóca o oportunista Dr. Wertham soube utilizar muito bem a má fama das HQs para aumentar a aversão do público por ela e tornou-se o principal carrasco da oitava arte. Ele fez várias pressões, na tentativa de convencer o governo a assumir uma postura mais rígida contra o que chamava de “mutilação psicológica das crianças”.
Então, em 1954, Wertham desferiu o golpe de misericórida com a publicação do livro “Seduction of the Innocent” (Sedução do Inocente). Escrita de maneira bem simples e popular, a obra trazia, principalmente, anedotas de humor duvidoso mescladas com casos de jovens que, supostamente, haviam sido “afetados” pelas histórias em quadrinhos. De acordo com o autor, tais histórias induziam as crianças a cometerem roubo, estupro, uso de drogas ou, até mesmo, a mudar sues hábitos sexuais. Ainda hoje podemos notar reflexos das represálias moralistas através de Batman & Robin, cuja suspeita de homossexualismo era, e ainda é, flagrante segundo as más línguas. A Mulher Maravilha, por sua vez, foi apontada como um péssimo exemplo para as garotas, pois não passava de uma estandarte do lesbianismo.
 Subcomitês do Congresso foram criados para estudar com mais profundidade a existência do perigo iminente das revistas em quadrinhos. Era o começo da ERA NEGRA DOS QUADRINHOS.

A Vítima

O maior expoente da história do horror nos quadrinhos foi a EC COMICS (antiga EDUCATIONAL COMICS e, então, ENTERTAINMENT COMICS), de William Gaines, e, consequentemente, o grande alvo dos moralistas americanos.
Seu famoso “triunvirato do horror”, que estreou em maio de 1950, era composto por “The Crypt of Terror” (mais tarde rebatizada de “Tales from the Crypt”), “The Vault of Horror” e “The Haunt of Fear”. Em parceria com Al Feldstein, Gaines marcou época com histórias de terror realizadas por grandes artistas como Johnny Craig, Jack Davis, Graham Ingels, George Evans e Jack Kamen. Esse sucesso, porém, não gerou simpatia alguma no Comitê encarregado de julgar as revistas da EC.
Chamado para testemunhar em defesa de sua editora, Gaines não teve argumentos positivos contra a imposição da decência deturpada de seus inquisidores. Uma vez mais, a imprensa sensacionalista cumpriu seu papel e fez o desfavor de manipular a história e conduzir a opinião pública. Afinal, manchetes escandalosas chamavam muito mais atenção do que a verdade.
Para certo espanto dos que eram contra as histórias em quadrinhos, os Comitês abdicaram de sua atuação como tribunal alegando não ser função do Governo moralizar as revistas, pois isso já deveria estar embutido nas próprias editoras. De uma forma sutil, a censura foi sendo imposta como um requisito básico nas publicações do gênero. Nenhum cancelamento precisou ser formalizado. A desgraça já estava feita!

O Comics Code

Cego pelo macartismo, o público começou uma espécie de guerra santa contra as demoníacas HQs. Não bastava queimar apenas as revistas de terror… Praticamente todas as publicações passaram a ser perseguidas. As vendas despencaram. Era a crise editorial provocada por fanáticos no início da época denominada happy days (os tão famosos “dias felizes” ou “anos dourados” que antecederam o fim do sonho americano com a Guerra do Vietnã).
Em pânico, as editoras resolveram se unir e formaram a CMAA – “Comic Magazine Association of America” (Associação das Revistas em Quadrinhos da América), através da qual pretendiam estabelecer um “padrão de moral” para assegurar aos leitores uma revista de “qualidade”. A forma escolhida para diferenciar a “boa” da “má” publicação foi o uso de um selo discreto no canto (esquerdo ou direito) superior das revistas: o Comics Code. 
A demagogia era tamanha, que a CMAA enviou comunicados a jornais, associações comunitárias e outros órgãos envolvidos na moralização das HQs informando que todos os títulos com o selinho estampado em suas capas estariam livres de qualquer indução negativa às crianças. Resumindo, o Comics Code significava o seguinte: a partir de 23 de outubro de 1954 (a data fatídica!), os leitores deixariam de ser ameaçados por vampiros, lobisomens e zumbis e as palavras “terror” e “horror” não poderiam ser usadas em títulos. Consequentemente, a maioria das editoras cancelou suas publicações do gênero para não ter mais problemas com os Comitês ou outras ameaças censoras.
Apesar disso, a grande EC sofreu danos muito mais sérios. Mesmo se submentendo ao código de ética, ela não se livrou da má fama e teve suas revistas devolvidas por várias livrarias e lojas especializadas. O único título que sobreviveu a essa triste série de eventos foi Mad.
E o Comics Code continuava seu reinado repressor.

A Censura no Brasil

A censura se expandiu pelo mundo inteiro. E o Brasil não ficou de fora. Na década de 60, os quadrinhos publicados aqui passaram a ser “vigiados” por um código de ética. Eram 18 artigos que proibiam cenas de sexo, violência e ofensas à moral, ao Estado, aos pais, aos professores, aos deficientes físicos e às religiões. Esse “acordo” foi assinado por quatro empresas: Editora AbrilRio Gráfica e EditoraEditora Brasil-América e Empresa Gráfica O Cruzeiro.
Entretanto, o grande problema das editoras brasileiras era a autocensura. Talvez isso fosse (ou ainda seja) um reflexo do passado ditatorial do país, mas o certo é que, muitas vezes, as pessoas envolvidas na publicação das revistas acabavam esbarrando nos limites impostos por si próprias. Em consequência disso, várias obras ficaram literalmente mutiladas.
O último movimento brasileiro contra os quadrinhos aconteceu em julho do ano passado, com o lançamento da revista Dundum. A publicação foi parcialmente subsidiada pela Prefeitura de Porto Alegre (RS). Por esse motivo, principalmente, a Dundum sofreu acusações de pornografia, pelo vereador João Dib (PDS); de ser contra deficientes físicos, pelo candidato a governador Alceu Colares (PDT); e, devido a uma história, sofreu uma ação jurídica da Associação dos Cabos e Soldados da Polícia Militar. Resultado do escândalo: todos os exemplares se esgotaram, mas o segundo número da revista só saiu praticamente um ano depois. Dessa vez, sem nenhum apoio governamental.

A Fuga da Censura

Devido à vigilância do Comics Code, os artistas foram obrigados a descobrir novos meios de publicar seus trabalhos, sem cortes. Começaram a surgir, então, as editoras independentes, que não se sujeitavam à aprovação do código de ética. As revistas circulavam com a inscrição suggested for mature readers (aconselhável para leitores adultos). A idéia deu certo e agradou os leitores.
Essa fatia do mercado cresceu muito e não tardou para as grandes editoras “acordarem”. Stan Lee criou a EPIC, uma divisão adulta da MARVEL, onde seriam publicadas histórias abordando assuntos que não sairiam nas revistas tradicionais. Nessa trilha apareceram os chamados “quadrinhos de autor”, qualificação muito na moda atualmente e uma maneira eficaz de burlar o crivo da censura. Contudo, houve quem preferisse a “legalidade”. A NOW COMICS surgiu como independente e vinha razoavelmente bem, até seu editor, Tony Caputo, decidir, em 1988, submeter suas publicações ao código de ética. Todas foram aprovadas, mas a partir daí suas vendas despencaram e a empresa faliu pouco tempo depois.
Vários autores conseguiram “driblar” o Comics Code, mas não se pode dizer o mesmo quanto à censura em suas próprias editoras. Recentemente, aconteceram diversos casos na DC COMICS, como a saída de Rick Veitch da revista “Swamp Thing” (Monstro do Pântano), devido a um veto a uma história onde o personagem contracenava com Jesus Cristo. Em Asilo Arkham, Grant Morrison não pôde ver realizada sua insana idéia de assistir ao Coringa, vestido como a cantora Madonna, insinuando um provável relacionamento homossexual entre Batman e Robin. O Palhaço do Crime teve que se contentar com uma “passadinha de mão” nas nádegas do morcegão. Na minissérie Gilgamesh II, Jim Starlin foi proibido de levar adiante seu roteiro, no qual os dois irmãos demonstravam uma certa atração sexual entre si. Depois disso, Starlin retornou à MARVEL. A voluptuosa Druuna, de Paolo Eleuteri Serpieri, também não escapou. Na saga “Creatura”, a revista italiana “L’Eternauta” simplesmente retocou as “partes íntimas” da musa e de seu parceiro numa cena pra lá de sensual. O genial Moebius tem sete números publicados numa coleção com seu nome pela EPIC. Entretanto, a edição número zero saiu depois, e pela DARK HORSE. Isso porque a história, chamada “Le Bandard Fou”, apresenta um homem que fica, constantemente, com o pênis ereto. Outro bom exemplo é a porno-minissérie Black Kiss (lançada no Brasil pela TOVIASSÚ), de Howard Chaykin. Nenhuma grande editora americana quis publicá-la por causa de seu forte apelo erótico. A saída para Chaykin foi o aeroporto. A VORTEX, do Canadá, topou a parada e vendeu milhares de revistas.
Um contraponto interessante sobre a censura nas HQs aconteceu na França. O livro “Images Interdites”, de Yves Premion e Bernard Joubert, saiu pela SYROS ALTERNATIVES e o grande destaque eram várias cenas de histórias em quadrinhos não publicadas graças à intervenção da “tesoura”.

Caem os Tabus

Com o passar dos anos e usando de certas “manhas”, os principais tabus impostos pelo código de ética foram caindo e se incorporando às HQs. Vários casos de homossexualismo pintaram nas páginas. Na minissérie Slash, uma guerreira fica desapontada ao descobrir que seu pretendido preferia passar a noite com outro rebelde. Estrela Polar, da Tropa Alfa, sempre escondeu de seus parceiros suas preferências sexuais até contrair o vírus da AIDS. Na série “The New Statesman”, da FLEETWAY QUALITY, dois heróis mantêm um caso. A revista Dundum apresentou aos leitores Rocky e Hudson, dois cowboys gays, criados por Adão Iturrusgarai. Extraño, um dos humanos escolhidos para ganhar superpoderes, na série Milênio, era homossexual. E, na revista 2000 AD, Zenith, de Grant Morrison, levou uma “cantada” de Meta-Maid, uma heroína coadjuvante que na verdade era um travesti.
Os romances entre mulheres sempre foram mais frequentes. Valentina, de Guido Crepax e Liz e Beth, de George Levis, apesar de se relacionarem bem com os homens, às vezes, optam por carícias femininas. Hopey e Maggie (Love & Rockets), dos irmãos Hernandez, também são adeptas dessa conduta. Em Sommerset Holmes (lançada no Brasil pela ABRIL JOVEM), a personagem-título se envolve com outra garota enquanto tentava recuperar a memória. E uma passagem clássica aconteceu em Camelot 3000, onde, por uma brincadeira do destino, Lorde Tristão reencarna num corpo feminino, mas isso não impede a consumação de seu amor com Isolda.
As drogas também deixaram de ser temas probidos nos quadrinhos atuais. Em Akira, Kaneda e sua gangue são ávidos consumidores de cápsulas alucinógenas. Ricardito, pupilo do Arqueiro Verde, já foi um viciado. E num dos capítulos da saga “Born Again”, escrita por Frank Miller e desenhada por David Mazzuchelli, Karen Page, a ex-namorada do Demolidor, aparece com uma seringa na mão, após prostituir-se. Aliás, essa edição, curiosamente, saiu sem o selo de aprovação do Comics Code.
Quanto à violência, então, as citações são inúmeras. Quem não se recorda das edições 6 e 13 de SANDMAN, verdadeiras carnificinas numa lanchonete e numa convenção, respectivamente? Ranxereox, de Liberatore, não hesita em estraçalhar os crânios alheios. Em Watchmen, de Alan Moore, o Comediante comete dois estupros, enquanto Rorschach elimina seus inimigos exibindo técnicas de torturas impressionantes. Moore voltou à carga em Piada Mortal, quando o Coringa violentou e aleijou Barbara Gordon, a Bat-Moça. Em “Squeak, The Mouse”, de Massimo Mattiolli, sexo e sangue são elementos primordiais. Wolverine e Lobo também não ficam atrás quando o assunto é matar, esmagar, trucidar ou destruir.
Muitos casos de censura obtiveram grande repercussão. Ente eles podemos citar Black Kiss, que teve edições recolhidas em diversos lugares. O mesmo aconteceu com “Score”, da PIRANHA PRESS (uma divisão da DC), tachada como “extremamente violenta”. O próprio Mestre dos Sonhos foi alvo de pesadas acusações quando da morte do leitor Michael J. Housenecht. O motivo: perto do corpo havia um exemplar da revista (nr. 19) e um bilhete assinado The Sandman. Além disso, em alguns países, instituições moralistas ainda tentaram repetir as famigeradas queimas de publicações de quadrinhos.
Em 1989, houve uma nova investida contra as HQs. Sob a liderança de Thomas Radecki, a National Coalition on Television Violence (Coalisão Nacional sobre a Violência na Televisão) ganhou espaço em toda a imprensa através de matérias exigindo um controle rigoroso sobre as publicações. Entre as explanações de Radecki “brilhavam” acusações de violência ao Mickey Mouse e de “impróprio para crianças” à Alice no País das Maravilhas.
Por enquanto, os quadrinhos estão vencendo essa batalha. Apesar dos ataques constantes e (na maioria das vezes) absurdos da censura, as editoras têm conseguido contornar todas as adversidades e, assim, publicar seus trabalhos, de uma maneira ou de outra. A esperança, mesmo longínqua, é de que, algum dia, o bom senso prevaleça e sobrepuje esse falso moralismo, determinando o fim da censura. De uma vez por todas.

O Código de Ética

O Comics Code é composto por 42 artigos, divididos em questões editoriais e publicitárias. Conheça alguns deles.
   - Crimes jamais serão apresentados de forma a criar simpatia pelo criminoso, promover descrença nas forças da lei e justiça, ou inspirar o desejo de imitar criminosos.
   - A palavra “crime” não deverá aparecer proporcionalmente maior do que outras contidas no título e nem ser exibida isoladamente na capa de uma revista em quadrinhos.
   - Nenhuma revista em quadrinhos usará as palavras “horror” e “terror” em seus títulos.
   - Cenas que apresentem tortura, canibalismo, vampiros, lobisomens, mortos-vivos, ou instrumentos associados a eles são proibidas.
   - Profanações, obscenidades, conversas indecentes, vulgaridades ou palavras e símbolos que tenham adquirido significados indesejados são proibidos nos diálogos.
   - A nudez, em qualquer forma, é proibida, assim como a exposição indecente ou imprópria.
   - Personagens femininas deverão ser desenhadas de forma realista, sem exageros de quaisquer qualidades físicas.
   - Divórcio não deverá ser tratado humoristicamente, nem representado como desejável.
   - O tratamento de histórias de amor/romance deverão enfatizar o valor do lar e a inviolabilidade do casamento.
   - Sedução e estupro não deverão ser mostrados nem sugeridos.
   - Propagandas de bebidas alcoólicas e cigarros são inaceitáveis.
   - Propagandas de livros de sexo ou instrução sexual são inaceitáveis.

(Fonte: Sidney Gusman é jornalista especializado em quadrinhos e editor-chefe do site Universo HQ - http://www.universohq.com). Artigo publicado no exemplar nº 24 da Revista Sandman, pela editora Globo em 1991.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Gibis retratam o conflito entre EUA e URSS.

A Guerra Fria foi uma disputa travada durante quase cinco décadas pelas duas superpotências vencedoras da Segunda Guerra Mundial: os Estados Unidos e a União Soviética. Foi um período marcado por muita espionagem e propaganda política, tanto do lado norte-americano quanto do soviético. Não bastasse tudo isso, armas atômicas seriam usadas caso as duas superpotências partissem para o conflito militar direto. Foi durante a Guerra Fria que uma nova onda de super-heróis surgiu nos gibis norte-americanos, especialmente nos da Marvel Comics (hoje a maior editora de quadrinhos do mundo).
Você certamente já ouviu falar dessas personagens, pois várias foram adaptadas para o cinema nos últimos anos, com grande sucesso de bilheteria. Dentre essas personagens, podemos destacar o Homem-Aranha, os X-Men, o Hulk e o Quarteto Fantástico. Aqui, falaremos da relação delas com a Guerra Fria. Afinal, embora sejam fictícias e tenham sido criadas apenas para entretenimento, seus criadores se inspiraram na época que viviam. Começaremos pelo Quarteto Fantástico, o primeiro gibi da Marvel em que o escritor-editor Stan Lee fez parceria com o desenhista Jack Kirby.
O Quarteto Fantástico O primeiro gibi do Quarteto Fantástico foi publicado em novembro de 1961 -ou seja, poucos meses depois de o cosmonauta soviético Yuri Gagarin ter-se tornado o primeiro ser humano a viajar para o espaço, realizando um voo orbital (12 de abril de 1961), e quase uma década antes de o astronauta norte-americano Neil Armstrong ter sido o primeiro homem a pisar na Lua (20 de julho de 1969). Assim, o Quarteto Fantástico foi lançado na mesma época em que os EUA e a URSS disputavam a corrida espacial. O próprio surgimento desse grupo de heróis faz alusão à Guerra Fria: no início da história, pouco antes de os quatro futuros heróis viajarem para o espaço, a narração menciona que os EUA estão numa "corrida espacial" com "uma potência estrangeira". Claro que a tal "potência estrangeira" era a URSS, mas, diferentemente do que tinha acontecido durante a Segunda Guerra Mundial, os autores dos gibis da Guerra Fria preferiam não dar nome aos bois quando se referiam aos "inimigos da América".
No gibi, o Quarteto Fantástico tem origem um pouquinho diferente daquela contada no filme de 2005: quatro amigos - o cientista Reed Richards; sua noiva, Sue Storm; o irmão adolescente dela, Johnny Storm; e o piloto de foguetes Ben Grimm - embarcam num foguete experimental, voam para o espaço e são bombardeados por raios cósmicos. Ao voltarem para a Terra, descobrem que os raios cósmicos os afetaram, dando-lhes superpoderes. Richards consegue esticar partes de seu corpo e assume o codinome Senhor Fantástico (qualquer semelhança com outro super-herói, o Homem-Borracha, não é mera coincidência); Sue se torna a Garota Invisível (anos depois, mudará o nome para Mulher Invisível, pois em nossos tempos "politicamente corretos" é considerado machismo chamar de "garota" uma mulher adulta); Johnny vira o Tocha Humana; e Ben, o monstruoso Coisa. Os raios cósmicos existem mesmo, mas na vida real eles matam, como seu professor ou professora de ciências poderá lhe explicar.
A corrida espacial não é a única alusão à Guerra Fria que encontramos nos primeiros gibis do Quarteto Fantástico. O principal inimigo do Quarteto era o Doutor Destino, que governava literalmente com mãos de ferro um pequeno país do Leste Europeu, bem na região onde se concentravam os países do bloco socialista. Na tradução feita no Brasil, o nome dado ao país do Doutor Destino era "Latvéria", o que poderia levar a concluir que se tratava de uma terra imaginária. Mas, no original, o nome era "Latvia" - cuja tradução correta para o português é Letônia, na época uma das repúblicas que compunham a URSS. O próprio visual do vilão, com sua armadura de ferro, pode ser referência à "Cortina de Ferro", a expressão popularizada pelo ex-primeiro ministro britânico Winston Churchill para se referir aos países da Europa oriental que ficaram sob influência da URSS após a Segunda Guerra Mundial. O Incrível Hulk O Incrível Hulk, segunda criação da parceria Stan Lee-Jack Kirby, também refletia o contexto da Guerra Fria.
No primeiro número do gibi, lançado em maio de 1962, ficamos sabendo como o cientista Bruce Banner se tornou o Hulk: ele tenta salvar um adolescente que invadiu o local onde se testará pela primeira vez a "bomba gama" (projetada pelo próprio Banner) e fica exposto aos raios gama quando a bomba é detonada propositalmente por seu assistente, um espião iugoslavo disfarçado. Banner, em vez de morrer de leucemia ou queimaduras radiativas (que é o que aconteceria na vida real), descobre que os raios gama alteraram a química de seu corpo. Agora, sempre que se enfurece, é humilhado ou entra em pânico, ele se transforma no Hulk, um brutamontes capaz de levantar toneladas.
Curiosamente, o Hulk era para ser cinzento, mas falhas de impressão no primeiro número do gibi fizeram que ele aparecesse esverdeado em alguns quadrinhos. Assim, o verde se tornou sua cor definitiva. Até o fato de Banner ser físico nuclear tinha relação com a Guerra Fria. Desde o Projeto Manhattan (o qual desenvolveu as bombas atômicas que foram lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki), os físicos nucleares tinham "importância estratégica" para o governo dos EUA. Vale recordar que, segundo alguns historiadores, as bombas atômicas usadas contra o Japão marcaram não apenas o fim da Segunda Guerra Mundial, mas o começo da Guerra Fria. Segundo tal interpretação, o ataque a Hiroshima e Nagasaki teria sido a forma que os EUA encontraram de mandar o seguinte recado à URSS: "Cuidado conosco! Nós temos a bomba!" Depois disso, a procura por carreiras científicas, sobretudo em física nuclear, aumentou consideravelmente nas universidades norte-americanas.
Bruce Banner, assim como os físicos do Projeto Manhattan, trabalha para os militares; e a "bomba gama" explode no deserto do Novo México, região dos EUA onde foram mesmo realizados os primeiros testes atômicos. Outro elemento da Guerra Fria presente na saga do Hulk é o espião iugoslavo. Naquela época, histórias de espionagem eram comuns tanto na ficção quanto na realidade. Além disso, a Iugoslávia era um dos países do Leste Europeu onde os comunistas haviam chegado ao poder. (No entanto, os iugoslavos eram um caso à parte: o então governante do país, o marechal Tito, principal líder da resistência contra
os invasores alemães durante a Segunda Guerra Mundial, não seguia todos os ditames da União Soviética; por isso, o modelo socialista adotado na Iugoslávia era um pouco diferente daquele que predominava nos outros países do Leste.) Em suas primeiras aventuras, o Hulk enfrentou vários vilões comunistas, mas havia igualmente críticas aos EUA. 
Em primeiro lugar, porque o principal inimigo do Hulk era o general Ross, também pai da namorada de Banner. Ou seja, em muitas histórias do Hulk, o inimigo era o próprio Exército norte-americano, sempre perseguindo o gigante verde. E não se deve esquecer que o Hulk era um monstro criado pelo horror atômico. Ao conceberem a história, Stan Lee e Jack Kirby pretenderam transmitir uma lição de moral: Banner é vítima de uma arma que ele mesmo projetou, e o cientista sente remorsos por isso.

(VILELA, Túlio. http://revistaescola.abril.com.br/ensino-medio/papel-tv-cinema-durante-guerra-fria-690538.shtml. Acesso em: 01, out, 2012)