Cena do filme "Hannah Arendt", sobre a filósofa que
acompanhou o julgamento do nazista Adolf Eichmann em Israel. A cinebiografia
foca no período em que Hannah escreveu à revista "The New Yorker"
para contar o que viu no tribunal. Os relatos foram reunidos em 1963 no livro
"Eichmann em Jerusalém", no qual a escritora descreve um dos mais
temidos carrascos nazistas, idealizador da "Solução Final", termo que
alude ao extermínio de judeus durante a Segunda Guerra Mundial. (Fonte da
Imagem: Ensaios Ababelados)
Uma das diretoras
mais prestigiadas do Novo Cinema Alemão, pertencente à mesma geração que
revelou Wim Wenders e Volker Schlondorff, Margarethe Von Trotta compõe um
admirável perfil de uma personalidade e de uma época no drama Hannah Arendt. O
filme estreia em São Paulo.
Aliando-se, mais uma vez, a Barbara Sukowa, intérprete habitual de seus filmes, como os premiados "Rosa Luxemburgo" (86) e "Os Anos de Chumbo" (81), a cineasta entrega-se ao desafio de retratar uma das pensadoras políticas mais importantes e influentes do século 20, autora de clássicos como "As Origens do Totalitarismo".
Escapando ao risco de comprometer a narrativa com um excesso de teorias, escolhe como foco um episódio crucial na vida de Hannah. Em 1961, a filósofa alemã, já radicada nos EUA, viaja a Israel para acompanhar um dos julgamentos mais bombásticos de todos os tempos, do carrasco nazista Adolf Eichmann, capturado pelo serviço secreto israelense na Argentina.
Partindo de uma peça da norte-americana Pam Katz, corroteirista do filme ao lado de Von Trotta, a história humaniza por todos sua protagonista, sem banalizar seu pensamento nem sua atividade. Hannah é vista discutindo com seus alunos na universidade, e também com seus amigos intelectuais, em concorridas festas em seu apartamento, em que, ao lado de temas polêmicos, nunca faltavam piadas, nem bebida ou cigarros.
O nazismo está no centro das discussões. Primeiro, na atuação de Hannah, ao cobrir o julgamento de Eichmann para a revista "The New Yorker", que lhe permitiu criar uma das teses mais polêmicas de toda a sua obra, sobre a "banalidade do mal".
O segundo, menos abordado no filme, lembra seu relacionamento com o mestre e ex-amante Martin Heidegger (Klaus Pohl), filósofo que se filiou ao Partido Nazista em 1933 e nunca se retratou da atitude após o fim da Segunda Guerra - para desgosto de Hannah, que era judia alemã e fugiu do país natal após a ascensão de Hitler ao poder.
Enxergando em Eichmann apenas um burocrata medíocre, cumpridor cego de ordens, recusando-se a ver um monstro de índole diabólica, e não se omitindo em apontar o que considerava como cumplicidade dos chamados Conselhos Judaicos na destruição de sua própria comunidade, Hannah atraiu a fúria dos próprios amigos e dos círculos judaicos. Muitos nunca a perdoaram pela ousadia. Para eles, ela estaria "defendendo" o carrasco, o que sempre negou.
Nada disso abalou a filósofa, que publicou seus artigos na "The New Yorker" - onde também sofreu pressões - e, dois anos depois, um livro que teve grande repercussão, "Eichmann em Jerusalém".
Vendeu na época mais de 100 mil exemplares e, ao longo dos anos, serviu como ferramenta para que jovens alemães contestassem seus pais, por terem conhecimento dos desmandos nazistas e se omitirem, e também em revoltas contra a guerra do Vietnã e o uso da energia atômica.
O filme ressalta a coragem de Hannah que, apoiada por amigos como a escritora Mary McCarthy (Janet McTeer), resistiu, mantendo sua independência de pensamento, ainda que a um alto custo pessoal. Os ataques sofridos, para ela, equivaleram a um "novo exílio", como salientou a diretora Margarethe Von Trotta em entrevista ao jornal "The New York Times".
Procurando não tomar partido da tese defendida por Hannah nos artigos e livro sobre Eichmann, o filme sem dúvida abraça a integridade pessoal e intelectual de sua fascinante protagonista. E permite aos espectadores participarem de uma envolvente discussão de ideias, apesar de um filme não ser o veículo ideal para esgotar temas tão profundos. Mas, certamente, pode despertar uma saudável curiosidade sobre as obras da autora.
Aliando-se, mais uma vez, a Barbara Sukowa, intérprete habitual de seus filmes, como os premiados "Rosa Luxemburgo" (86) e "Os Anos de Chumbo" (81), a cineasta entrega-se ao desafio de retratar uma das pensadoras políticas mais importantes e influentes do século 20, autora de clássicos como "As Origens do Totalitarismo".
Escapando ao risco de comprometer a narrativa com um excesso de teorias, escolhe como foco um episódio crucial na vida de Hannah. Em 1961, a filósofa alemã, já radicada nos EUA, viaja a Israel para acompanhar um dos julgamentos mais bombásticos de todos os tempos, do carrasco nazista Adolf Eichmann, capturado pelo serviço secreto israelense na Argentina.
Partindo de uma peça da norte-americana Pam Katz, corroteirista do filme ao lado de Von Trotta, a história humaniza por todos sua protagonista, sem banalizar seu pensamento nem sua atividade. Hannah é vista discutindo com seus alunos na universidade, e também com seus amigos intelectuais, em concorridas festas em seu apartamento, em que, ao lado de temas polêmicos, nunca faltavam piadas, nem bebida ou cigarros.
O nazismo está no centro das discussões. Primeiro, na atuação de Hannah, ao cobrir o julgamento de Eichmann para a revista "The New Yorker", que lhe permitiu criar uma das teses mais polêmicas de toda a sua obra, sobre a "banalidade do mal".
O segundo, menos abordado no filme, lembra seu relacionamento com o mestre e ex-amante Martin Heidegger (Klaus Pohl), filósofo que se filiou ao Partido Nazista em 1933 e nunca se retratou da atitude após o fim da Segunda Guerra - para desgosto de Hannah, que era judia alemã e fugiu do país natal após a ascensão de Hitler ao poder.
Enxergando em Eichmann apenas um burocrata medíocre, cumpridor cego de ordens, recusando-se a ver um monstro de índole diabólica, e não se omitindo em apontar o que considerava como cumplicidade dos chamados Conselhos Judaicos na destruição de sua própria comunidade, Hannah atraiu a fúria dos próprios amigos e dos círculos judaicos. Muitos nunca a perdoaram pela ousadia. Para eles, ela estaria "defendendo" o carrasco, o que sempre negou.
Nada disso abalou a filósofa, que publicou seus artigos na "The New Yorker" - onde também sofreu pressões - e, dois anos depois, um livro que teve grande repercussão, "Eichmann em Jerusalém".
Vendeu na época mais de 100 mil exemplares e, ao longo dos anos, serviu como ferramenta para que jovens alemães contestassem seus pais, por terem conhecimento dos desmandos nazistas e se omitirem, e também em revoltas contra a guerra do Vietnã e o uso da energia atômica.
O filme ressalta a coragem de Hannah que, apoiada por amigos como a escritora Mary McCarthy (Janet McTeer), resistiu, mantendo sua independência de pensamento, ainda que a um alto custo pessoal. Os ataques sofridos, para ela, equivaleram a um "novo exílio", como salientou a diretora Margarethe Von Trotta em entrevista ao jornal "The New York Times".
Procurando não tomar partido da tese defendida por Hannah nos artigos e livro sobre Eichmann, o filme sem dúvida abraça a integridade pessoal e intelectual de sua fascinante protagonista. E permite aos espectadores participarem de uma envolvente discussão de ideias, apesar de um filme não ser o veículo ideal para esgotar temas tão profundos. Mas, certamente, pode despertar uma saudável curiosidade sobre as obras da autora.