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quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Aterciopelados Bandera.

Dados técnicos - Aterciopelados Bandera.
Diretor/Produtor – Diego Peñuela.
País – Colômbia.
Ano – 2010.
Tempo – 00:02:39.

Assistam ao curta:

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Bafo Quente.

Dados técnicos - Bafo Quente.
Diretor/Produtor – Maurício Maia.
País – Brasil.
Ano – 2010.
Tempo – 00:01:19.

Assistam ao curta:


Resumo: Pessoas de grupos, etnias e faixas etárias diferentes sofrem com o aquecimento global. (Fonte: Anima Mundi - Festival)

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Wywijas.

Dados técnicos - Wywijas.
Diretor/Produtor – Andrzej Jobczyk.
País – Polônia.
Ano – 2008.
Tempo – 00:05:34.

Assistam ao curta:


Resumo: Como a realidade pareceria se fosse virada do avesso. (Fonte: Anima Mundi - Festival).

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

La Tranchée.

Dados técnicos - La Tranchée.
Diretor/Produtor – Claude Cloutier.
País – Canadá.
Ano – 2009.
Tempo – 00:04:27.

Assistam ao curta:


Resumo: Num campo de batalha, os recrutas temem a ordem de ataque. É a guerra. O bramido das explosões se aproxima, pressagiando um espetáculo de horror. (Fonte: Anima Mundi - Festival)

domingo, 8 de dezembro de 2013

This Thirst. (Essa sede)

Dados técnicos - This Thirst.
Diretor/Produtor – François Vogel.

País – França.
Ano – 2011.
Tempo – 00:04:01

Assistam ao Curta:


Resumo: Uma viagem hipnótica pelo trem rápido de Dubai. A arquitetura desproporcional que rodeia os trilhos é capturada por uma câmera que distorce estradas e edifícios. O cantor Reham acompanha esta viagem, com uma mensagem perturbadora. (Fonte: Catálogo 2012 - Anima Mundi).

sábado, 7 de dezembro de 2013

El Niño y El Viento. (O menino e o vento).

Dados técnicos - El Niño y El Viento.
Diretor/Produtor – Luis Telles.
País – México.
Ano – 2012.
Tempo – 00:03:29.

Assistam ao curta:

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

L'Mrayet.

Dados técnicos - L'Mrayet.
Diretor/Produtor – Nadia Rais.

País – Tunísia.
Ano – 2012.
Tempo – 00:11:00.

Assistam ao curta:


Resumo: Boum Mrayet nasceu num mundo onde as pessoas usam óculos desde o nascimento. Quando adulto, ele é contratado por uma empresa especializada em escrever o futuro, de modo que este possa ser sempre controlado. (Fonte: Catálogo 2012 - Anima Mundi)

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Retrocognition. (Retrocognição)

Dados técnicos - Retrocognition.
Diretor/Produtor – Eric Patrick.
País – Estados Unidos.
Ano – 2012.
Tempo – 00:05:55.

Assistam o trailer do curta:


Resumo: 
Uma colagem animada de fotografias e fragmentos de áudio da era das radionovelas da Segunda Guerra Mundial, combinados de modo a criticar a clássica família nuclear televisiva americana. (Fonte: Anima Mundi - Festival)

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

La Revolution Des Crabes. (A revolução dos caranguejos)

Dados técnicos - La Revolution Des Crabes:
Diretor/Produtor – Arthur de Pins.
País – França.
Ano – 2003/2004.
Tempo – 00:05:07.

Assistam ao curta:

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Muito além do peso.


“Muito Além do Peso”, dirigido por Estela Renner e produzido por Marcos Nisti com apoio do Alana é um filme que retrata o drama que já atinge 33% das crianças brasileiras, de acordo com dados do IBGE: a obesidade. Estela e equipe viajaram para as cinco regiões brasileiras e conversaram com dezenas de especialistas nacionais e internacionais para entender melhor o problema. O resultado é um retrato contundente, que emocionou os presentes e que agora pode ser conferido em dez salas de oito cidades brasileiras.
Depois da exibição do filme, um debate mediado pelo apresentador Cazé reuniu o escritor Frei Betto, a diretora Estela Renner, o médico endocrinologista Amélio Godoy e a chef norte-americana Ann Cooper.
Estela foi questionada sobre a condução das entrevistas com crianças durante a produção do documentário, e ressaltou que foi treinada por uma psicóloga para levar essas conversas, além de ter aprendido a fazer perguntas que não revelassem nenhum direcionamento às crianças. “Elas moram no meu coração”, emocionou-se.
Ann Cooper dividiu suas experiências à frente do projeto Let´s Move Salad Bars to Schools (Vamos levar bufês de saladas para as escolas, tradução livre). Mais de 760 mil crianças já foram impactadas. A chef ressaltou a importância de cozinharmos mais e de termos mais alimentos frescos em nossos cardápios. Tanto Ann quanto Frei Betto e Amélio Godoy estão no documentário. A abertura do evento foi do físico quântico indiano Amit Goswami, que ressaltou a importância do tema e concluiu: “Devemos sempre nos lembrar que todos nós, inclusive as crianças, temos o poder da escolha”.
Confiram aqui:



(FonteMuito Além do Peso chega aos cinemas, Instituto Alana Texto adaptado)

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

O ABC do Conflito Palestino.

Os grupos, cidades, siglas, termos e fatos históricos, listados em ordem alfabética.

'Muro da Vergonha': crianças palestinas caminham ao lado da barreira . Imagem: Veja.

Al-Fatah - Movimento pela Libertação da Palestina. Sob a liderança de Yasser Arafat, o Al-Fatah se tornou a mais forte e mais organizada facção palestina. As autoridades israelenses têm acusado o movimento de ataques terroristas contra Israel desde o início da nova Intifada. As Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa, responsáveis por vários atentados nos últimos meses em Israel, são os mais radicais membros da organização.

ANP - A Autoridade Nacional Palestina, ou Autoridade Palestina, hoje presidida por Mahmoud Abbas, é a organização oficial que administra a Cisjordânia - a Faixa de Gaza está sob o controle do Hamas desde junho de 2007. Foi criada a partir de um acordo firmado em 1993 entre a OLP (Organização pela Libertação da Palestina) e Israel. Na primeira eleição para o legislativo e executivo da ANP, realizada em janeiro de 1996, Yasser Arafat foi eleito presidente. O acordo previa um mandato de cinco anos, que expiraria em 1999, quando então Israel e palestinos voltariam a negociar o status das áreas palestinas - o que não aconteceu, com a deterioração das relações entre os dois lados.

Belém - Cidade localizada na Cisjordânia, é importante na história de três religiões: a cristã, a judaica e a islâmica. Em Belém, foi erguida a igreja da Natividade, templo cristão que marca o suposto local de nascimento de Jesus Cristo.

Brigada de Mártires Al-Aqsa - Ala do Al-Fatah responsável por 70% dos atentados terroristas contra israelenses em 2006. Foi criada depois do fracasso das negociações de paz, tendo como líder Marwan Barghouti.

Cisjordânia - Área de 5.860 quilômetros quadrados a oeste do Rio Jordão e do Mar Morto, que esteve sob controle da Jordânia entre 1948 e 1967. Atualmente, está sob a administração da Autoridade Nacional Palestina. As cidades mais populosas são Jerusalém, Ramallah, Hebron, Nablus e Belém. Há duas universidades: Bir Zeit, em Jerusalém, e An-Najah, em Hebron.

Faixa de Gaza - É um estreito território com largura que varia de 6 quilômetros a 10 quilômetros às margens do Mar Mediterrâneo. Seus cerca de 360 quilômetros quadrados de área são limitados ao sul pelo Egito e ao norte por Israel. O grupo radical islâmico Hamas controla a região desde junho de 2007, quando tomou o poder à força. A principal cidade do território é Gaza.

Hamas - Grupo fundamentalista palestino que possui um braço político e outro militar. A sigla significa Movimento de Resistência Islâmica, mas também é a palavra que pode ser traduzida como “devoção” em árabe. O movimento nasceu junto com a Intifada. Seu braço político faz trabalhos sociais em campos de refugiados. O braço armado foi o primeiro a usar atentados com homens-bomba na região, em 1992. O braço político venceu as eleições legislativas palestinas em 2006 e tomou o poder à força, na Faixa de Gaza, em junho de 2007, após romper com Mahmoud Abbas, que preside a Autoridade Nacional Palestina (ANP), na Cisjordânia.

Hezbollah - Organização armada terrorista formada em 1982 por xiitas libaneses. Inspirada e orientada pelo Irã e apoiada pela Síria, tem base no Sul do Líbano. Seu objetivo é criar um Estado islâmico no Líbano, destruir Israel e transformar Jerusalém em uma cidade muçulmana.

Igreja da Natividade - Construída em Belém, no suposto local de nascimento de Jesus Cristo.

Intifada - Nome do levante nos territórios palestinos contra a política e ocupação israelense, caracterizado por protestos, tumultos, greves e violência, tanto na Faixa de Gaza quanto na Cisjordânia. A primeira intifada estendeu-se de 1987 a 1993, estimulada principalmente por três grupos: Hamas, OLP e Jihad. Ficou marcada pelo apedrejamento de soldados israelenses por jovens palestinos desarmados. Em setembro de 2000, quando recomeçou a violência entre palestinos e israelenses, depois de uma visita de Ariel Sharon a um local santo para os muçulmanos, o conflito violento recomeçou, sendo chamado de segunda intifada. O estopim foi uma provocação deliberada do então candidato a primeiro-ministro Ariel Sharon, líder da oposição ao governo de Ehud Barak e porta-voz da linha dura israelense. Cercado de guarda-costas, ele visitou a Esplanada das Mesquitas, na parte murada de Jerusalém, onde ficam as mesquitas de Al-Aksa e de Omar, um conjunto que é o terceiro entre os lugares santos do Islã.

Israel - Estado criado em 1948 na região histórica da Palestina, é um dos menores países do Oriente Médio e tem 60% de seu território coberto por deserto. O fato de ser o único país judeu em um área predominantemente islâmica marcou cada aspecto de suas relações diplomáticas, econômicas, políticas e demográficas. Nos últimos anos, tornou-se um grande pólo de tecnologia e informática. Tem um presidente, com poder mais simbólico que efetivo, e um poderoso primeiro-ministro, que passou a ser escolhido por eleições diretas a partir de 1996. As origens dos atuais conflitos são anteriores à criação do país. Já no início do século XX , a Palestina, por ser considerada o berço do povo judeu, estimulou a imigração de judeus, inspirados por um movimento conhecido como sionismo, que entraram em disputa com os povos árabes da região. Nos anos que se seguiram à II Guerra Mundial (1939-1945), a Organização das Nações Unidas (ONU) desenvolveu um plano para dividir a Palestina entre árabes e judeus. Os árabes rejeitaram o plano, que foi aceito pelos judeus, criando-se então um Estado independente em 1948. Imediatamente, cinco nações árabes atacaram Israel. No fim da guerra, em 1949, e nos anos seguintes, Israel ampliou seu território e anexou Golã. Também ocupou a Cisjordânia e a Faixa de Gaza. Mesmo Jerusalém, que os judeus consideram capital do país, continua sendo alvo de disputa.

Jihad Islâmica - Grupo terrorista palestino de orientação fundamentalista. Tradicionalmente, ela tenta realizar ações terroristas contra alvos israelenses no aniversário da morte de seu líder, Fathi Shaqaqi, assassinado em Malta, em outubro de 1995. Financiada pelo Irã, é a mais independente das facções extremistas e conta com apoio restrito da população. Seu líder é Ramadan Shallah, ex-professor da Universidade da Flórida. Seu objetivo é destruir Israel e criar um Estado islâmico na região, sob controle de palestinos.

Jerusalém - Local de peregrinação para três religiões: a católica, a judaica e a islâmica. Para os católicos, é o local onde Jesus Cristo foi crucificado e ressuscitou. Para os judeus, é a cidade que o rei Davi transformou em capital do reino unificado de Israel e Judá. Para os muçulmanos, é a cidade dos profetas que precederam Maomé.

Likud - Partido político conservador de Israel formado em 1973 em torno da proposta de anexar ao Estado de Israel os territórios ocupados durante a Guerra dos Seis Dias: Sinai, Faixa de Gaza, Cisjordânia e Colinas de Golã. Menachim Begin foi seu primeiro líder. A partir de 1999, o partido passou a ser liderado por Ariel Sharon, ex-primeiro-ministro de Israel que está em estado vegetativo permanente. Likud é a palavra em hebreu para unidade.

Muro da Vergonha - forma como é conhecida, entre os palestinos e parte da comunidade internacional, a barreira que Israel construiu para separar suas próprias cidades da Cisjordânia. Os israelenses alegavam que a medida era legítima, já que o muro tornaria muito difícil a entrada de palestinos em seu território - assim, o número de atentados terroristas cairia de forma drástica. Os críticos, contudo, disseram que a construção da barreira tiraria território palestino, acentuaria as diferenças econômicas entre os povos e não contribuiria para a paz.

Nablus - Localizada no norte da Cisjordânia, entre as montanhas de Gerizim e Ebal, é a maior cidade palestina. Região bíblica, onde Abraão e Jacó teriam vivido e onde estariam enterrados, é também um importante centro comercial da região produtor de azeite e vinho.

OLP - A Organização pela Libertação da Palestina, grupo político criado em 1964 com o objetivo de formar um Estado palestino independente. Em 1994, a Autoridade Nacional Palestina assumiu muitas das funções administrativas e diplomáticas relativas aos territórios palestinos que antes eram desempenhadas pela OLP. Esta passou a ser uma espécie de guarda-chuva político e militar, abrigando facções como Al Fatah, As-Saiga e a Frente de Libertação da Palestina. A OLP tem três corpos: o Comitê Executivo, com 15 membros, que inclui representantes dos principais grupos armados; o Comitê Central, com 60 conselheiros e o Conselho Nacional Palestino, com 599 membros, que historicamente tem sido uma assembléia dos palestinos. A OLP também tem serviços de saúde, informação, saúde, finanças, mas desde 1994 passou estas responsabilidades para a ANP.

Palestina - É uma região histórica situada na costa leste do Mar Mediterrâneo, no cruzamento entre três continentes, que foi habitada por diversos povos e é considerado local santo para cristãos, judeus e muçulmanos. Sua extensão tem variado muito desde a Antigüidade. Atualmente, as áreas palestinas são a Cisjordânia e a Faixa de Gaza.

Ramallah - Cidade palestina com cerca de 180.000 habitantes, é dividida em dois setores, de tamanhos semelhantes: Ramallah, que é predominantemente cristão, e Al Birah, de maioria islâmica. Fica a 872 metros acima do nível do mar e 1.267 metros acima do Mar Morto, distante 15 quilômetros ao norte de Jerusalém. É a sede da Autoridade Nacional Palestina e abriga a principal universidade palestina, Bir Zeit.

Sionismo - movimento político e religioso pela criação de um Estado judeu que surgiu no século XIX e culminou na criação do Estado de Israel em 1948. O nome vem de Zion, a montanha onde foi construído o Templo de Jerusalém . O termo sionismo foi usado pela primeira vez para nomear um movimento em 1890, pelo filósofo austríaco judeu Nathan Birbaum.

(Revista Veja. Em profundidade a Questão Palestina. Disponível em: Veja - Abril).

domingo, 1 de dezembro de 2013

Persépolis, de Marjane Satrapi e as razões da intolerância religiosa.


Fonte:  História Livre.

Marcos Emílio Ekman Faber 

Nas férias assisti ao filme francês Persépolis (Persepolis, França, 2007), longa metragem de animação baseado na graphic novel de mesmo nome de Marjane Satrapi. O filme, assim como a HQ, é narrado na primeira pessoa e conta de forma autobiográfica a história da autora, uma iraniana de classe média que presenciou a Revolução Iraniana de 1979 e todos os seus desfechos, especialmente a derrubada do Xá Reza Pahlevi, um ditador apoiado pelo Ocidente, e a fundação da República Islâmica do Irã, que, por sua vez, era anti-Ocidente.
Na trama Marjane descreve todos os problemas enfrentados pelos membros de sua família após a tomada de poder pelos fundamentalistas islâmicos, a autora narra especialmente a perseguição que alguns de seus parentes, membros do partido comunista, sofreram, sendo presos, torturados e mortos.
Apesar dos dramas familiares, Marjane, que em 1979 era uma criança, cresce como uma adolescente normal. Pensa em meninos, escuta música (inclusive heavy metal) e sonha com o futuro. Entretanto, o início da Guerra Irã-Iraque obriga seus pais a enviá-la para à Áustria. 
Na Europa, Marjane conhece um novo mundo. Experimenta álcool, drogas, sexo e a desilusão. Após um período de descobertas, alegrias e frustrações, a jovem retorna ao Irã. Em sua terra natal não existe mais guerra. Mas o Estado islâmico controla tudo. As mulheres são obrigadas a usar um véu sobre a cabeça e roupas que cobrem o corpo todo, apenas as mãos e o rosto podem ficar descobertos. 
Apesar dos homens terem mais liberdade, inclusive para se vestirem, muitas outras coisas são proibidas: bebidas alcóolicas, maquiagem, pornografia, manifestações públicas e a chamada literatura ocidentalizada são consideradas ilegais, quem for pego portando alguma dessas coisas é preso. Não existe liberdade de pensamento. As proibições ocorrem em nome da Religião. Tudo acontece em nome da fé. 
Em meio a tudo isso, Marjane não consegue entender que tipo de fé é essa que impede que as pessoas pensem por si mesmas. Afinal, que direitos as autoridades políticas tem para definir o que é bom ou ruim para os indivíduos. Para piorar, a maioria dos membros do governo ou dos órgãos de controle sequer possuem instrução adequada para exercerem suas funções.
Contudo, a intolerância religiosa demonstrada no filme (e na HQ) não se refere apenas à religião ou a fé, mas aos costumes. As autoridades iranianas acreditavam, como talvez ainda acreditem, que é obrigação da religião, e do Estado, estabelecer o que deve ou não ser celebrado, o que deve ou não ser lembrado e assim por diante, independente do que acreditem ou pensem os indivíduos. Para os seguidores dessa forma de pensar a fé não é uma escolha, mas uma imposição.
Curiosamente, mesmo em nossos dias, algumas lideranças religiosas ainda pensam assim. Acreditam serem os donos da verdade e, que por esse motivo, todos devem lhes ouvir e seguir. Se fossem eleitos para governar nosso país iriam impor sua crença e condenar todos os que pensassem diferente deles, igualmente ao caso dos iranianos. Pessoas assim não se preocupam com a liberdade de escolha dos outros, pois não acreditam em livre arbítrio
Esse é o grande problema de uma fé irracional, ou seja, sem fundamentos, sem raízes. Uma fé que se baseia apenas em interpretações pessoais sobre o que é certo ou errado. Uma fé que não possui profundidade, que não segue a um ou mais livros sagrados, mas é baseado em “revelações” ou em interpretações que um “profeta” fez sobre fragmentos de um livro sagrado – isso quando o tal livro foi consultado, o que nem sempre acontece. É por isso que agem de forma tão mesquinha e autoritária, pois não sabem como lidar com as diferenças e muito menos com as críticas. Assim sendo, a oposição torna-se perigosa, pois pode desmascaram a ignorância dessas autoridades religiosas. 
Por tudo isso, Marjane não se enquadrava mais na sociedade iraniana, pois já havia conhecido um mundo onde as fronteiras geográficas e ideológicas já haviam ultrapassado em muito as do Irã.
Ler ou assistir Persépolis é sem dúvida um exercício indispensável para conhecermos um pouco mais sobre o Irã, uma das nações mais auto isoladas do mundo, e também para refletirmos sobre nossa forma de ver e entender os outros, principalmente quando pensam diferentes de nós.  

(Faber, Marcos Emílio EkmanPersépolis, de Marjane Satrapi e as razões da intolerância religiosa.  Disponível em: História Livre).

Assista ao trailer do filme:



Link do filme completo (legendado) no YouTube: Persépolis.

Sugestão, acesse "O ABC do Conflito Palestino" para entender alguns conceitos.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

“Tá Chovendo Hamburger”: muita comida, fome demais.

(Animação da dupla estadunidense Phil Lord/Chris Miller discute as consequências do mau uso da ciência e a ganância dos poderosos em filme sobre o consumismo e o descontrole da produção de alimentos.) 

Tá chovendo Hambúrguer - Imagem: Blogs Pop.

Ninguém pode negar que os desenhos animados encantam. Não apenas pelas engenhosas histórias, mas, principalmente, pelos personagens que se metem em todo tipo de trapalhada. Muitas delas fantásticas, já que o gênero permite as mais variadas licenças dramatúrgicas. Em “Tá Chovendo Hamburger”, experiência em 3D da dupla de roteiristas e diretores Phil Lord e Chris Miller, essa liberdade mistura ação, aventura e ficção científica, para contar a história do aparvalhado jovem cientista Flint Lockwood (voz de Bill Hader), interessado em fantásticas invenções para justificar suas ambições. Como nas tramas dos cientistas malucos, nada que ele inventa dá certo, e termina por torná-lo motivo de chacota na pequena ilha Boca Grande, perdida no Atlântico Norte. Até que consegue transformar água em comida, usando alta concentração de energia. 
Mas, ao contrário do que se imagina, o filme não discute a fome que acomete a população dos países pobres. É mais uma observação sobre o desmesurado consumismo das sociedades afluentes. Boca Grande, a Chewandswallow, criada pelos escritores Judi e Ron Barrett, vive da pesca de sardinha. Todas suas atividades, brinquedos, cartões, pratos típicos e roteiros turísticos giram em torno dela. O invento de Flint gera nova fonte de renda, atraindo milhares de turistas para o desfrute do prefeito Shelbourn (Bruce Campbell). E assume tal dimensão que a TV envia a repórter estagiária Sam Sparks (Anna Farris) à ilha, para transmissões ao vivo sobre ele e sua criação. Mas também provoca mudanças substanciais em suas relações com o pai Tim Lockwood (James Caan), ganha o carinho do policial negro Earl (Mr.T), que vivia advertindo-o sobre suas trapalhadas, e a atenção amorosa da própria Sparks.

Invento muda perfil econômico da ilha

Se fizer chover sopa e nevar purê de batata já era feito extraordinário, que dirá mudar o perfil econômico da ilha, em si decadente. Ao fazê-lo, gera em Shelbourn ambições incontroláveis. Ele quer sempre mais, pois Boca Grande, com suas sardinhas, já não lhe rende o sucesso esperado. Exige de Flint o “estado de chuva de hambúrguer permanente”, para que possa expandir seus projetos e alçar planos mais altos. Aqui começam as interessantes mutações desta animação, cuja atração maior para o espectador-infantil, em princípio, é sua técnica de projeção em Terceira Dimensão, o conhecido 3D. O que lhe permite vivenciar a trama como estivesse dentro dela. Pode desvendar, assim, a ambição desmedida do vilão Shelbourn, que tudo faz para manter o estado de coisas surgido da inesperada invenção de Flint, o bruxoalquimista.0
Shelbourn introduz na tela o vilão que não quer controlar o mundo para se tornar invencível, quer somente aumentar seu poder político. Se puder alcança o barco que o levará com tudo que obteve para manter sua posição, enquanto a ilha naufraga numa tempestade de torta. É o contraponto perfeito do “herói” Flint, sem ambição alguma, inclusive a de não ter idéia da validade de sua invenção para tirar a humanidade da fome. Ele queria apenas fazer sua máquina funcionar, como se fosse o videogame que se joga e o resultado é o deleite de se alcançar pontos. O inventor, enfim, que Shelbourn queria para levar adiante seus planos políticos. Ao lado deles está a aprendiz de “foca” (repórter principiante), Sparks, que não tem a menor noção do que se passa, transmitindo o que vê sem buscar o conteúdo. Seu intento é conseguir entrevistar Flint, para torná-lo uma celebridade. Está completo o quadro moderno das “inocentes desambições” deste Milênio Iniciante.

Criação de Flint lhe dá muitos problemas

A cobertura do milagroso invento de Flint lhe cria mais problemas que o torna um criador consciente de seu poder transformador Todos veem nele uma maneira de resolver seus dilemas. Earl para satisfazer a fome de seu filho Cal (Bobb´e J. Thompson), o grandalhão Brent (Andy Samberg) uma maneira de se livrar das fraldas de bebê das quais é garotopropaganda e o pai a possibilidade de fracasso do filho, para voltar ao seu negócio de sardinha. Sem contar o já citado Shelbourn que vê sua gestão revigorada, a economia da ilha aquecida, as filas de turistas se multiplicarem incessantemente. Cada um deles, como se vê, tem motivos diferentes para lutar pela perenidade do invento de Flint, mantido em funcionamento graças ao improvisado laboratório montado por ele nos fundos de sua casa. É como se descobrissem uma mina de ouro e todos lutassem para tirar dele seu quinhão. 
Nenhum deles imagina que ele poderia, dado a seu sucesso em todo o mundo, saciar a fome de milhões de trabalhadores. A dupla Lord/Miller não os impulsiona para este dilema. Pelo contrário, envereda por outro caminho: o do consumo incessante de alimentos pelos habitantes da ilha, a ponto de não diferenciarem a necessidade natural, gerada pela fome, da gula e do desperdício. E, devido a isto, chegam ao perigoso hábito de consumir calorias em demasia. Earl ao implorar a Flint por comida para o filho, o exemplifica. O garoto começa por saciar a fome, depois come por ser atraído pelo hambúrguer, até querer engolir tudo ao seu redor. Vai crescendo, engordando, a ponto de quase explodir. O mesmo acontece ao seu redor. Comer para eles não representa mais a necessidade básica é uma ação de simples consumo, o girar da máquina que alimenta a economia pela qual tanto luta Shelborn. Transforma-se, assim, numa droga geradora de divisas, cujo controle é quase impossível.

Tá chovendo Hambúrguer - Imagem: Sonhos de uma garota.

Consumidores não dão conta de tanto alimento

Alguma semelhança com as sociedades centradas no consumo absoluto, etiquetado como consumismo, não é mera coincidência. Com o tempo, a tempestade de pratos variados, dentre eles, pizza, se torna constante. Habitantes de Boca Grande e os turistas já não dão conta da quantidade de iguarias que se abate sobre eles. Flint tem agora o dilema de sua vida: pôr termo a seu invento. E a trama leva-o a uma batalha no céu ao estilo “Guerra nas Estrelas”, pilotando uma máquina com Brent, Sparks e o macaquinho Manny (Benjamim Bratt). Há um combate entre ele e os que procuram manter o caos. Numa ironia entre a abundância, restrita ao consumo de poucos (os habitantes da ilha e os turistas), e a cruel realidade da fome de milhões, ele tem de deter a produção em massa de pratos sofisticados.
“Tá Chovendo Hambúrguer”, uma aparente brincadeira para a criançada que adora hambúrguer e outras iguarias como pizza, não deixa de ter suas sutilezas. Sem discutir a fome que grassa no planeta discute o caos que se estabelece quando a criação não tem objetivo. Assim como surgiu, o invento de Flint não deixa muitas consequências, salvo pelo fato de destacar que se vive numa época de consumo pelo consumo, em que tudo é produto, sem considerar as necessidades básicas do ser humano. Flint, embora conquiste Sparks, não tem mais sucesso que Shelbourn, largado num barco em pleno mar. De um modo ou outro, eles se equivalem: um por querer a invenção a qualquer custo, sem pensar em sua utilização (o velho dilema: ciência x capital), o outro por ver nela utilidade, mas apenas para seus interesses pessoais. 

Centro do filme são hamburguers e pizzas

 São personagens típicos de antigas epopéias em situações modernas. Flint não é o herói positivo que reverte uma situação desfavorável, pondo-se a serviço da justiça e da esperança. Sua luta não segue em linha reta, de fácil identificação. Cria, no entanto, uma empatia com o espectador-mirim devido ao tratamento distante que o pai lhe dedica, o desdém constante sofrido por parte dos que o acham um fracasso e os atropelos que seu invento lhe cria. Porém, como Flint, não se investe contra o vilão Shelbourn, cujas trapaças são comuns ao seu universo, porquanto notícias sobre falcatruas são frequentes em sua TV. Talvez se projete mais na atrapalhada mocinha Sam Sparks, de nome masculino, que morre de amores pelo anti-herói Flint e supere com ele os perigos criados pelo vilão Shelbourn. O centro da ação, porém, são o hamburger, a pizza e a torta gigante desejo de consumo da garotada mundo afora, aqui tão abundante que não provoca fome. 

Tá chovendo Hambúrguer - Imagem: Cinema Uol.

(Fonte: Cloves Geraldo - Jornalista e cineasta, dirigiu os documentários "TerraMãe", "O Mestre do Cidadão" e "Paulão, lider popular". Escreveu novelas infantis, "Os Grilos" e "Também os Galos não Cantam".)

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Toy Story 1 - Pixar.

Na produção do primeiro filme de Toy Story (Pixar - 1995) é possível enxergar várias situações que são um tanto que “naturais” em nosso cotidiano – o que, para deixar claro, não faz delas algo a ser observado com bons olhos, muito pelo contrário –.
Para analisarmos, comecemos por uma situação-exemplo básica, você provavelmente já deve ter visto ao ir a uma loja, alguma criança de “birra” exigindo um brinquedo (ou comida) ao pai ou mãe, usando uma metralhadora de argumentos pelos quais “merece” ou “precisa” ter esse ou aquele objeto... Quem tem filhos deve saber como é isso, quem não tem, vá a um supermercado – por exemplo – e espere a cena acontecer diante de seus olhos. O fato é, você sabe qual é um dos motivos que leva uma criança a uma atitude dessas? Por que existe desde pequeno a necessidade de se obter algo novo? É aí que chegamos a onde queremos chegar, nos filmes. Antes que qualquer um venha falar sobre esta “imposição” de colocar as animações como os vilões da história, já me adianto em dizer que não existe somente um vilão, e sim vários, que unidos moldam um ideal de sistema no qual existe essa necessidade de se obter bens materiais, divulgados principalmente, pela mídia. Como já citei, alguns filmes fazem parte disso, de forma que divulgam e espalham pelo mundo ideais capitalistas pregados em telas de cinema ou de televisões. Então por que não começar a criar aos poucos um senso crítico desde crianças? Afinal, é quando crianças que aprendemos boa parte das coisas que podemos carregar pelo resto de nossas vidas, como falar, certo? Sabemos é que isso se inicia quando ouvimos e codificamos o que nos é passado e após um tempo, aprendemos a falar. Então, obviamente, não é errado afirmar que crianças podem absorver sim algumas mensagens que são passadas em filmes.
Agora que entendemos um pouco sobre o assunto, vamos tentar responder às perguntas feitas no início do texto de forma a relacionar com o filme analisado. É importante citar que é necessário assistir ao vídeo que aparece no final do texto antes de ler os parágrafos seguintes, pois assim é possível contextualizar.    
No primeiro trecho separado, os brinquedos de Andy abrem a porta ansiosos por saber qual é o novo presente de aniversário de seu dono, porém, se surpreendem ao encontrarem Woody no chão, e não na cama, local onde geralmente fica por ser o “brinquedo favorito”. Logo, o Dinossauro se apronta em perguntar assustado “Você foi substituído?”, deixando clara a situação:“brinquedos novos sempre substituem brinquedos velhos”. 
No segundo trecho, quando os outros vão conhecer Buzz (presente de Andy), ficam impressionados com a tamanha tecnologia que ele carrega e o comparam com Woody, que faz coisas que o novo também faz, porém, utilizando de menos modernidade. Uma fala interessante a se citar é uma do Dinossauro, que ao explicar sobre o lugar de onde veio, afirma que sua origem é do Paraguai, mas não tem certeza se todas suas peças vieram do mesmo país, mostrando (em termos simples) a globalização. Mais adiante Buzz demonstra suas habilidades, surpreendendo os brinquedos antigos, que ficam admirados por ele saber voar, ter “lasers” e ser um “patrulheiro do espaço”. 
Toda essa situação foi gerada a partir de outra: em certa parte do filme (não citada no vídeo), aparece na TV um comercial do Patrulheiro, que expõe a situação de que este era primeiramente um desenho animado e após isto virou um brinquedo, neste trecho existe a relação comercial com o uso da televisão mais o consumo de brinquedos por crianças, ou seja, logo após o lançamento deste desenho, usa-se a criança como um objeto para venda de seu produto (no caso personagem) da animação lançada, sabendo que isso geraria lucros para a empresa que os fizesse. 
E é com isso que voltamos em nossa primeira situação, aquela, da criança na loja, se lembra? No filme, é clara a concepção de que o novo substitui o velho e que a mídia emprega um ideal de consumismo. 
Importante deixar claro que não há somente isso a ser analisado, ainda em Toy Story 1 podemos abordar sobre obesidade, redes de fast food, trabalho em grupo etc. Mas isso deixamos para outra postagem.
Veja abaixo trechos do filme que separamos:


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(obs: análise ainda sujeita a alterações)

Análise por: Náyade Dessiree.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

A censura nos quadrinhos.

Adesivo que comprovava a autenticidade do quadrinho, 
comprovando que este não continha cenas aceitáveis pela censura.

A censura nos quadrinhos.

Rotular histórias em quadrinhos como coisa de criança nos dias de hoje não afeta em nada o orgulho do leitor, pois ele sabe que isso pertence ao passado. No entanto, a falsa imagem negativa das HQs quase custou sua extinção nas décadas de 40 e 50 nos EUA, em pleno “reinado” de Harry Truman. A derrota dos nacionalistas na China e o início de testes nucleares na URSS propiciou o nascimento de uma psicose anticomunista que gerou consequências desastrosas, como a abertura de processos contra intelectuais esquerdistas (Alger Hiss) e estrangeiros suspeitos de espionagem (o casal Julius e Ethel Rosenberg).
Neste caos idealista, o senador Joseph McCarthy criou, em 23 de setembro de 1950, o Comitê contra as Atividades Antiamericanas: o período tristemente conhecido como “macartismo” (1950/1958). Essa caça às bruxas ocasionou denúncias e perseguições a todos aqueles considerados suspeitos de alguma coisa. Exatamente nessa era, surgiu o monstro que, até hoje, assola a liberdade de criação nos quadrinhos: o COMICS CODE (o Código de Ética).

A Era negra dos Quadrinhos

No início dos anos 50, as revistas em quadrinhos de horror, crime ou qualquer outro tipo, sofriam ataques de educadores, imprensa, grupos de pais, legisladores, igreja, polícia e psiquiatras. Segundo eles, os comics glorificavam violência, crime e sexo. O número de delinquência juvenil estava aumentando e suspeitavam de que as HQs eram, de alguma forma, responsáveis pelo rápido declínio moral da juventude.
O pós-guerra nos EUA deu início a um fanatismo em massa encoberto pelo ultranacionalismo ianque. Entre os muitos inimigos das revistas estava o Dr. Fredric Wertham, um psiquiatra de jovens problemáticos. Seus vários artigos publicados a partir de 1948 começavam a chamar atenção por mostrarem facetas das outrora inofensivas histórias em quadrinhos que ninguém tinha a malícia de enxergar.
Naquela épóca o oportunista Dr. Wertham soube utilizar muito bem a má fama das HQs para aumentar a aversão do público por ela e tornou-se o principal carrasco da oitava arte. Ele fez várias pressões, na tentativa de convencer o governo a assumir uma postura mais rígida contra o que chamava de “mutilação psicológica das crianças”.
Então, em 1954, Wertham desferiu o golpe de misericórida com a publicação do livro “Seduction of the Innocent” (Sedução do Inocente). Escrita de maneira bem simples e popular, a obra trazia, principalmente, anedotas de humor duvidoso mescladas com casos de jovens que, supostamente, haviam sido “afetados” pelas histórias em quadrinhos. De acordo com o autor, tais histórias induziam as crianças a cometerem roubo, estupro, uso de drogas ou, até mesmo, a mudar sues hábitos sexuais. Ainda hoje podemos notar reflexos das represálias moralistas através de Batman & Robin, cuja suspeita de homossexualismo era, e ainda é, flagrante segundo as más línguas. A Mulher Maravilha, por sua vez, foi apontada como um péssimo exemplo para as garotas, pois não passava de uma estandarte do lesbianismo.
 Subcomitês do Congresso foram criados para estudar com mais profundidade a existência do perigo iminente das revistas em quadrinhos. Era o começo da ERA NEGRA DOS QUADRINHOS.

A Vítima

O maior expoente da história do horror nos quadrinhos foi a EC COMICS (antiga EDUCATIONAL COMICS e, então, ENTERTAINMENT COMICS), de William Gaines, e, consequentemente, o grande alvo dos moralistas americanos.
Seu famoso “triunvirato do horror”, que estreou em maio de 1950, era composto por “The Crypt of Terror” (mais tarde rebatizada de “Tales from the Crypt”), “The Vault of Horror” e “The Haunt of Fear”. Em parceria com Al Feldstein, Gaines marcou época com histórias de terror realizadas por grandes artistas como Johnny Craig, Jack Davis, Graham Ingels, George Evans e Jack Kamen. Esse sucesso, porém, não gerou simpatia alguma no Comitê encarregado de julgar as revistas da EC.
Chamado para testemunhar em defesa de sua editora, Gaines não teve argumentos positivos contra a imposição da decência deturpada de seus inquisidores. Uma vez mais, a imprensa sensacionalista cumpriu seu papel e fez o desfavor de manipular a história e conduzir a opinião pública. Afinal, manchetes escandalosas chamavam muito mais atenção do que a verdade.
Para certo espanto dos que eram contra as histórias em quadrinhos, os Comitês abdicaram de sua atuação como tribunal alegando não ser função do Governo moralizar as revistas, pois isso já deveria estar embutido nas próprias editoras. De uma forma sutil, a censura foi sendo imposta como um requisito básico nas publicações do gênero. Nenhum cancelamento precisou ser formalizado. A desgraça já estava feita!

O Comics Code

Cego pelo macartismo, o público começou uma espécie de guerra santa contra as demoníacas HQs. Não bastava queimar apenas as revistas de terror… Praticamente todas as publicações passaram a ser perseguidas. As vendas despencaram. Era a crise editorial provocada por fanáticos no início da época denominada happy days (os tão famosos “dias felizes” ou “anos dourados” que antecederam o fim do sonho americano com a Guerra do Vietnã).
Em pânico, as editoras resolveram se unir e formaram a CMAA – “Comic Magazine Association of America” (Associação das Revistas em Quadrinhos da América), através da qual pretendiam estabelecer um “padrão de moral” para assegurar aos leitores uma revista de “qualidade”. A forma escolhida para diferenciar a “boa” da “má” publicação foi o uso de um selo discreto no canto (esquerdo ou direito) superior das revistas: o Comics Code. 
A demagogia era tamanha, que a CMAA enviou comunicados a jornais, associações comunitárias e outros órgãos envolvidos na moralização das HQs informando que todos os títulos com o selinho estampado em suas capas estariam livres de qualquer indução negativa às crianças. Resumindo, o Comics Code significava o seguinte: a partir de 23 de outubro de 1954 (a data fatídica!), os leitores deixariam de ser ameaçados por vampiros, lobisomens e zumbis e as palavras “terror” e “horror” não poderiam ser usadas em títulos. Consequentemente, a maioria das editoras cancelou suas publicações do gênero para não ter mais problemas com os Comitês ou outras ameaças censoras.
Apesar disso, a grande EC sofreu danos muito mais sérios. Mesmo se submentendo ao código de ética, ela não se livrou da má fama e teve suas revistas devolvidas por várias livrarias e lojas especializadas. O único título que sobreviveu a essa triste série de eventos foi Mad.
E o Comics Code continuava seu reinado repressor.

A Censura no Brasil

A censura se expandiu pelo mundo inteiro. E o Brasil não ficou de fora. Na década de 60, os quadrinhos publicados aqui passaram a ser “vigiados” por um código de ética. Eram 18 artigos que proibiam cenas de sexo, violência e ofensas à moral, ao Estado, aos pais, aos professores, aos deficientes físicos e às religiões. Esse “acordo” foi assinado por quatro empresas: Editora AbrilRio Gráfica e EditoraEditora Brasil-América e Empresa Gráfica O Cruzeiro.
Entretanto, o grande problema das editoras brasileiras era a autocensura. Talvez isso fosse (ou ainda seja) um reflexo do passado ditatorial do país, mas o certo é que, muitas vezes, as pessoas envolvidas na publicação das revistas acabavam esbarrando nos limites impostos por si próprias. Em consequência disso, várias obras ficaram literalmente mutiladas.
O último movimento brasileiro contra os quadrinhos aconteceu em julho do ano passado, com o lançamento da revista Dundum. A publicação foi parcialmente subsidiada pela Prefeitura de Porto Alegre (RS). Por esse motivo, principalmente, a Dundum sofreu acusações de pornografia, pelo vereador João Dib (PDS); de ser contra deficientes físicos, pelo candidato a governador Alceu Colares (PDT); e, devido a uma história, sofreu uma ação jurídica da Associação dos Cabos e Soldados da Polícia Militar. Resultado do escândalo: todos os exemplares se esgotaram, mas o segundo número da revista só saiu praticamente um ano depois. Dessa vez, sem nenhum apoio governamental.

A Fuga da Censura

Devido à vigilância do Comics Code, os artistas foram obrigados a descobrir novos meios de publicar seus trabalhos, sem cortes. Começaram a surgir, então, as editoras independentes, que não se sujeitavam à aprovação do código de ética. As revistas circulavam com a inscrição suggested for mature readers (aconselhável para leitores adultos). A idéia deu certo e agradou os leitores.
Essa fatia do mercado cresceu muito e não tardou para as grandes editoras “acordarem”. Stan Lee criou a EPIC, uma divisão adulta da MARVEL, onde seriam publicadas histórias abordando assuntos que não sairiam nas revistas tradicionais. Nessa trilha apareceram os chamados “quadrinhos de autor”, qualificação muito na moda atualmente e uma maneira eficaz de burlar o crivo da censura. Contudo, houve quem preferisse a “legalidade”. A NOW COMICS surgiu como independente e vinha razoavelmente bem, até seu editor, Tony Caputo, decidir, em 1988, submeter suas publicações ao código de ética. Todas foram aprovadas, mas a partir daí suas vendas despencaram e a empresa faliu pouco tempo depois.
Vários autores conseguiram “driblar” o Comics Code, mas não se pode dizer o mesmo quanto à censura em suas próprias editoras. Recentemente, aconteceram diversos casos na DC COMICS, como a saída de Rick Veitch da revista “Swamp Thing” (Monstro do Pântano), devido a um veto a uma história onde o personagem contracenava com Jesus Cristo. Em Asilo Arkham, Grant Morrison não pôde ver realizada sua insana idéia de assistir ao Coringa, vestido como a cantora Madonna, insinuando um provável relacionamento homossexual entre Batman e Robin. O Palhaço do Crime teve que se contentar com uma “passadinha de mão” nas nádegas do morcegão. Na minissérie Gilgamesh II, Jim Starlin foi proibido de levar adiante seu roteiro, no qual os dois irmãos demonstravam uma certa atração sexual entre si. Depois disso, Starlin retornou à MARVEL. A voluptuosa Druuna, de Paolo Eleuteri Serpieri, também não escapou. Na saga “Creatura”, a revista italiana “L’Eternauta” simplesmente retocou as “partes íntimas” da musa e de seu parceiro numa cena pra lá de sensual. O genial Moebius tem sete números publicados numa coleção com seu nome pela EPIC. Entretanto, a edição número zero saiu depois, e pela DARK HORSE. Isso porque a história, chamada “Le Bandard Fou”, apresenta um homem que fica, constantemente, com o pênis ereto. Outro bom exemplo é a porno-minissérie Black Kiss (lançada no Brasil pela TOVIASSÚ), de Howard Chaykin. Nenhuma grande editora americana quis publicá-la por causa de seu forte apelo erótico. A saída para Chaykin foi o aeroporto. A VORTEX, do Canadá, topou a parada e vendeu milhares de revistas.
Um contraponto interessante sobre a censura nas HQs aconteceu na França. O livro “Images Interdites”, de Yves Premion e Bernard Joubert, saiu pela SYROS ALTERNATIVES e o grande destaque eram várias cenas de histórias em quadrinhos não publicadas graças à intervenção da “tesoura”.

Caem os Tabus

Com o passar dos anos e usando de certas “manhas”, os principais tabus impostos pelo código de ética foram caindo e se incorporando às HQs. Vários casos de homossexualismo pintaram nas páginas. Na minissérie Slash, uma guerreira fica desapontada ao descobrir que seu pretendido preferia passar a noite com outro rebelde. Estrela Polar, da Tropa Alfa, sempre escondeu de seus parceiros suas preferências sexuais até contrair o vírus da AIDS. Na série “The New Statesman”, da FLEETWAY QUALITY, dois heróis mantêm um caso. A revista Dundum apresentou aos leitores Rocky e Hudson, dois cowboys gays, criados por Adão Iturrusgarai. Extraño, um dos humanos escolhidos para ganhar superpoderes, na série Milênio, era homossexual. E, na revista 2000 AD, Zenith, de Grant Morrison, levou uma “cantada” de Meta-Maid, uma heroína coadjuvante que na verdade era um travesti.
Os romances entre mulheres sempre foram mais frequentes. Valentina, de Guido Crepax e Liz e Beth, de George Levis, apesar de se relacionarem bem com os homens, às vezes, optam por carícias femininas. Hopey e Maggie (Love & Rockets), dos irmãos Hernandez, também são adeptas dessa conduta. Em Sommerset Holmes (lançada no Brasil pela ABRIL JOVEM), a personagem-título se envolve com outra garota enquanto tentava recuperar a memória. E uma passagem clássica aconteceu em Camelot 3000, onde, por uma brincadeira do destino, Lorde Tristão reencarna num corpo feminino, mas isso não impede a consumação de seu amor com Isolda.
As drogas também deixaram de ser temas probidos nos quadrinhos atuais. Em Akira, Kaneda e sua gangue são ávidos consumidores de cápsulas alucinógenas. Ricardito, pupilo do Arqueiro Verde, já foi um viciado. E num dos capítulos da saga “Born Again”, escrita por Frank Miller e desenhada por David Mazzuchelli, Karen Page, a ex-namorada do Demolidor, aparece com uma seringa na mão, após prostituir-se. Aliás, essa edição, curiosamente, saiu sem o selo de aprovação do Comics Code.
Quanto à violência, então, as citações são inúmeras. Quem não se recorda das edições 6 e 13 de SANDMAN, verdadeiras carnificinas numa lanchonete e numa convenção, respectivamente? Ranxereox, de Liberatore, não hesita em estraçalhar os crânios alheios. Em Watchmen, de Alan Moore, o Comediante comete dois estupros, enquanto Rorschach elimina seus inimigos exibindo técnicas de torturas impressionantes. Moore voltou à carga em Piada Mortal, quando o Coringa violentou e aleijou Barbara Gordon, a Bat-Moça. Em “Squeak, The Mouse”, de Massimo Mattiolli, sexo e sangue são elementos primordiais. Wolverine e Lobo também não ficam atrás quando o assunto é matar, esmagar, trucidar ou destruir.
Muitos casos de censura obtiveram grande repercussão. Ente eles podemos citar Black Kiss, que teve edições recolhidas em diversos lugares. O mesmo aconteceu com “Score”, da PIRANHA PRESS (uma divisão da DC), tachada como “extremamente violenta”. O próprio Mestre dos Sonhos foi alvo de pesadas acusações quando da morte do leitor Michael J. Housenecht. O motivo: perto do corpo havia um exemplar da revista (nr. 19) e um bilhete assinado The Sandman. Além disso, em alguns países, instituições moralistas ainda tentaram repetir as famigeradas queimas de publicações de quadrinhos.
Em 1989, houve uma nova investida contra as HQs. Sob a liderança de Thomas Radecki, a National Coalition on Television Violence (Coalisão Nacional sobre a Violência na Televisão) ganhou espaço em toda a imprensa através de matérias exigindo um controle rigoroso sobre as publicações. Entre as explanações de Radecki “brilhavam” acusações de violência ao Mickey Mouse e de “impróprio para crianças” à Alice no País das Maravilhas.
Por enquanto, os quadrinhos estão vencendo essa batalha. Apesar dos ataques constantes e (na maioria das vezes) absurdos da censura, as editoras têm conseguido contornar todas as adversidades e, assim, publicar seus trabalhos, de uma maneira ou de outra. A esperança, mesmo longínqua, é de que, algum dia, o bom senso prevaleça e sobrepuje esse falso moralismo, determinando o fim da censura. De uma vez por todas.

O Código de Ética

O Comics Code é composto por 42 artigos, divididos em questões editoriais e publicitárias. Conheça alguns deles.
   - Crimes jamais serão apresentados de forma a criar simpatia pelo criminoso, promover descrença nas forças da lei e justiça, ou inspirar o desejo de imitar criminosos.
   - A palavra “crime” não deverá aparecer proporcionalmente maior do que outras contidas no título e nem ser exibida isoladamente na capa de uma revista em quadrinhos.
   - Nenhuma revista em quadrinhos usará as palavras “horror” e “terror” em seus títulos.
   - Cenas que apresentem tortura, canibalismo, vampiros, lobisomens, mortos-vivos, ou instrumentos associados a eles são proibidas.
   - Profanações, obscenidades, conversas indecentes, vulgaridades ou palavras e símbolos que tenham adquirido significados indesejados são proibidos nos diálogos.
   - A nudez, em qualquer forma, é proibida, assim como a exposição indecente ou imprópria.
   - Personagens femininas deverão ser desenhadas de forma realista, sem exageros de quaisquer qualidades físicas.
   - Divórcio não deverá ser tratado humoristicamente, nem representado como desejável.
   - O tratamento de histórias de amor/romance deverão enfatizar o valor do lar e a inviolabilidade do casamento.
   - Sedução e estupro não deverão ser mostrados nem sugeridos.
   - Propagandas de bebidas alcoólicas e cigarros são inaceitáveis.
   - Propagandas de livros de sexo ou instrução sexual são inaceitáveis.

(Fonte: Sidney Gusman é jornalista especializado em quadrinhos e editor-chefe do site Universo HQ - http://www.universohq.com). Artigo publicado no exemplar nº 24 da Revista Sandman, pela editora Globo em 1991.